Origem do apagão está identificada: a central fotovoltaica da Iberdrola em Badajoz

Quando a rede eléctrica espanhola começou a registar situações anómalas foi tomada a decisão de reduzir a transmissão de energia a Portugal.

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Apagão foi a 28 de Abril Miguel Manso
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O relatório que a Rede Eléctrica de Espanha (REE) - entidade que coordena o sistema eléctrico espanhol - elaborou e apresentou quarta-feira refere que “o início do histórico apagão de 28 de Abril” foi atribuído ao “mau funcionamento” de uma central fotovoltaica localizada em Badajoz. Contudo, o nome da empresa que explora o equipamento não foi divulgado. A legislação espanhola obriga a omitir a sua identidade. O relatório do Governo sobre o apagão não identifica, “a pedido das empresas de energia”, quais as instalações produtoras de energia que falharam.

No entanto, o jornal espanhol El Diário foi mais longe e confirmou que a origem do apagão está identificada: na mega central fotovoltaica Núñez de Balboa da Iberdrola, localizada no município de Usagre a cerca de uma centena de quilómetros da fronteira com Portugal. Foi esta central que, meia hora antes do colapso energético, ao gerar 250 MW, “começou a produzir oscilações anómalas que a REE atribui a "um mau funcionamento de um controlo interno" ou "uma anomalia interna (...) que o proprietário deve esclarecer” acrescenta o jornal espanhol.

Esta central solar ocupa uma área com cerca de 1000 hectares e os seus 1.430.000 painéis fotovoltaicos produzem aproximadamente 832 GWh/ano, que fornecem energia a 250 mil casas.

Por sua vez, o relatório governamental apresentado na última terça-feira pelo Ministério da Transição Ecológica assinala que ocorreu um "comportamento oscilatório anómalo na potência activa e reactiva" numa central, sem proceder a qualquer identificação. O mau funcionamento da fotovoltaica Núñez de Balboa “não é a única causa do apagão, mas foi o início dos eventos que levaram a este zero ibérico sem precedentes”, salienta o relatório da REE.

Explica ainda que foi registada, antes do colapso energético, uma perturbação “significativa”, numa linha eléctrica em Badajoz, que obrigou a uma tomada de decisão: reduzir a transmissão (de energia) para Portugal. A anomalia provinha de uma “central fotovoltaica identificada com a letra A, na província de Badajoz”. É à flutuação energética que provocou a situação anómala que se deve “inequivocamente o mau funcionamento do controlo interno da central”, acrescenta a empresa.

Também o mercado de reserva não funcionou como deveria: os três reactores nucleares e os seis reactores a gás de ciclo combinado, que deveriam operar sob restrições técnicas “não regularam a tensão” quando surgiram os picos de situações anómalas. O relatório divulgado pelo Ministério da Transição Ecológica destaca o comportamento de uma central termoeléctrica a gás no sul da Espanha que nos momentos críticos “fez o oposto do que deveria: injectou energia reactiva em vez de absorvê-la.”

O director de operações da REE é peremptório na sua interpretação dos factos: se as referidas centrais tivessem feito o seu trabalho de controlo de tensão, “não teríamos tido um apagão". E a presidente não executiva da REE, Beatriz Corredor, reage às acusações das empresas produtoras de energia (Iberdrola, Endesa, Naturgy e EDP Espanha), declinando qualquer responsabilidade no “histórico apagão” por parte da empresa.

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