Numa espécie de sinédoque geográfica, para muitos dos que aqui chegam a ilha do Pico é a montanha do Pico. Percebe-se o fascínio pelo ponto mais alto de Portugal, 2351 metros a rasgar os céus e as nuvens, e também perceberíamos a vitória que deve ser chegar lá ao topo se tivéssemos feito a subida. (Não houve tempo, mas desconfiamos que também não haveria pernas.) Posto isto, só podemos falar do que vimos de baixo – e isto já não é pouco.
No Pico a montanha parece ser omnipresente, mas tanto se dá a ver como tão depressa se esconde atrás de nuvens ou neblinas que deixam frustrados os visitantes de primeira viagem. Mas quando ela se mostra quase sem reservas, quando se alinha para caber em todas as panorâmicas, em todos os vídeos, em todas as selfies, sentimos que a espera valeu a pena. Foi o que nos aconteceu num final de tarde. Vínhamos da Gruta das Torres, das profundezas da Terra, e quando voltámos à superfície percebemos que aquele era o momento.
Íamos a caminho da Casa da Montanha, a base para quem se lança à subida, e tivemos uma visão comovente. Parámos o carro mesmo no meio da estrada, uma risca de asfalto a cortar campos verdejantes, e ali estava o Pico, como se fosse só nosso. Tinha um chapéu de neve branco, nuvens nas encostas, o sol a incidir-lhe de lado. Sentimo-nos pequenos e sozinhos, éramos nós e a montanha, e tínhamos apenas as vacas como testemunhas de um instante que merecia lágrimas.
Não chegámos lá acima, mas por momentos o Pico foi só nosso e isso já ninguém nos tira.
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