HRW diz que as forças russas terão executado soldados ucranianos que se renderam

Organização de direitos humanos denuncia alegada execução de mais de 20 soldados ucranianos e exige investigação à Rússia por crimes de guerra na Ucrânia.

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Soldados ucranianos na linha da frente, em Donetsk, no Leste do país Oleksandr Ratushniak / REUTERS
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Membros das Forças Armadas da Federação Russa terão executado pelo menos 15 soldados ucranianos que tentavam render-se e outros seis que já se tinham rendido, denuncia a Human Rights Watch (HRW). Os alegados crimes, que a organização não-governamental de defesa dos direitos humanos exige que sejam investigados como crimes de guerra, terão ocorrido nos últimos seis meses.

Num relatório publicado esta quinta-feira, a HRW diz que as suas denúncias se baseiam na análise de imagens captadas por drones, de vídeos publicados online e nas redes sociais, em reportagens sobre a guerra na Ucrânia e em entrevistas com soldados ucranianos.

“Desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia que as suas forças cometeram muitos crimes de guerra hediondos”, acusa Belkis Wille, directora associada da divisão de Crises e Conflitos da HRW. “A execução sumária – ou assassínio – de soldados ucranianos rendidos e feridos, mortos a sangue-frio, expressamente proibida pelo direito internacional humanitário, também está incluída nesse legado vergonhoso”, afirma, citada pelo site da organização.

Num dos cinco incidentes verificados e analisados pela HRW, ocorrido a 25 de Fevereiro, na vila de Ivanivske (Donetsk), as imagens captadas por um drone, cuja veracidade e localização foram confirmadas por especialistas da organização e do site GeoConfirmed, mostram pelo menos sete soldados ucranianos a saírem de uma trincheira e a retirarem as protecções. Um deles também retira o capacete e os sete aproximam-se “de cabeça baixa” de cinco soldados russos “identificáveis” como tal.

“Três soldados russos disparam contra os soldados ucranianos claramente rendidos, por trás e de ambos os lados. Seis dos soldados ucranianos permanecem de cabeça baixa, reagindo visivelmente ao impacto dos disparos, enquanto outro tenta reentrar na trincheira, mas é atingido antes de o conseguir”, descreve a HRW.

Num outro incidente, ocorrido a 5 de Fevereiro, também filmado por um drone russo, na região de Donetsk, no Leste da Ucrânia, “uma voz masculina” dá ordens a um grupo de soldados russos que acabam de capturar combatentes ucranianos e diz: “Não façam prisioneiros, disparem contra toda a gente.”

Sublinhando que a Rússia é signatária de vários tratados internacionais que proíbem expressamente as execuções extrajudiciais, nomeadamente o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, a HRW diz que endereçou uma carta ao ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, no dia 22 de Abril, a pedir explicações sobre as conclusões e as denúncias da sua investigação. Mas não obteve qualquer resposta.

“Embora cada um destes casos seja horrível, o que é talvez mais condenável são as provas que indicam que, em pelo menos um caso, as forças russas deram ordens explícitas para matar soldados, em vez de os deixarem render-se, corroborando, dessa forma, crimes de guerra”, diz Wille.

O Governo e a Procuradoria-Geral da Ucrânia já tinham denunciado, no final do ano passado, a execução de soldados ucranianos rendidos por parte das forças russas, acusações que o Kremlin sempre negou.

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