Fitch pode subir rating de Portugal em “teste do algodão” após crise

Crise política não deverá impactar percepção da agência de notação financeira quanto à solidez da economia portuguesa, antecipam os analistas, que esperam uma subida de rating por parte da Fitch.

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Turismo tem sustentado crescimento da economia portuguesa Daniel Rocha

A Fitch vai avaliar o rating de Portugal nesta sexta-feira e os analistas ouvidos pela Lusa antecipam uma possível subida para A, depois de duas agências já terem melhorado a classificação da dívida soberana este ano.

Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, aponta à Lusa que "a melhoria do outlook para positivo em Setembro de 2024 abriu caminho para um quase certo aumento do rating de Portugal", que actualmente é de A-. "Desde então, a S&P já reviu em alta a notação do país para A e a DBRS fez o mesmo ao elevar a classificação para A. A economia portuguesa continua a apresentar indicadores sólidos, com sucessivos excedentes orçamentais, a redução do rácio da dívida pública face ao PIB nominal e um crescimento sustentado pelo turismo, aumento do emprego e investimento estrangeiro", nota, acrescentando que "a reacção dos mercados à crise política tem sido limitada".

O analista considera que este será um dos primeiros "testes do algodão" às eleições antecipadas, "permitindo avaliar até que ponto a crise política influencia a percepção externa sobre a solidez da economia portuguesa". "Com excepção da Moody’s, que deverá pronunciar-se apenas a 16 de Maio, a Fitch é a única entre as principais agências que ainda não reviu o rating de Portugal para pelo menos A", destaca, salientando que "tudo indica" que deverá fazê-lo nesta sexta-feira, "validando a evolução positiva das contas públicas portuguesas e reforçando a confiança dos mercados na estabilidade financeira do país".

Já no que diz respeito ao outlook (perspectiva), "se a Fitch subir o rating de Portugal para A, é provável que o outlook passe de positivo para estável, como é habitual após uma revisão em alta", ainda que não seja de excluir uma manutenção. O analista considera, ainda, que "a actual crise política em Portugal poderá ser um factor considerado pela Fitch, mas é pouco provável que tenha um impacto determinante na decisão da agência".

Henrique Tomé, analista da XTB, também aponta à Lusa que as agências têm atribuído classificações mais favoráveis à dívida do país e que os mercados de capitais não têm demonstrado qualquer preocupação com a crise política que se vive em Portugal. Ainda assim, destaca que "o quadro europeu se agravou significativamente nestes últimos dias, derivado do pacote de estímulos apresentado pelo Conselho Europeu no que toca ao armamento e infra-estrutura europeia", levando os juros das obrigações dos países membros a disparar em flecha.

Desta forma, "embora as condições económicas continuem favoráveis, estas últimas semanas trouxeram um agravamento forte nas yields derivado do programa europeu, a somar à actual instabilidade política portuguesa", considera. "Consequentemente, esperamos que a Fitch suba o rating, ainda que, dadas as recentes condicionantes, poderá também manter o mesmo", aponta o analista da XTB.

Com perspectivas optimistas está, também, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que, numa intervenção na quarta-feira, destacou a subida do rating de Portugal pela DBRS em Janeiro e pela Standard & Poor’s em Fevereiro. “Claramente, as agências de rating olham hoje para Portugal como um país seguro, estável e confiável”, registou, admitindo que a Fitch poderá “seguir as outras duas agências e também subir” a classificação portuguesa.

Se se confirmar, é a terceira agência de notação financeira a subir o rating de Portugal este ano.

A DBRS e a S&P, que avaliaram recentemente a dívida soberana, já desvalorizaram eventuais pressões negativas da actual crise política sobre os ratings, considerando que a trajectória de redução da dívida pública e a situação orçamental do país atenuam os riscos.

A crise política em Portugal foi desencadeada há cerca de um mês após notícias sobre uma empresa familiar que pertenceu ao primeiro-ministro, a Spinumviva, levando à apresentação de uma moção de confiança, rejeitada na terça-feira, provocando a queda do Governo.