Frente ao Farense, o Benfica “comprou” descanso com futebol

No oitavo mês da temporada, com muito desgaste acumulado, não é de desdenhar a hipótese de ter 45 minutos de descanso. Para isso, bastou ao Benfica ser, na primeira parte, o que tem sido poucas vezes.

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Farense e Benfica em duelo no Algarve Pedro Nunes / REUTERS
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“Jogarás bem no início e descansarás depois”. Se no futebol existissem mandamentos, este poderia ser um deles, sobretudo para equipas fortes a defrontar adversários mais frágeis. Nesta segunda-feira, no 3-1 conseguido em Faro, o Benfica, ao contrário de noutras ocasiões, decidiu que ia jogar de forma competente, dinâmica e intensa no início do jogo frente ao Farense. Depois, poderia descansar. E pôde.

O triunfo foi construído com uma grande primeira parte, enquanto havia energia, evitando ter de chegar ao golo numa fase menos fulgurante a nível físico, dependendo de engenho na parte final do jogo. No fundo, o Benfica "comprou" descanso com bom futebol e isso, no oitavo mês da temporada, não é de desdenhar.

Se tivesse sido sempre assim – na energia, na dinâmica e na inspiração –, talvez a temporada “encarnada” não estivesse perto de ser um redondo fracasso.

Sem Neves e Aursnes

Em Faro, o Benfica conseguiu superiorizar-se não apenas por questões tácticas ou estratégicas, mas sobretudo pela dinâmica. O que se viu no Algarve – e que se tem visto pouco – foi uma predisposição tremenda para movimentações permanentes. E, até prova em contrário, a melhor forma de desmontar uma defesa densa como a do Farense (equipa da I Liga que mais tempo passa no seu terço do campo e que mais cruzamento permite) é tirar referências de marcação e obrigar os adversários a correrem, mais do que defenderem “de cadeirinha”.

É curioso que uma dinâmica deste tipo tenha surgido no dia em que jogadores como Neves e Aursnes, dos mais dinâmicos da equipa, tiveram direito a descanso do “onze”, deixando a equipa com atletas teoricamente menos dinâmicos como João Mário, Kokçu e Carreras.

Mas o facto é que Carreras apareceu por fora e por dentro, Bah teve muita velocidade em incursões sem bola (também alternando por dentro e por fora), Di María apareceu tanto em largura como entre linhas, Kokçu foi terceiro médio, mas também apareceu a par de Arthur Cabral, e o avançado deu-se muito ao jogo em apoios frontais e arrastou marcações.

Quando tanta gente joga desta forma, arrastando marcações e surgindo em locais inesperados, não há defesa que resista – sobretudo quando, depois, os executantes são de alto nível.

Talys e Marco Matias, responsáveis pela ala esquerda do Farense, foram apanhados em permanentes engodos provocados pela mobilidade do Benfica. E a receita, não sendo complexa, era difícil de contrariar. Di María encostava-se a Talys e ia pedir bola no pé, levando-o consigo nas costas. Quando isto acontecia, Cabral aproximava-se em apoio e Bah surgia em velocidade vindo de trás. Caso Marco Matias acompanhasse Bah, a bola ia para dentro. Caso Matias se atrasasse, Bah era solicitado.

O desenho repetiu-se vezes sem conta, umas com sucesso, outras não. Uma das de sucesso foi aos 16’, com Bah a cruzar para a finalização de Kokçu, e a outra aos 36’, com o lateral a cruzar para o calcanhar de Cabral. Dois golos muito parecidos, além de mais um par de jogadas iguais, mesmo que mal definidas.

Carreras deu o descanso

Entre uma coisa e outra houve golo do Farense, de Belloumi, num remate forte após um canto, mas os “encarnados” estavam a fazer mais do que suficiente para uma boa vantagem, com várias oportunidades de golo.

Na segunda parte, o Benfica apareceu com uma postura menos intensa, fazendo longas trocas de bola na zona defensiva – a ideia seria atrair o Farense, que teria de fazer algo pelo resultado, e explorar, depois, o espaço que inevitavelmente se criaria entre linhas.

E o jogo, que já estava pachorrento, mais ficou depois do 3-1 marcado por Carreras, numa boa finalização de pé direito, depois de recepção e finta do lado esquerdo. Depois disso, pouco há a contar da segunda parte. Houve alguns remates, algumas faltas, algumas substituições, algumas lesões e, em geral, muita apatia. Os jogadores do Benfica iam tentando divertir-se com bola e prolongar as posses o mais possível.

Já o Farense pouco tinha para oferecer a nível ofensivo e o Benfica, que nada tinha de fazer nesse domínio, entrou na “onda”. Para os “encarnados”, foram 45 minutos de bom futebol e 45 de descanso.

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