A ruptura com Ricardo Salgado
Não foi por acaso que Salgado consolidara a sua reputação de que conseguia tudo o que queria. Em 2010, PQP percebe que indirectamente o BES pode estar prestes a controlar a Semapa, o que vai fazer mexer os equilíbrios internos e pôr em causa a estratégia do industrial. As divergências são agora abertas e levam Salgado a dar um passo em frente.
Finalmente, em Junho de 2012, o banqueiro assume que as acções que estão na posse das três offshores (Gaunlet, a Allord e a Relcove) pertencem ao BES, o seu verdadeiro proprietário desde 2002 quando as comprou à irmã mais nova do industrial.
E PQP não perdoou a Salgado ter omitido a informação durante 10 anos e ter tentado por vias ocultas dominar a Semapa. E, em 2012, os astros alinharam-se para derrubar o banqueiro, pois nessa altura já são visíveis as tensões dentro do Grupo Espírito Santo.
Para mais o BES vacilava com o impacto da crise financeira e económica, impedindo Salgado de continuar a alimentar de forma generosa os ramos da família e obrigando-o a desacelerar os financiamentos às empresas do GES. E a Semapa deixara de ser uma prioridade para Ricardo Salgado.
Ora Pedro Queiroz Pereira tinha 7% do GES e muita informação do que ali se passava e sabia das tensões internas e da sua situação de fragilidade financeira.
O quadro preocupava Salgado, o que o levou, nos primeiros meses de 2012, a reconhecer a liderança de PQP na Semapa, mas impondo como condição que o industrial lhe submeta as decisões estratégicas. Mas PQP rejeita, pois o que quer mesmo é o BES fora do grupo. E foi o que propôs a Salgado, que recusa.
E é então que o industrial vem para a praça pública com as armas todas: as holdings do GES lidam com falta de cash e ao BdP chegaram dossiês com informação sensível sobre o GES. E Salgado contra-ataca. Os jornais começam também a falar de que os irmãos Pedro e Maude estão em guerra total.
Em Outubro de 2013, tornam-se conhecidas as cisões dentro do GES, com José Maria Ricciardi a aliar-se a PQP e a assumir posições públicas contrárias às de Salgado, cuja idoneidade estava a ser posta em causa depois de se saber que recebera uma comissão de um cliente.
E é a ligação de todos estes acontecimentos que desencadeiam as investigações no Banco de Portugal e levam o presidente do BES a selar um acordo rápido com o industrial, firmado em Outubro de 2013. Parceiros há 80 anos, os grupos Espírito Santo e Queiroz Pereira separaram por fim as águas.
Hoje é possível dizer que se PQP tivesse ficado parado e alinhado com Ricardo Salgado, como tantos outros fizeram, o mais provável é que em 2014, o Grupo Queiroz Pereira estivesse sob controlo do BES. E só o facto de PQP ter desconfiado das intenções do banqueiro, impediu que a Semapa fosse arrastada no colapso do BES.
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