Morreu o pianista de jazz John Taylor

O importante músico e compositor sofreu um ataque cardíaco ao piano enquanto actuava em França. Co-fundador do Azimuth trio, tocou com Norma Winstone, Kenny Wheeler ou com os Soft Machine e Charlie Haden.

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John Taylor no Porto, em 2002 Paulo Pimenta

John Taylor, de 72 anos, estava em palco a tocar no Saveurs Jazz Festival, na cidade francesa de Segré, quando sofreu um ataque cardíaco. Morreu sábado em França um autodidacta a quem já chamaram “o gentleman do jazz” e cuja carreira se aprimorou com o trio Azimuth, do qual foi co-fundador e onde ganhou espaço para compor.

Este membro distinto da geração do jazz britânico do final da década de 1960 “tornou-se um soberbo compositor para improvisadores”, escreve o crítico de jazz John Fordham no Guardian, emparelhando o agora desaparecido músico John Surman, Alan Skidmore, Mike Westbrook, Mike Gibbs ou a vocalista Norma Winstone. Segundo a revista All About Jazz, Taylor era um dos mais importantes pianistas dos últimos 40 anos. 

Na noite de sexta-feira, tombou sobre o teclado quando começava o seu dueto com o contrabaixista Stéphane Kerecki – encetavam a interpretação da banda-sonora de Alphaville, de Jean-Luc Godard e Taylor terá colapsado, para choque e consternação do público e dos técnicos e músicos que o acompanhavam. A audiência deixou a sala enquanto o pianista era assistido já fora do palco, relata o diário francês Le Monde. As equipas de emergência terão conseguido reanimar John Taylor, que no entanto viria a morrer no hospital de Angers já no sábado.

A sua morte foi confirmada pela sua mulher, Carol, que segundo a AFP incentivou o festival a continuar – “A sua família disse-nos que a música ocupava um lugar essencial na sua vida e que os concertos que estão a decorrer no Saveurs Jazz Festival são em si o melhor tributo que lhe poderia ser prestado”, informou por seu turno a organização.

Nascido em 1942 em Manchester, aprendeu quase sozinho (ouvia o piano de Oscar Peterson ou Bill Evans quando criança) a tocar piano e é unanimemente descrito como um homem discreto, modesto e mesmo auto-depreciativo. O ano de 1969 é aquele que é apresentado como um dos marcos evidentes da música de Taylor –  surgem os primeiros registos da sua música, integrando álbuns dos saxofonistas Alan Skidmore e John Suman. O seu primeiro álbum em nome próprio, Pause, and think again, de 1971, conta por seu turno com o baterista Tony Levin e o baixista Chris Laurence. Ao longo da sua carreira, trabalhou com o trompetista canadiano Kenny Wheeler (participa também em Pause, and think again), com o compositor e saxofonista americano Lee Konitz ou com o clarinetista John Ruocco, entre muitos outros.

Wheeler seria um grande amigo ao longo da vida e um dos membros do Azimuth, que fundaram em 1977 com Norma Winstone. Taylor e Wheeler apresentaram-se em Portugal em Novembro de 2002, no Festival de Jazz do Porto no âmbito de um concerto do Kenny Wheeler Trio. A sua estreia em Portugal terá acontecido, segundo disse ao PÚBLICO o histórico divulgador do jazz em Portugal José Duarte, em 2001 no seu programa na RTP2, Jazz a Preto e Branco, no qual se apresentou com a cantora Norma Winstone. Taylor foi também professor do compositor e pianista de jazz e música contemporânea António Pinho Vargas, acrescenta José Duarte.

Os anos 1980, destaca o Le Monde, foram a década de grande popularidade de Taylor, compondo proficuamente (tem mais de 80 álbuns), participando em vários discos com o Azimuth e com outros intérpretes europeus. Foi logo em 1981 que participou no último álbum dos Soft Machine, Land of Cockayne, ao piano eléctrico.

A década seguinte e a meia-idade do músico, como assinala Fordham, serviram para alargar ainda mais o âmbito do seu trabalho, com encomendas para coros e orquestras e o ensino tanto em Inglaterra (Universidade de York) quanto na Alemanha (Conservatório de Colónia). Gravou inúmeras vezes para a conceituada editora ECM Records e gravou dois dos seus mais bem recebidos álbuns, Angel of the presence (2006) e Whirlpool (2007) nos últimos anos com nomes como Charlie Haden e os correligionários Palle Danielsson (baixista sueco) e Martin France (baterista). Esse trio com France e Danielsson esteve em Portugal para concertos em Março de 2008 (Braga Jazz) e de 2009 (em Lisboa e Viseu).

Um álbum ficou por editar e deve sair em Agosto – Duets, com John Taylor e o seu antigo pupilo Richard Fairhurst.

A nota final do seu obituário passa, para os especialistas, pelo seu 70.º aniversário. Em 2012, a BBC Radio 3 encomendou uma obra a John Taylor e que incluía uma suite inspirada num conto do seu ídolo – e sósia, como nota John Fordham - Kurt Vonnegut.
 

 

Notícia actualizada a 6 de Agosto: acrescenta declarações de José Duarte e informação sobre vinda de Taylor e Norma Winstone a Portugal em 2001

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