Eles deixaram de ser o umbigo do mundo

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Uma fotografia foca um instante de uma história. E convida a fazer perguntas. Esta foto mostra um hospital bombardeado em Gaza. Poderia mostrar fumo, mortos ou crianças entre destroços. É um episódio. Outros há quase todos os dias. Noticiou a israelita Amira Hass no diário Haaretz: “A Força Aérea de Israel matou 35 membros de duas famílias de Gaza, em raides separados na madrugada e na manhã de segunda-feira. Vinte e cinco das vítimas pertenciam à família Abu Jama, de Khan Yunis, e as outras dez eram membros da família Siyyam, de Rafah.”

O Hamas despeja chuvas de rockets sobre Israel. Os israelitas têm o sistema antimísseis Cúpula de Ferro. O efeito mais espectacular foi o encerramento do aeroporto Ben Gurion. 

Na quarta-feira, registavam-se mais de 700 mortos palestinianos, na esmagadora maioria civis. Israel registava três mortos civis e 32 soldados abatidos em Gaza — nas três semanas da invasão de 2008 apenas perdeu dez. “O nível de mortos civis em Gaza é inaceitável”, escreve o Haaretz. E preocupantes as baixas militares israelitas.

O analista Ariel Ilam Roth, director do Israel Institute, explica que os “rockets vão e vêm”, são interceptados pela Cúpula de Ferro e a vida continua — o que não é excitante para os jornalistas. “As retaliações de Israel, que arrasam os frágeis edifícios de Gaza e deixam atrás de si corpos mutilados, vendem mais jornais.” Abbas, o Presidente palestiniano, perguntou ao Hamas qual é o sentido de disparar rockets. “Estamos do lado dos perdedores e todos os minutos se acumulam mortes inúteis. Eu não tenho vontade de lucrar com o sangue dos palestinianos.” O Hamas não se comove com tão pouco.
Os israelitas estão perplexos e começam a duvidar. Comenta o analista Nahum Barnea: “O conflito não está a ser conduzido por Israel, mas pelo Hamas. Desde o primeiro dia.” O Governo meteu-se num dilema: “Deve penetrar profundamente em Gaza, sob o risco de perder muitos soldados e provocar uma matança de civis palestinianos, ou deve parar e permitir ao Hamas cantar vitória?”

Roth diz-se pessimista: “Não importa como e quando vai terminar o conflito entre Israel e o Hamas, mas duas coisas são certas. A primeira é que Israel poderá reclamar uma vitória táctica. A segunda é que terá sofrido uma derrota estratégica. (...) Faz-se guerra para realinhar a política de um modo que beneficie o vencedor e enfraqueça o vencido. Mas os israelitas perderam o sentido desta distinção.” 

As guerras escapam muitas vezes das mãos de quem as faz e assim nascem tragédias. Acumulam-se as filas de caixões. A comunidade internacional dá sinais de estar cansada de israelitas e palestinianos. Eles deixaram de ser o umbigo do mundo. 

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Bombardeamento do Hospital Al-Aqsa Martyrs Mohammed Abed/AFP

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