“Votei Pinto da Costa, mas o meu presidente é Villas-Boas”. O FC Porto no pós-eleições

Sócios portistas não estão surpreendidos com a vitória de André Villas-Boas – mas sim com a dimensão. Apoio a Super Dragões terá penalizado Pinto da Costa, que reuniu apenas 19,5% dos votos.

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André Villas-Boas tira uma selfie com um dos muitos adeptos que o felicitaram após a vitória nas eleições da véspera Pedro Nunes / REUTERS
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— Votei Villas-Boas. Acho que o FC Porto precisa de uma mudança.
— Mas mudança de quê? Deixares de teres taças no museu?
— Vais ter taças na mesma. Dá tempo ao tempo.

José Lourenço e Hugo, tio e sobrinho, votaram em lados diferentes nas eleições do FC Porto deste sábado. Passaram ainda menos de 24 horas desde que os resultados foram conhecidos e o sentimento está à flor da pele. O primeiro, um homem de 54 anos, escolheu Pinto da Costa. O jovem de 24 preferiu André Villas-Boas. Ainda assim, José já reconhece Villas-Boas como presidente. Os sócios falaram alto e bom som – pedindo uma renovação. E esse apoio esmagador é suficiente para este sócio.

“Votei em Pinto da Costa, mas Villas-Boas é o meu presidente. Não cuspo no prato em que se comeu, nem critico em quem votou no outro candidato – que, a partir de agora, como já disse, é o presidente de todos os portistas”, explica José. Ao lado, Hugo procura assegurar ao tio de que a eleição de Villas-Boas foi a decisão correcta e que o antigo dirigente permanecerá um símbolo do clube: “Nos últimos anos, Pinto da Costa não tem cumprido bem o papel de presidente. Vai ser sempre o presidente dos presidentes. Mas tudo chega a um fim.”

O reinado de 42 anos de Pinto da Costa ainda não chegou oficialmente ao fim, mas o recorde do dirigente tem já um ponto final à vista. André Villas-Boas foi o grande vencedor das eleições deste sábado, recolhendo 80,3% da votação (21.489 votos), enquanto o actual presidente conseguiu apenas 19,5% (5224). Foi uma votação histórica, com mais de 26 mil votos, que permitiram quase triplicar o anterior recorde de 10.731 sócios do acto eleitoral de 1988.

A vitória de André Villas-Boas não foi surpresa para a maioria, mas a dimensão do triunfo não deixou de espantar alguns sócios. Um dele foi José Carvalho, sócio dos “dragões” há 49 anos. O portuense lembra-se dos célebres 19 anos que o FC Porto passou sem conquistar o título nacional, uma “seca” que, nos tempos de Pinto da Costa, seria impensável. José viu a transformação de um clube de tamanho regional para uma potência do futebol europeu e mundial às mãos do candidato derrotado. Ainda assim votou Villas-Boas, considerando que a gratidão passada não pode condicionar o futuro.

“A altura de Pinto da Costa já tinha acabado. Já esperava uma vitória, mas nunca por esta margem. Já se falava que o Villas-Boas ia ganhar. Quero que o FC Porto melhore nas questões financeiras, o clube está na bancarrota. Pouca gente empresta dinheiro ao clube neste estado”, explica.

“Super Dragões custaram votos”

Caminhando a passo rápido, José dirige-se atempadamente para o portão que dá acesso à bancada onde tem o lugar anual. No antigo Estádio das Antas não falhava um jogo. Agora, com mais uns anos em cima, vem quando pode. Fez questão de se deslocar ao Dragão na manhã de sábado para votar nas eleições. Na hora de enumerar o que fez Pinto da Costa perder votos, o associado responde instantaneamente.

“A principal claque do FC Porto sempre foi incomodativa para um adepto normal do clube. Sabíamos que eles estavam a enriquecer à nossa custa. Nos jogos fora, éramos obrigados a comprar à claque porque eles ficavam com os bilhetes todos. Num jogo como este [contra o Sporting], quantos milhares é que lucravam?”

Os Super Dragões são, muito possivelmente, a última falange de apoio visível a Jorge Nuno Pinto da Costa. No momento em que o dirigente abandonou o estádio, após se consumar a vitória de André Villas-Boas, dezenas de membros da claque rodearam o carro e cantaram palavras de apoio. Minutos depois, tentaram invadir a garagem do Estádio do Dragão, impedidos pelos seguranças e pela polícia.

“O Pinto da Costa encostou-se muito aos Super Dragões e a maioria dos sócios era contra isso. Especialmente depois da assembleia geral de 13 de Novembro. Aquelas assobiadelas à claque [nos cânticos de apoio a Pinto da Costa] mostram isso mesmo. Os Super Dragões custaram votos a Pinto da Costa, que também não se deve ter rodeado das melhores pessoas”, analisa Miguel Fonseca, outro dos sócios presentes no Estádio do Dragão.

Para o associado, é preferível que o FC Porto tenha um ou dois anos com uma equipa menos competitiva, mas que esse tempo seja aproveitado para estabilizar as finanças do clube e apostar na formação: "Se ele vai pelo caminho de endividar ainda mais o clube para conquistar um título... não foi isso que prometeu."

No clássico entre FC Porto e Sporting, tanto Pinto da Costa como André Villas-Boas marcaram presença – mas em diferentes lugares no estádio. O ainda presidente esteve, como é habitual, na tribuna. Apesar do convite, Villas-Boas preferiu estar no lugar anual que ocupa na bancada nascente. Uma última vez, antes de tomar posse, no meio dos sócios que o elegeram presidente.

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