Morreu Glen Larson, o criador do KITT e da nave Galactica

Argumentista e produtor americano teve uma longa carreira de sucesso e alguma polémica na televisão.

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KITT era o “carro inteligente” conduzido por David Hasselhoff na série televisiva O Justiceiro DR

Serão muito poucos os que não se lembram de KITT, o “carro inteligente” conduzido por David Hasselhoff na série televisiva O Justiceiro. Mas quase ninguém recordará o nome do seu criador: o argumentista e produtor americano Glen A. Larson, que morreu na passada sexta-feira em Los Angeles, aos 77 anos de idade, de cancro do esófago, e esteve ligado a um sem-número de séries de sucesso da televisão dos anos 1970 e 1980.

Entre nós foram O Justiceiro e Galactica, acompanhando os últimos sobreviventes da raça humana em busca de um planeta onde se refugiar, as séries mais conhecidas que Larson criou, exibidas na RTP aos domingos à tarde. Nos EUA os pontos altos da carreira de Larson são ainda hoje Magnum P. I., sobre um ex-militar tornado detective privado, que fez do actor Tom Selleck uma vedeta, e Quincy M. E., sobre o quotidiano de um médico legista. Ambas as séries, curiosamente nenhuma delas exibida em Portugal, duraram oito temporadas (de 1976 a 1983 para Quincy e de 1980 a 1988 para Magnum), numa altura em que Larson tinha um grande número de outras séries em exibição: The Fall Guy, O Justiceiro, The Misadventures of Sheriff Lobo, Automan ou Buck Rogers no Século XXV.

Antigo integrante do grupo The Four Preps, onde era vocalista e compositor, Larson nasceu em Long Beach, filho de imigrantes suecos, e começou a trabalhar na televisão na década de 1960, escrevendo para séries como O Fugitivo. Ajudou a criar o conceito de “homem biónico” com The Six Million Dollar Man. Os seus primeiros sucessos surgiram com McCloud, sobre um xerife transplantado para a grande cidade, e Alias Smith e Jones, western cómico inspirado no sucesso de Dois Homens e um Destino, o filme com Robert Redford e Paul Newman.

Essa “inspiração” tornar-se-ia numa “marca registada” de muitas das séries criadas e produzidas por Larson, que “reciclavam” ideias de outras séries ou filmes ou se limitavam a apanhar o comboio do momento. Galactica e Buck Rogers no Século XXV aproveitaram a imensa popularidade da Guerra das Estrelas, Automan, sobre um “homem virtual” que ganhava existência física fora do computador, era uma “variação” sobre Tron, e The Fall Guy, sobre as aventuras de um duplo de cinema, explorava o êxito obtido por Burt Reynolds com o filme Hooper.

O actor James Garner teria chegado a esmurrar Larson por considerar que o argumentista tinha sistematicamente plagiado episódios da sua série The Rockford Files – e um dos muitos pilotos que produziu e nunca chegaram a série, Benny & Barney, era um plágio descarado de Starsky & Hutch.

Isso nunca impediu Larson de continuar a lançar séries, embora muita da sua produção tenha durado pouco mais que uma temporada e pelo menos uma delas seja ainda hoje considerada uma das piores séries de televisão de sempre: Manimal, com Simon McCorkindale no papel de um professor universitário capaz de se transformar em animais selvagens.

Mas como quem ri melhor ri por último, uma reinvenção de Galactica, mantendo a premissa original mas alterando-lhe completamente a tonalidade, surgiu em 2007 para se tornar numa das séries-chave da “nova era dourada” da televisão por cabo americana. A Galactica original foi cancelada ao fim de uma temporada em 1978; a nova iteracção, aprovada por Larson mas sem o seu envolvimento criativo, durou quatro temporadas aclamadas pela crítica e pelo público. Já a tentativa de relançar O Justiceiro em 2008 se ficou pela solitária temporada – embora o argumentista estivesse a trabalhar numa potencial versão para cinema que a sua morte deixa no limbo.

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