Elon Musk deverá afastar-se da Administração Trump nas próximas semanas

Multimilionário deverá regressar à gestão das suas empresas e abandonar as funções governativas, disse Donald Trump a membros do seu executivo.

Foto
Elon Musk Vincent Alban / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
05:41

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou ao seu círculo mais próximo, incluindo a membros do Governo, que Elon Musk deverá afastar-se, nas próximas semanas, das suas funções ao comando do chamado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), organismo responsável por dezenas de milhares de despedimentos na administração federal e pelo congelamento de milhares de milhões de dólares em verbas públicas.

A informação é avançada esta quarta-feira pelo Politico, que acrescenta, citando fontes próximas de Trump, que Musk deverá contudo manter-se na órbita da Administração norte-americana, possivelmente como conselheiro informal do Presidente.

Na segunda-feira, Trump disse aos jornalistas, à margem de mais uma cerimónia de assinatura de ordens executivas na Casa Branca, que Musk “tem uma grande empresa para gerir” e que “a dado momento, ele vai ter de lá voltar”.

“Ele quer isso. Eu mantê-lo-ia o máximo que conseguisse”, acrescentou, citado pelo site Axios. O Politico sublinha que Trump não está insatisfeito com o trabalho de Musk no desmantelamento de vastos sectores do Estado federal.

Musk detém actualmente o estatuto temporário de “funcionário especial do governo”, que se extinguirá ao cabo de 130 dias, no final de Maio ou no início de Junho. A saída agora noticiada coincidiria com o fim desse período e com os mesmos 130 dias que o multimilionário disse serem suficientes para concluir a sua missão de redução do Estado. Fonte da Casa Branca reforça esta quarta-feira à Reuters que o trabalho de Musk no DOGE deverá estar terminado no mesmo prazo, que os investidores do empresário querem o gestor de volta às suas companhias, mas que uma eventual saída será voluntária e que "ninguém está a empurrá-lo".

Activo tóxico

O homem mais rico do mundo, principal financiador da campanha eleitoral que devolveu Trump à Casa Branca em Novembro de 2024, é uma figura crescentemente impopular junto do eleitorado e tem protagonizado conflitos com elementos da Administração republicana em torno da autoridade sobre departamentos e agências governamentais, bem como do ascendente do multimilionário sobre o Presidente norte-americano, que chegou a levar a oposição democrata a questionar quem seria, afinal, o verdadeiro chefe de Estado.

O seu DOGE tem sido levado a tribunal perante diversas queixas de despedimentos ilegais e de acesso ilícito a bases de dados altamente sensíveis, incluindo listas de beneficiários da Segurança Social ou de trabalhadores do Estado. Para a história ficará também o papel central de Musk no desmantelamento da USAID, a agência norte-americana de ajuda externa e apoio ao desenvolvimento, cujo fim ameaça agora de doença e morte milhões de pessoas em dezenas de países.

O multimilionário protagonizou ainda diversos incidentes que desgastaram a sua imagem, desde a saudação fascista, de braço em riste, no dia de tomada de posse de Trump, aos recorrentes insultos e ataques pessoais a adversários, críticos, líderes estrangeiros e jornalistas através da sua rede social X.

Os sinais do seu impacto eleitoral negativo, visíveis em protestos em diversos town halls em estados republicanos, ficaram definitivamente patentes na noite de terça-feira com a vitória de Susan Crawford na votação para o Supremo Tribunal do Wisconsin. Musk tinha investido mais de 22 milhões de dólares na candidatura do juiz derrotado, Brad Schimel, e distribuído cheques durante comícios de apoio ao magistrado conservador, contribuindo para tornar o escrutínio nas mais caras eleições judiciais da história norte-americana, bem como num referendo à sua própria popularidade.

Boicote à Tesla

O multimilionário tinha igualmente reconhecido que a sua actividade política estava a penalizar os seus negócios. "O que eles estão a tentar fazer é colocar uma pressão enorme sobre mim e a Tesla, acho que para parar com isto. As minhas acções da Tesla e de qualquer pessoa que tenha acções da Tesla caíram para cerca de metade", declarou no domingo, durante uma acção de campanha no Wisconsin, citado pela Bloomberg.

A Tesla, construtora de carros eléctricos liderada por Musk, enfrenta uma onda de boicote nos Estados Unidos e em vários mercados-chave, nomeadamente o europeu, motivado pela associação do empresário a Trump e a vários movimentos de extrema-direita, como a AfD alemã. No primeiro trimestre de 2025, as vendas globais da marca caíram 13%, incluindo uma quebra de 49% na Europa durante os dois primeiros meses do ano.

Em bolsa, as acções da empresa caíram mais de 40% face ao pico de valorização de 17 de Dezembro, apesar de repetidos e públicos esforços de promoção da marca por parte da Administração Trump, que incluíram uma acção de marketing com Musk e o Presidente nos jardins da Casa Branca. O secretário do Comércio, Howard Lutnick, apelou à compra de acções da Tesla na Fox News, em violação da proibição de promoção de empresas e produtos por parte de responsáveis governamentais, enquanto Trump e o Departamento de Justiça qualificaram de "terrorismo doméstico" a vaga de actos de vandalismo contra stands da marca nos EUA.

Contratos com o Estado

Mas a colaboração entre Musk e Trump também trouxe benefícios para o multimilionário de origem sul-africana. Em Março, o New York Times contabilizava diversos contratos de milhares de milhões de dólares entre as empresas de Musk e o Estado, celebrados ou sob boas perspectivas de o serem com o regresso de Trump à Casa Branca, ao mesmo tempo que o DOGE procedia a profundos cortes na administração federal.

A empresa aeroespacial SpaceX consolida agora o seu monopólio do acesso da NASA ao espaço, ditando ainda uma reorientação da agência espacial para a futura exploração de Marte, uma antiga obsessão de Musk. A Starlink, empresa de telecomunicações por satélite, posiciona-se para a possível celebração de um contrato de 42 mil milhões de dólares com o Departamento de Comércio para o fornecimento de internet a zonas rurais remotas.

No controlo do espaço aéreo norte-americano, a agência federal responsável também deverá trocar o gigante de telecomunicações Verizon pela Starlink. Na Defesa e na Segurança Interna, e na modernização geral da infra-estrutura informática da administração federal, as empresas de Musk estão igualmente bem posicionadas. E, após os cortes do DOGE em diversos organismos estatais, mais libertas de supervisão.

Sugerir correcção
Ler 65 comentários