Há portugueses a viver com muitas necessidades na Venezuela, diz ONG

A ONG ajuda Fernando Manuel Leite da Silva, um emigrante de Faro, licenciado em hotelaria e turismo há quase três meses. “Cheguei a uma situação de rua. Já dormia na rua e comia do lixo.”

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Zona muito frequentada pela comunidade portuguesa, em Caracas, Venezuela. Imagem de 2019 NUNO VEIGA / LUSA
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O presidente da ONG Regala Una Sonrisa alertou esta segunda-feira que na Venezuela há cada vez mais portugueses a viver “com muitas necessidades, em situações de carência e que precisam de mais ajuda dos compatriotas e do Governo português”.

“As necessidades são muitas e para nós é frustrante ir a uma casa e ver a realidade, que a nossa comunidade na Venezuela está a passar muito mal”, disse.

Francisco Soares falava à agência Lusa em Caracas, durante a inauguração do primeiro “Hogar de los Ángeles Lusitanos” (Lar dos Anjos Lusitanos), um programa da ONG, que conta com o apoio da comunidade portuguesa local e de Lisboa.

“A comunidade portuguesa não está a passar bem, não está a fazer férias aqui (…) há necessidades muito grandes e para nós é complicado, porque os recursos são finitos, ficamos curtos para ajudar perante toda a necessidade”, frisou.

Francisco Soares instou os portugueses na Venezuela e em Portugal a ajudar os compatriotas. “Não estão obrigados a fazê-lo connosco (…) mas façam algo pela comunidade que tanto necessita”, vincou.

O responsável da ONG explicou que, uma vez por mês, equipas saem às ruas de Caracas à procura de pessoas sem-abrigo, deixando o convite a voluntários que queiram participar nesta missão.

Sobre o novo lar referiu foi “um projecto que surgiu com muitas dificuldades e vicissitudes", mas garantiu que agora "há um lugar extra para receber os carenciados”. “Anteriormente, víamos pessoas em situações de vulnerabilidade e não as podíamos atender, não as podíamos levar para a nossa casa e tínhamos que alugar uma habitação (…) e agora temos 16 quartos e camas para 32 pessoas”, disse.

Segundo Francisco Soares, na ONG prestam cuidados médicos primários, há um banco de roupa e há diversas actividades, entre estas o programa recreativo “Caminhando com os Anjos”, que inclui passeios programados. “Agora temos um lugar para receber quem mora na rua e quem não tem onde ficar quando vem desde outro estado para tramitar documentos ou fazer um tratamento”, disse.

Comunidade "grande e de trabalho"

Em declarações à Lusa, o embaixador de Portugal na Venezuela, João Pedro Fins do Lago, sublinhou que o lar nasceu “de um sonho do movimento associativo português, neste caso de Francisco Soares e da Regala Una Sonrisa e do programa Ángeles Lusitanos.

“O sonho de erguer uma casa abrigo para portugueses e luso-descendentes carenciados. Uma casa que por um dia, uma noite, um curto espaço de tempo, dê abrigo, carinho e a atenção que necessita quem está em situação de rua”, disse.

Segundo o diplomata, o lar “marca um ponto importante na história da comunidade portuguesa”. “A embaixada, a rede consular é extremamente atenta e activa na Venezuela, mas o braço do Estado só chega até determinado ponto. O resto do caminho é feito por uma comunidade que é solidária, que se entreajuda e que se organiza através do movimento associativo”, frisou.

João Pedro Fins do Lago disse também que o lar “é a prova de que o movimento associativo está ligado, atento às pessoas e identifica as suas necessidades”. “A comunidade portuguesa é muito vasta na Venezuela. É uma comunidade grande, de trabalho, de perfeita integração e de muito sucesso. Mas tem franjas e nessas franjas há pessoas que necessitam de atenção”, disse, sublinhando o “trabalho com muito mérito” que é feito pelo movimento associativo e o Estado português.

No lar, a receber ajuda desde há quase três meses está Fernando Manuel Leite da Silva, um emigrante de Faro, licenciado em hotelaria e turismo. “Cheguei a uma situação de rua. Já dormia na rua e comia do lixo”, explicou à lusa, precisando que foi enviado pelo consulado para a ONG.

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