Viagem à Europa

Um comboio, duas mochilas, a Europa: em vésperas de eleições europeias vamos fazer um Interrail. Vamos parar aqui e ali, de Barcelona a Bruxelas, de Atenas a Berlim, de Sófia a Londres. Os pontos estão marcados no mapa, o espaço é para surpresa.

Marselha -> Milão

Um pouco de atraso, um pouco de racismo, nada de política

O comboio para Nice começa a andar devagar, quase fantasmagórico, pouco depois da partida. Até que pára. Da janela vê-se uma sucata: duas montanhas de carros espatifados, vários cubos de metal, súmula compacta  do que foram antes esses carros.

Uma inglesa percebe que vai perder o avião, duas russas em passeio pela Côte d’Azur arrependem-se de não ter apanhado o comboio seguinte. Um atraso no primeiro comboio implica ligações perdidas e uma chegada muito mais tardia; é o pesadelo de quem viaja.

Não é algo raro nesta linha, diz Sarah Taghouti, 21 anos, estudante de comunicação multimédia, que todos os dias chega à estação para apanhar o comboio das 6h31, faz duas horas de Marselha para St. Raphael, onde é o curso, e ao fim do dia, apanha o comboio das 20h, mais duas horas de volta de St. Raphael para Marselha.

Já só faltam uns meses para acabar o curso e fazer um estágio. O mercado de trabalho em Marselha não está brilhante, e ela queria mesmo era ser realizadora. “Mas isso é impossível”, diz. No entanto, está optimista; planeia uma start up com amigos. "Acho que temos boas hipóteses."

A meio da conversa, finalmente chega a um comboio de substituição, mas continuamos a falar e da economia passamos para a multiculturalidade de Marselha. Sarah comenta: “Em França são um pouco racistas. Às vezes sinto isso. Eu sou francesa, nasci cá, apenas tenho mãe tunisina. O que é que isso tem? Não percebo o ponto de vista destas pessoas.”

Uma funcionária dos comboios distribui água, sumo e bolachas, tudo numa caixa arrumada, “lamentamos o atraso”.

Pergunto a Sarah sobre o tema quente do momento, as eleições: ela não se interessa. “Votei numas eleições, as presidenciais, primeiro Mélenchon e depois Hollande, mas fiquei muito desiludida.” Mesmo que se fale da Frente Nacional: “É triste que haja pessoas a votar neles.”

Gosta da União Europeia – “só juntos podemos ser fortes” mas tem um problema com a Europa: “Porque não deixam entrar a Turquia?”
 

Durante cerca de um mês vamos andar em viagem pela Europa. Seguem-se Milão, Atenas, Sófia, Budapeste, Berlim, Amesterdão, Calais, Londres e Bruxelas. Se tiver sugestões, contacte-nos: viagemeuropa@publico.pt.

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Comboio parado à saída de Marselha
Sarah Taghouti