Jean-Marc Aveline será o novo Papa, caso se confirme a análise de cenários do Iscte
MediaLab do Instituto Universitário de Lisboa põe o cardeal de Marselha à frente de um grupo restrito de possíveis sucessores de Francisco, onde também está o teólogo português Tolentino de Mendonça.
O Conclave para escolher o sucessor do Papa Francisco, aquele que será o chefe número 267 da Igreja Católica, começa na quarta-feira, e vários nomes têm sido apontados pela imprensa como possíveis escolhidos, mas o MediaLab do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, foi mais longe e aplicou “critérios qualitativos e dados simulados do conclave para identificar caminhos plausíveis para os resultados da eleição papal” e um nome destacou-se, o do cardeal de Marselha, Jean-Marc Aveline.
A análise de cenários realizada pelos investigadores Gustavo Cardoso e Carlos Picassinos, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia para o relatório de prospectiva do MediaLab do Iscte denominado Cenários para a Sucessão do Papa Francisco, a que a Lusa teve acesso, estabelece três cenários prospectivos de alinhamento de votos dos cardeais e o nome de Aveline surge nos três cenários.
“Ao introduzir uma simulação de votação estratégica com os candidatos presentes nos três cenários e uma majoração estratégica para candidatos surpresa, o resultado prospectivo apurado foi a eleição de Jean-Marc Aveline”, que é apresentado como o candidato da Proximidade e Diálogo. Além do cardeal de Marselha, só um outro nome se destaca, o arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, Matteo Maria Zuppi.
O modelo estabelecido pelos investigadores tenta “captar a complexidade de um processo moldado por expectativas ideológicas, dinâmicas globais da Igreja e realinhamentos de facções dentro do Colégio dos Cardeais”.
Para isso, a análise define três cenários com as prioridades de voto dos 135 cardeais eleitores (aqueles com menos de 80 anos): “Continuidade”, “surpresa” e aquilo os investigadores designam como a “força dos fracos”, em que juntam o “alinhamento com as prioridades emergentes da Igreja”, a “representação de periferias”, a “influência inesperada ou perfil em ascensão”, a “liderança em contextos de crise ou transição cultural” e a “capacidade de diálogo entre reformistas e conservadores”.
No cenário da “continuidade” com o papado anterior de Francisco, os autores colocam Matteo Maria Zuppi, o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, e o filipino Luís António Tagle, actual prefeito do Dicastério para a Evangelização.
No cenário da “surpresa” são incluídos Aveline, Parolin, e o congolês Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa e presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar.
É na categoria da “força dos fracos” que Tolentino de Mendonça, actual prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, emerge ao lado de Aveline e do cardeal de Bolonha, Matteo Maria Zuppi.
Tolentino de Mendonça: cenário de “ruptura”
No entanto, para os investigadores, a eleição do cardeal português, que é visto como alguém “que escuta e tem perfil global”, só poderia suceder num cenário de “ruptura”, em que teria de “ocorrer um conjunto de acções e eventos, tanto directamente geríveis por si e seus potenciais apoiantes, como autónomas da sua decisão”.
Daí que “uma potencial vitória do cardeal José Tolentino de Mendonça necessitaria de uma reconfiguração da sua imagem perante os seus pares, de poeta a profeta, como uma voz profética para um mundo ferido, um papa que compreendesse a alma da humanidade em crise e não só das instituições da Igreja”, lê-se no relatório.
Além disso, “necessitaria igualmente de formar alianças estratégicas pré-conclave unindo blocos diversos”, em particular “os moderados curiais que não pretendem rupturas, os cardeais do Sul Global que valorizam a perspectiva lusófona e os europeus que apreciam a sua inteligência e ausência de radicalismo”.
“Na dimensão externa ao controle dos ‘papabili’ teria de ocorrer no próximo mês uma crise internacional envolvendo religião e cultura, bem como um conjunto de escândalos ou impasses institucionais na Cúria” para haver “uma viragem decisiva nas expectativas face às votações em Matteo Zuppi e Jean-Marc Aveline”. E, assim, tornar-se possível que “um grupo de cardeais latino-americanos alavancasse Tolentino como um unificador silencioso”, escrevem os investigadores.
“Para uma potencial eleição, o cardeal Tolentino de Mendonça necessitaria de cerca de 20 a 25 votos de um bloco lusófono e cultural curial, junto a dez a 15 votos de cardeais da América Latina cansados de polarização, mais dez votos da Europa equidistante e, por fim, o apoio dos cardeais da África e Ásia”.
Com isso torna-se extremamente difícil que possa haver um segundo papa português, quase 750 anos depois de João XXI, que foi o 187.º a liderar a Igreja Católica. “Embora nada seja impossível, a eleição de um cardeal português como próximo papa afigura-se como particularmente difícil e pouco provável à data deste relatório”.
A partir de quarta-feira se verá. Depois do primeiro dia, todos os dias serão feitas quatro votações e para se eleger um Papa, o candidato precisa de ter, pelo menos, dois terços dos votos contados. Em tempos imemoriais, os conclaves chegaram a durar poucas horas, como o de Júlio II em 1503, ou arrastar-se no tempo, como o de Celestino V, que se arrastou durante 27 meses, entre 1292 e 1294.
Em tempos mais modernos, a escolha do chefe da Santa Sé variou entre os dois dias e três votações de Pio XII, em 1939, e as de cinco dias e 14 votações de Pio XI, em 1922. O conclave que elegeu o cardeal Jorge Bergoglio como papa Francisco, em 2013, depois da renúncia de Bento XVI, demorou dois dias e cinco votações.
O próprio Bento XVI, em 2007, quando era o sumo pontífice, estabeleceu que a partir da 34.ª votação só os dois mais votados irão novamente a votos, de modo a não prolongar a expectativa mais do que é devido e evitar os impasses intermináveis.
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