“Robel, a baleia” conquistou o Rio de Janeiro mas não os seus compatriotas

O roliço filho do presidente da federação de natação da Etiópia ficou em último lugar nas eliminatórias dos 100m livres e fez lembrar Eric Moussambani.

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Robel Habte a instantes de iniciar a sua prova olímpica DR

Braços e ombros tonificados, abdominais definidos, pernas musculadas e firmes. Esta era a imagem de marca de um nadador olímpico, antes do etíope Robel Habte ter abalado profundamente o estereótipo nas primeiras eliminatórias da prova de 100m livres dos Jogos do Rio de Janeiro, na última terça-feira. Quando surgiu no Estádio Aquático tornou-se claro porque foi apelidado no seu país como “Robel, a baleia”. Um título pouco abonatório para um atleta roliço, que é acusado no seu país de favorecimento para estar no Brasil, por ser o filho do presidente da federação etíope de natação. O resultado do seu desempenho foi também esclarecedor: com um tempo de 1m04,95s, ficou bem longe dos 48,58s necessários para passar à fase seguinte. Uma marca, mesmo assim, bem melhor do que a obtida pelo famoso Eric “a enguia” Moussambani, da Guiné Equatorial, há 16 anos, nos Jogos de Sydney, que ainda figura hoje como a pior da história: 1m52,72s.

A diferença entre estes dois nadadores africanos é que Moussambani foi à competição disputada na Austrália, em 2000, com apenas quatro meses de experiência em natação, sem nunca ter disputado uma única competição. A sua garra e determinação acabaram por conquistar o público, transformando-o num herói olímpico improvável e levando à euforia o seu país. Já o pitoresco Robel, de 24 anos, também mereceu o apoio dos adeptos no Rio de Janeiro, mas não a consideração dos seus compatriotas.

Convidado para participar nos Jogos de 2016 graças às quotas criadas pelo Comité Olímpico Internacional (COI) para estimular a prática da modalidade nos países periféricos, Habte foi o porta-estandarte da delegação olímpica da Etiópia, composta por 36 atletas (em que apenas três participam em modalidades que não o atletismo), mas chegou ao dia da prova visivelmente fora de forma.

Ganhou o bilhete para o Rio de Janeiro graças à lesão do seu adversário nacional Dawit Mengistu, mas a escolha ficou envolta em polémica, devido ao parentesco com o líder federativo, Kiros Habte. Não conseguiu sequer superar o seu melhor tempo pessoal (1m02,57s), acabando classificado no último lugar das eliminatórias, com a 59.ª posição. No final, explicou o paupérrimo resultado com a pressão competitiva.

“Estive nervoso antes da prova, mas só o facto de estar no Rio é uma vitória para mim e para o meu país. Vivemos um momento difícil e espero que isto seja recebido como mensagem de paz”, resumiu, procurando conter as lágrimas depois de sair da piscina. A sua emoção não comoveu muitos compatriotas. “[Robel] É o símbolo do racismo, favoritismo e incompetência contra a qual estamos a lutar”, comentou na sua conta na rede social Twitter Lina Judge, uma etíope residente na capital Addis Abeba, entre muitos outro comentários negativos. Nesta mesma semana, protestos anti-governamentais foram violentamente reprimidos no país, causando, pelo menos, 90 mortos.

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