A geografia conta (ou não?)

Escreve o dicionário como primeiro significado do substantivo masculino singular “massacre”: “Acto ou efeito de massacrar.” Seguem-se quatro sinónimos, todos cruéis: “mortandade”, “carnificina”, “matança”, “chacina”. A palavra vem do francês, com idêntica grafia (“massacre”) e sentido. Mas não é de França que queremos falar. Menos ainda de Paris: ça suffit. Isto é: chega. É à Nigéria que daremos “tempo de antena”. Modesto, ainda assim.

“Islamistas da Nigéria poderão ter matado 2000 pessoas na tomada de Baga”, foi um dos títulos de segunda-feira. Dia em que muitos europeus e americanos (vulgo, “o mundo”) se comoviam ainda com o ataque à redacção do jornal satírico Charlie Hebdo.

Ignatius Kaigama, arcebispo nigeriano, pediu: “É necessário que essa atitude [reacção à violência aos atentados em Paris] exista não apenas quando se trata da Europa, mas também quando se trata da Nigéria, do Níger, dos Camarões e de outros países pobres.” Pois.

A afirmação aconteceu após mais um fim-de-semana sangrento. “Três mulheres-kamikaze (entre elas, uma criança de dez anos) mataram pelo menos 23 pessoas no Nordeste do país, onde o Boko Haram [o nome significa ‘contra a educação ocidental’] controla uma vasta região .”

O que de facto se passou é sempre difícil de saber. Em certas latitudes, ainda mais, mas escreveu-se: “Uma coisa parece certa, e confirmada por fontes governamentais citadas pelo Washington Post: Baga, que tinha uma população de 10 mil pessoas, já não existe.”

O dicionário dá exemplos concretos de frases comuns. Como esta: “Não foi um combate, foi um massacre de pessoas inocentes.” Pois. 

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