Bizarro e desconcertante

O novo álbum dos Foxygen está demasiado cheio de ideias por desenvolver

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Durante algum tempo pareceu que …And Star Power, o terceiro álbum dos Foxygen, nunca chegaria a existir. Após a edição do celebrado We Are The 21st Century Embassadors of Peace & Magic, o duo Sam France e Jonathan Rado iniciou, aparentemente, um rápido processo de desagregação (em directo, ainda por cima). O ambiente entre os dois não era o melhor (já não se suportavam, lia-se aqui e ali), havia relatos (e vídeos) de concertos terminados abruptamente e os Foxygen, reconstrutores da pop e do rock de 1960 e 1970 em modo corte-e-cola, pareciam estar a desaparecer pouco depois de se terem apresentado. Porém, contrariamente ao que parecia inevitável, persistiram. E temos …And Star Power como prova. E que prova: o terceiro álbum da banda californiana divide-se por dois discos e 24 canções e conta com colaborações de Tim Presley, dos White Fence, Kevin Barnes, dos Of Montreal, ou Steven Drozd, dos Flaming Lips. Um épico, portanto. Um épico bizarro e desconcertante, adjectivemos.

Se não soubéssemos do que se trata, os 82 minutos de …And Star Power poderiam passar por uma daquelas edições de raridades que bandas de longa idade, já inactivas, põem no mercado de tempos a tempos para provir a falta de novo material. Ouve-se uma Cosmic vibrations que tem aspecto de banda-sonora sci-fi de baixo orçamento antes de ser possuída pelo espírito desse trovador louco e genial chamado Skip Spence, nas proximidades da pop impoluta dos Kinks (os Foxygen continuam adeptos da arte da colagem e sabem como fazê-lo). Ouvimos What are we good for e deliciamo-nos com aquela explosão sónica de metais, pianada e guitarra a meio do caminho. Achamos piada à fusão de um coração generoso vindo da folk (está lá o som da guitarra acústica) com uma alma perversa conhecida dos Velvet Underground (666, cantam eles entre um som sujo e o ritmo minimal da bateria). Ou seja, os Foxygen, que fazem da citação a sua inspiração primeira (e, quando inspirados, como no álbum anterior, essa faúlha resulta em chama vistosa), sabem fazer canções de corpo inteiro. Estranhamente, tendo-as em número à justa para um álbum simples, decidiram que melhor mesmo seria editar um disco duplo, dividido em secções temáticas (The Hits ou The Paranoid Side), com suiteincluída e tudo (a Star power suite).

O resultado é curioso. À primeira audição, avançamos canção a canção, curiosos sobre o que virá a seguir. Library music em ácidos? Está cá. Uma mal-amanhada homenagem aos Suicide? Também a encontramos. À segunda audição, sem o efeito surpresa, …And Star Power começa porém a revelar-se como é realmente. Uma frustrante colecção de esquissos e de ideias por desenvolver, polvilhados de algumas canções verdadeiramente canções e de um par de experiências de estúdio interessantes (ver Library music em ácidos).

À superfície, parece um belo manifesto de liberdade criativa. Visto de perto, está demasiado próximo de um exercício inconsequente, com demasiadas ideias por desenvolver atiradas para o alinhamento. Chama-se Foxygen …And Star Power, mas ninguém estranharia se na capa lêssemos Foxygen — The Outtakes.

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