Viagem à Europa

Um comboio, duas mochilas, a Europa: em vésperas de eleições europeias vamos fazer um Interrail. Vamos parar aqui e ali, de Barcelona a Bruxelas, de Atenas a Berlim, de Sófia a Londres. Os pontos estão marcados no mapa, o espaço é para surpresa.

Almere, Holanda

Na mais nova cidade da Holanda: "Europeus? Isso não existe. Só nos videos porno"

Almere no início da sua construção

A meia hora de Amesterdão está a cidade mais nova da Holanda: Almere.

A bibliotecária ri-se quando perguntamos o que estava aqui antes: “Água!”, diz. Almere foi conquistada ao mar, com as primeiras casas construídas em 1976. Ela orgulha-se e mostra livros e livros com imagens como era antes, o mar, e como é agora, um lago fechado, com partes em que foi posta terra e a água drenada. “Ainda hoje estamos a uns quatro metros abaixo do nível do mar.”

A cidade tem crescido rapidamente e é uma das cidades mais jovens do país. Os seus primeiros habitantes foram vistos como “pioneiros”, na cidade há um passeio da fama com marcos ultrapassados (os primeiros habitantes em 1976, o nascimento do habitante número 50 mil em 1986; do número 100 mil em 1994). O lema da cidade: “é possível em Almere”.

Há outra razão para dar atenção a Almere: nas eleições municipais do mês passado, foi a cidade em que o partido de Geert Wilders, o PVV, teve o seu melhor resultado, com mais de 20% dos votos. No comboio de regresso a Amesterdão, falamos um pouco sobre isso com Maarten von Gert, 28 anos, que é designer de apps e internet e trabalha na numa loja da cidade, onde já viveu (tinha acabado com a namorada com quem vivia e precisava de uma casa rapidamente - aqui foi mais fácil do que em Amesterdão).

“Almere é uma cidade super segura – há corredores de bicicletas por isso uma pessoa nem se chega a cruzar com um carro… As pessoas estão habituadas a este sentimento e depois vêem que um estrangeiro cometeu um crime e assustam-se. Têm medo do estranho. Se fosse o homem da banana, era o homem da banana”, ri-se. Acha que é bom que exista um partido como o PVV, o partido eurocéptico e anti-imigração: “As pessoas precisam de um escape para desabafar”, defende.

O eurocepticismo é algo que se nota em várias conversas. Marteen defende que é compreensível. “Não penso em mim como um europeu. Se falo com um alemão, não penso nele como um europeu. Penso que é um alemão. Não existe isso de sermos europeus”, diz, fazendo uma pausa. “O único sítio em que essa definição existe é nos videos porno. A sério, há uma secção de filmes 'europeus'. Não sei o que isto quer dizer”, comenta.

Marteen acaba a conversa a notar semelhanças na política holandesa com um cartoon que é “o melhor produto de exportação holandês”, o do pato Alfred J. Kwak. O vilão, por exemplo, é um líder de um partido de corvos e uma referência a Hitler. Este é um corvo um pouco diferente… que no fundo é um papagaio mas disfarça pondo cera no bico. Na altura ainda não existia o partido de Wilders, mas o desenho cai como uma luva na descrição do líder do PVV, conhecido pelo seu cabelo louro-platinado, a quem a imprensa popular descobriu entretanto uma ascendência indonésia.

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Maarten von Gert
Almere