Oposição venezuelana consegue inscrever candidato provisório

O diplomata Edmundo González Urrutia foi formalizado como candidato, mas ainda poderá haver alterações. Países da região dizem estar preocupados com obstáculos criados pelo regime junto da oposição.

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María Corina Machado não poderá ser candidata às eleições presidenciais de Julho EPA/Miguel Gutierrez
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Continuam as reviravoltas no processo eleitoral venezuelano, à medida que crescem os avisos da comunidade internacional para que as eleições presidenciais de Julho decorram de forma livre e justa. Depois de ver vedada a inscrição da candidata alternativa, a oposição anti-chavista logrou inscrever um candidato já depois do fim do prazo.

Graças a uma extensão do prazo para a inscrição de candidaturas às eleições presidenciais de 28 de Julho, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), um dos maiores partidos que integra a coligação opositora, formalizou a candidatura do diplomata Edmundo González Urrutia, ex-embaixador na Argélia e na Argentina.

O partido explicou que a candidatura de Urrutia é “provisória” e irá ser substituída assim que haja um consenso entre os partidos de oposição em torno de um candidato de unidade. A Plataforma de Unidade Democrática (PUD), que junta os partidos anti-chavistas, disse que a decisão tem o objectivo de “garantir a inscrição da dita candidatura para que nos mantenhamos dentro da rota eleitoral”.

A escolha de Urrutia é apenas a mais recente tentativa por parte da oposição de contornar a sucessão de obstáculos que o regime de Nicolás Maduro tem posto no caminho rumo às eleições. Sem poder formalizar a candidatura de María Corina Machado, eleita com dois milhões de votos nas primárias de Outubro, a oposição optou na semana passada pela académica Corina Yoris, uma escolha aparentemente segura por se tratar de alguém pouco conhecido e sem passado em cargos públicos.

No entanto, o prazo de inscrição terminou na terça-feira sem que a candidatura de Yoris pudesse dar entrada no sistema, alegadamente por “falhas técnicas”, segundo as autoridades eleitorais controladas pelo regime. Machado denunciou a manobra do chavismo e garantiu que Yoris será a candidata da coligação opositora.

A lei eleitoral permite que os candidatos sejam substituídos no máximo até dez dias antes das eleições, embora o seu nome não venha a figurar nos boletins de voto se a mudança acontecer menos de três meses antes do dia das eleições. Essa parece ser a estratégia da PUD, embora não haja ainda garantias de que Yoris se poderá candidatar.

A oposição corre ainda o risco de aparecer dividida, enfraquecendo as suas hipóteses de derrotar Maduro. No último dia de inscrições, foram formalizadas as candidaturas de Enrique Márquez, ex-presidente do Conselho Nacional Eleitoral, e de Manuel Rosales, governador do estado de Zulia, ambos ligados a partidos da oposição, mas que não têm o apoio de Machado. Esta quarta-feira, Rosales mostrou disponibilidade para abrir mão da sua candidatura em favor de um candidato de unidade.

A expectativa de que as eleições presidenciais deste ano decorressem de forma justa e com garantias de uma competição real parece estar cada vez mais gorada. Nas últimas semanas, vários membros da equipa de campanha de Machado foram detidos ou receberam mandados de detenção.

O Governo argentino revelou que vários políticos da oposição procuraram refúgio na sua embaixada em Caracas e manifestou preocupação com os “actos de intimidação e perseguição contra figuras políticas na Venezuela”.

Maduro, por seu turno, tem endurecido o discurso contra os seus adversários políticos, acusando-os de serem marionetas ao serviço dos EUA e de planearem o seu assassínio. A situação é radicalmente diferente do ambiente menos tenso criado pelas negociações entre Governo e oposição que há poucos meses tinham lançado as bases para uma saída da crise política e institucional que se arrasta na Venezuela há quase uma década.

A ofensiva de Maduro contra a oposição está a causar preocupação entre vários países da região, incluindo em governos como o brasileiro que até há bem pouco tempo defendiam uma normalização diplomática com Caracas. Numa carta subscrita por vários líderes do continente americano é realçada a “grave preocupação” perante os “persistentes impedimentos” na inscrição de candidaturas nas eleições presidenciais.

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