Uma alcunha para Vítor Bento

Parece que a passagem de testemunho no BES correu lindamente. O banco vai finalmente ter um presidente para quem “idoneidade” não é uma marca de cera para o cabelo. (Utilização numa frase: “Querida, já se me acabou a Idoneidade. Há mais alguma embalagem ou tenho de usar O Brylcreem?”)

Ricardo Salgado e Vítor Bento já se reuniram para a proverbial passagem de dossiers. Como é evidente, trata-se de uma passagem de dossiers metafórica. Ricardo Salgado não arquiva nenhuma informação em papel.

O ex-presidente do BES lembrou a Vítor Bento que vai estar à frente de um banco que sempre foi liderado por um Espírito Santo. Ora, não podendo Vítor Bento passar a ser um Espírito Santo, pode, ao menos, deixar de ser um Vítor. Daí que Ricardo Salgado tenha apresentado uma lista de alcunhas que minimizem o trauma na família Espírito Santo, por agora haver um Vítor a mandar.

São elas: Vicas, Vitucas, Vavá, Vivi, Vuvu, Via, Tia, Titó, Titi, Tutu, Tocas, Totas, Tutas, Ticas, Tixa, Pipas, Kika e Ito. Vítor Bento não ficou muito convencido, mas Salgado garantiu que Amílcar Morais Pires já tinha tudo acertado para passar a ser Manota Moraes Pires.

O outro assunto tratado foi ainda mais sensível. Ricardo Salgado entregou alguns contactos fundamentais para que Vítor Bento se possa movimentar com mais à vontade no restrito mundo da alta-finança. Designadamente, os contactos do seu alfaiate predilecto. Ricardo Salgado terá mesmo dito: “Isto sim, é insider trading!”, numa demonstração do seu conhecido sentido de humor banqueiro. Curiosamente, a graça, que costuma pôr todos os primos a rir, não funcionou com Vítor Bento. Às vezes, alguém da família pergunta: “O que é o jantar?”, e um tio responde: “Não posso dizer, senão é insider trading!” Segue-se hilaridade.

Outros conselhos sobre o funcionamento do banco:
a) dar só um beijinho;
b) tratar os outros membros do conselho de administração por “menino” e “menina”;
c) dizer “retrete” em vez de “sanita” (utilização numa frase: “Se a PJ entrar pelo gabinete, queime estes papéis e deite-os na retrete”);
d) andar com atenção ao que se passa no banco, porque às vezes se ouvem histórias giras sobre, sei lá, privatizações de grandes empresas públicas.

Agora que saiu do banco, talvez Ricardo Salgado tenha tempo para pôr o seu talento de consultor ao serviço das empresas da família. Da mesma maneira que, segundo o jornal i, aconselhou um construtor a investir em Angola e não na Bulgária, também pode dar estupendas dicas aos primos, tipo: “Façam bons negócios e não maus negócios” ou “ganhem dinheiro em vez de perderem dinheiro”. Como é família, até pode fazer um desconto e não cobrar o habitual fee de 8 milhões.

Ou então não trabalha mais e vai descansar para a Comporta, o sítio paradisíaco onde, devido à má gestão das empresas do grupo, se diz agora que os pobres vão brincar aos pobrezinhos.

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