PP vai negociar formação de governo com Cidadãos, mas impasse espanhol continua

PSOE mantém decisão de não deixar passar Executivo liderado por Rajoy, o que impede resolução da crise política.

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Mariano Rajoy aceitou tentar formar governo, mas sem pelo menos a abstensão do PSOE não o conseguirá PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP

A direcção do Partido Popular (PP) espanhol deu carta-branca ao seu líder nacional, Mariano Rajoy, para negociar com Albert Rivera, o dirigente do partido liberal Cidadãos, a formação de um Governo. Mas Rivera, com o qual se reunirá quinta-feira, já avisou que não aceitará “que se mude nem uma vírgula” às seis condições que apresentou para poder sentar-se à mesa de negociações com o PP, entre as quais a criação de uma comissão de inquérito parlamentar sobre o financiamento ilegal do partido no poder.

Mas mesmo que cheguem a um acordo, os 32 deputados do Cidadãos seriam insuficientes, juntando-se aos 137 do PP, para fazer passar o governo. E os socialistas mantêm a recusa em abster-se, o que o deixaria passar no Parlamento. O PSOE fez uma reunião conjunta da comissão permanente e da direcção do grupo esta quarta-feira no Congresso em Madrid, coincidindo com a reunião do comité executivo do PP, para reafirmar o “não” a um eventual novo Governo liderado por Rajoy.

O rei encarregou Mariano Rajoy de tentar formar governo, encargo que ele aceitou, embora não garanta que se apresentará ao voto de investidura no Congresso de Deputados, se não conseguir apoios suficientes. Ana Pastor, a presidente do Parlamento, já bateu o recorde de dias sem marcar a data do debate de investidura – o que os outros partidos sublinham ser um favorecimento ao PP, o seu partido.

Espanha está sem governo desde as eleições inconclusivas de 20 de Dezembro, e das segundas legislativas, a 27 de Junho. E não há sinais de que o impasse espanhol esteja perto do desbloqueio – ou de que a hipótese de umas terceiras eleições esteja mais longe.

Rivera exige ao PP a criação de uma comissão de inquérito parlamentar sobre o financiamento ilegal do PP, a perda de mandato para todos os eleitos investigados por corrupção, o fim das amnistias para os condenados por estes crimes, a revisão das imunidades que beneficiam grande parte dos eleitos nacionais e regionais, e o limite de dois mandatos para o presidente do Governo, para além de uma reforma eleitoral que deixe de prejudicar os partidos mais pequenos. E, além, disso, quer que seja marcada a data do debate de investidura.

“Se não for marcada a investidura, não se iniciarão as negociações”, tinha avisado, antes da reunião da direcção do PP, José Manuel Villegas, vice-secretário-geral do Cidadãos, tentando justificar a mudança de posição do seu partido, que passou do “não” ao PP para a possibilidade de conversações.

“São condições prévias inegociáveis. Não há matizes possíveis em nenhum destes seis pontos. Rajoy tem de escolher entre tapar a corrupção do seu partido ou lutar contra ela”, afirmou Fernando de Páramo, secretário de comunicação do Cidadãos, do núcleo mais próximo do líder do partido, Rivera, citado pelo El País.

“O PP não veio aqui falar sobre condições. O PP deu autorização para negociar com o Cidadãos. Desde que não nos peçam nada que prejudique os interesses das pessoas, podemos aceitar muitas coisas – ou não”, disse Mariano Rajoy no final da reunião da cúpula do seu partido.

Da reunião, nota o El País, estiveram ausentes muitas das figuras incriminadas nos vários casos de corrupção que estão a ser investigados pelas autoridades e que envolvem o Partido Popular, e que seriam visados pelas condições prévias do Cidadãos, como a senadora e ex-presidente da câmara de Valência, Rita Barberá, a ex-ministra da Saúde Ana Mato ou o ex-vice-presidente da Comunidade de Madrid Ignacio González.

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