PSG a ganhar a Champions já não é uma promessa escrita no gelo

A equipa francesa esmagou o Inter na final, conquistou a primeira Liga dos Campeões e mostrou que, afinal, o dinheiro pode trazer felicidade – e o El Dorado árabe encontrou finalmente o brilho certo.

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Jogadores do PSG celebram em Munique Annegret Hilse / REUTERS
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Muitos milhões de euros depois, o PSG mostrou que, afinal, o dinheiro traz felicidade. A equipa francesa conquistou neste sábado a Liga dos Campeões pela primeira vez na sua história, com um triunfo claro (5-0) frente ao Inter de Milão, que teve uma noite de suplício permanente e ainda acabou a ouvir "olés" enquanto jogava à "rabia". Este desfecho dá finalmente algum brilho ao El Dorado árabe, que até esta noite tinha injectado dinheiro e sonhos, mas não tinha injectado brilho.

Todos os anos se escreve que o PSG tem tudo para vencer a Liga dos Campeões. E todos os anos isso parecia ser escrito no gelo. Mais tarde ou mais cedo, quando começávamos a chegar ao calor de Maio, esse gelo derretia e a promessa perdia validade – umas vezes nos “oitavos”, outras nos “quartos”, outras nas “meias” e outras na final. Fosse quando fosse, iria acontecer. Mas já não é assim.

A Liga dos Campeões vai, finalmente, para o museu do PSG e o triunfo frente ao Inter, em Munique, dá finalmente algum nexo ao projecto árabe que fez deste clube uma potência europeia – pelo menos no plano das intenções.

Vitinha esteve em grande plano, com influência clara nos golos, bem como Dembélé, mas o homem da noite foi o craque Doué (já falado neste artigo), com dois golos e uma assistência. E o PSG dominou todo o jogo frente a um Inter impotente.

Referências individuais

Inter e PSG levaram a este jogo os sistemas habituais e, apesar de não serem desenhos tácticos simétricos, eram complementares – o que significa que, não sendo os mesmos sistemas, eram passíveis de facilitar referências de marcação óbvias (dois avançados do Inter para dois centrais, três médios contra três médios e três atacantes do PSG contra três centrais, com alas e laterais encaixados).

O Inter foi seduzido, nessa medida, a controlar as marcações com referências individuais, mas o problema é que o PSG tem demasiada dinâmica posicional, com constantes trocas algo já explicado aqui.

Dumfries, o ala/lateral do Inter, tinha o encaixe mais natural em Nuno Mendes. Mas e se Mendes não subisse e estivesse como terceiro central? Foi isso que aconteceu aos 12’ no golo do PSG.

Mendes estava muito baixo e Kvaratskhelia (doravante designado Kvara) estava aberto na ala e Dumfries, com o chip mental em Mendes, esqueceu-se de que o “seu” jogador naquele momento seria o georgiano, até porque o responsável por esse jogador era Pavard, que por sua vez tinha de estar atento ao movimento de Ruiz.

Mendes, Ruiz e Kvara fizeram, portanto, permutas posicionais que baralharam todas as marcações e deixaram Dumfries e Pavard a discutirem. O resultado foi uma bola aérea de Vitinha, desequilíbrio de Kvara em condução e nova bola de Vitinha, já com marcações baralhadas, desta vez pelo chão para Doué – assistiu Hakimi que encostou facilmente no meio da área.

O mapa de posicionamento médio dos jogadores mostrava uma organização individual bem vincada da parte do Inter. Mas as constantes trocas posicionais envolviam Ruiz, Vitinha, Mendes, Dembélé, Doué e Kvara – iam rodando entre todos e o Inter, mais preparado para controlo individual do que zonal, foi tendo dificuldades até assumir de forma clara o controlo do espaço. A partir de meio da primeira parte nunca mais se viu, por exemplo, Dumfries focado em Mendes, dando o português “de borla” na saída curta do PSG. Talvez por correcção de Inzaghi.

Aos 20’ houve 2-0 num momento de lançamento lateral em modo canto. Com o Inter subido houve perda de bola, sete jogadores batidos imediatamente e transição rápida de Dembélé e finalização de Doué com desvio em Dimarco.

Jogo directo

Do lado italiano o jogo era simples: saída curta, PSG a pressionar bem alto e bola longa em Thuram. Foi assim aos 9’, aos 24’ e aos 27’ – e só nesta última o francês conseguiu receber de costas e distribuir, aproveitando o dois contra dois que o PSG cedia atrás por pressionar tão alto.

Aos 37’ o Inter criou perigo porque atraiu Mendes a Dumfries e o neerlandês passou a bola de primeira – a melhor forma de saltar uma pressão alta é não ter a bola muito tempo e os italianos demoraram 37 minutos a perceberem isso. O lance deu perigo porque Dumfries fez a bola chegar a Lautaro e Thuram, que só tinham Pacho e Marquinhos por perto.

A segunda parte foi futebolisticamente menos rica, com o Inter a levar o jogo para o plano físico – muito contacto, muitas faltas e muitas paragens.

O PSG “matou” o jogo aos 64’, em novo lance de contra-ataque. O Inter estava balanceado na pressão alta com desespero e deixou muito espaço entre linhas para Vitinha e Dembélé – o francês deu um toque de calcanhar que “matou” dois adversários e o português correu com a bola até servir Doué de forma perfeita.

Lance semelhante deu o 4-0 a Kvara, com o Inter a arriscar a pressão alta e a deixá-lo correr campo fora – mais uma boa participação de Dembélé –, e também o 5-0, em mais um lance de desnorte total finalizado por Mayulu.

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