Bloco de Esquerda espera demissão do Governo depois das autárquicas

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João Semedo Daniel Rocha

O coordenador do Bloco de Esquerda (BE), João Semedo, e candidato à Câmara Municipal de Lisboa espera que as eleições autárquicas sirvam para os portugueses “condenarem” a política de austeridade levada a cabo pelo Governo e que o voto na esquerda se traduza “num passo em frente no sentido da demissão do Governo”.

João Semedo encerrou na noite de sexta, em Lisboa, um comício-festa do BE que contou ainda com intervenções de outros bloquistas como Fernando Rosas. O historiador também vê nestas eleições “uma oportunidade para derrotar a direita e para condenar uma política” que “vai criar em Portugal a maior distância social de sempre e destruir factores de crescimento e de produção que demorarão 25 anos a recuperar”. “É preciso politizar estas eleições”, disse Rosas ao PÚBLICO, antes de discursar, referindo-se ao debate em torno dos grandes temas que dominam a actualidade.

Para além de objectivos locais, que passam, entre outros, por manter a Câmara de Salvaterra de Magos, por entrar na autarquia de Lisboa e por conseguir um vereador em alguns municípios da área metropolitana de Lisboa, Porto e península de Setúbal, João Semedo também quer trazer outras discussões para as eleições. “Um dos grandes objectivos é que os portugueses condenem a política de austeridade, a política deste Governo, e que as eleições de traduzam num passo em frente no sentido da demissão do governo”, disse ao PÚBLICO, acrescentando acreditar que o voto na esquerda vai ser expressivo.

O candidato do BE à autarquia de Lisboa criticou a “dissimulação da vida portuguesa” que diz existir não só no Governo, onde há um “discurso a duas vozes”, a do primeiro-ministro e a do vice primeiro-ministro, mas também na oposição de António José Seguro que se diz “contra a austeridade, mas aceita negociá-la”. João Semedo acusou o Executivo de Passos Coelho de “aldrabice e vigarice”: “O Governo dá-se mal com a verdade e vive hoje da aldrabice”, disse.

“Há necessidade de estas eleições serem politizadas, não são eleições com um sentido meramente autárquico, são eleições que vão ter, quer se queira, quer não um sentido político importante no futuro do Governo e na situação política. À esquerda interessa realçar o significado político que esta eleição tem”, afirmou Rosas, sublinhando que as políticas do Governo vão continuar a piorar a vida dos portugueses. “Vem aí uma avalanche de medidas que se conjugam absolutamente com a intransigência das autoridades europeias, que dizem que não há flexibilidade para o défice, o que significa que vamos entrar num novo ciclo de recessão”, afirmou.

“Palavra fome no debate”
O discurso geral dos bloquistas neste comício, que contou com animação musical, foi o de apelar à mobilização dos cidadãos “contra a direita”. Ana Drago, candidata à Assembleia Municipal de Lisboa, sublinhou que esta é uma campanha diferente: “Não nos devemos enganar. A campanha que temos pela frente não é uma campanha semelhante a outras”, afirmou, acrescentando que os cidadãos enfrentam “um país destroçado” pelo Governo, pela troika, e pela austeridade.

“Os resultados estão vista”, afirmou, culpando o Governo pelo aumento do desemprego e pelo “empobrecimento alarmante de tantas camadas da população”. Chamou ainda a atenção para os problemas que enfrentam os mais jovens, “a geração mais qualificada”, e cujo futuro, notou, passa pela precariedade ou pela emigração. “A palavra fome inscreveu-se no debate político como já não havia memória”, alertou.

Partindo da ideia de que as questões das desigualdades sociais são as que contam nestas eleições, Ana Drago salientou que em Lisboa elas são mais “visíveis”. E aproveitou para criticar o candidato do PSD/CDS/MPT, Fernando Seara, acusando-o de não ter no programa preocupações sociais, estando antes empenhado sobretudo na proposta de construir um túnel no Saldanha. “Fernando Seara não está com dois pés em Lisboa, nem com um nem com nenhum. Estou certa que os lisboetas dirão: fora daqui”, afirmou, numa alusão ao slogan da campanha de Seara.

Apesar de admitir que “as maiores dificuldades criadas aos lisboetas” – desemprego, habitação, transportes, saúde, escolas, entre outros sectores que enumerou – são da responsabilidade do Governo e que o candidato socialista e actual autarca, António Costa, tem “um programa mais ousado” do que Seara no que toca a questões sociais, Ana Drago considera que a governação de Costa teve bloqueios. Diz que o BE está apostado em “desbloquear esses impasses” – transportes, combate a interesses imobiliários e habitação são algumas das preocupações.

Também o bloquista Francisco Louçã aproveitou para criticar as políticas de austeridade, a troika, os despedimentos, a “gula das privatizações”. “A esquerda que conta é a que está contra a direita, contra a troika e contra a chantagem da finança”, disse, acusando o PS de António José Seguro de só querer dialogar com o PSD e o CDS. “A quem não sabe se vai votar ou em que vai votar, o BE é uma resposta”, apelou.

Por seu lado, a coordenadora do BE, Catarina Martins, acusou o Governo de querer dividir o país entre os do sector público e o privado, os que trabalham e os reformados: “Não é verdade, é um só país”, afirmou, frisando que o BE não aceita “esta política de guerra e de terror, de dividir o país”. “Nas eleições de 29 de Setembro o Governo tem de ser derrotado”, apelou. “Sabemos o que tem sido feito ao país, sabemos o que está em avaliação nestas autárquicas”, disse.

Notícia substituída dia 14/09/2013, às 13h30.

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