Criança encontrada dentro de mala na fronteira de Ceuta

Menino marfinense de oito anos foi encontrado na fronteira de Marrocos com Ceuta.

Imagem do scanner que revelou que a criança estava dentro da mala
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Imagem do scanner que revelou que a criança estava dentro da mala AFP/GUARDIA CIVIL
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Abou tem oito anos e nasceu na Costa do Marfim. Na quinta-feira, foi encontrado no interior de uma mala de viagem transportada por uma mulher que foi barrada na fronteira de Marrocos com Ceuta. “Nos muitos anos de trabalho que tenho, nunca tinha visto uma entrada de um menor [em Ceuta] tão grotesca e dramática”, desabafou o porta-voz da Guardia Civil local. Segundo as autoridades, foi a forma encontrada pelo pai de Abou para conseguir que o seu filho fosse consigo para as Canárias, em Espanha, onde tem autorização de residência.

Terá sido o nervosismo da marroquina de 19 anos que carregava a mala à chegada da zona de controlo fronteiriço em Tarajal, a única fronteira a separar Marrocos de Ceuta, que denunciou o caso. Inicialmente, as autoridades pensaram que poderia tratar-se de um caso de tráfico de droga, mas, ao passarem a mala pelos scanners, descobriram um ser humano no interior da mala. Era Abou. A criança, em posição fetal, estava entre algumas peças de roupa. As autoridades retiraram de imediato o rapaz da mala. A primeira coisa que disse foi o seu nome e que vinha da Costa do Marfim. “Estava com medo e surpreso. Tentámos acalmá-lo, para que não tivesse medo", adiantou o porta-voz da Guardia Civil de Ceuta, Alfonso Cruzado, ao El Mundo.

Abou foi entregue à protecção de menores de Ceuta, que irá analisar com as autoridades se a criança será enviada para um centro de acolhimento para menores, enquanto se tenta chegar ao contacto com familiares na Costa do Marfim. A jovem marroquina que tinha transportado a mala ficou detida.

O que se tinha passado até ali com Abou só foi desvendado cerca de uma hora e meia depois, quando um homem, de 42 anos, se apresentou junto das autoridades na fronteira de Tarajal, com uma autorização de residência em Las Palmas de Gran Canaria, nas Canárias. O que despertou a atenção dos guardas foi o facto de o homem também vir da Costa do Marfim. Após um curto interrogatório, onde terão sido mostradas imagens da criança dentro da mala, o homem confessou que era pai do menor. “Só queria levá-lo comigo para as Canárias”, disse o homem à polícia, conta o El País.

O pai de Abou foi ouvido esta sexta-feira por uma juíza de instrução em Ceuta, que decretou a sua prisão preventiva, bem como à mulher que levava a criança. Segundo o El País, estão ambos acusados de um crime contra os direitos dos cidadãos estrangeiros, com a agravante de terem colocado em risco a vida do menor.

O jornal espanhol indica que o marfinense terá tentado pedir às autoridades espanholas que a sua família fosse autorizada a juntar-se a ele nas Canárias, mas o pedido foi negado. À juíza, o marfinense afirmou que não sabia que o filho estava no interior de uma mala e que essa tinha sido a forma encontrada para o fazer passar a fronteira. O El Mundo adianta, por sua vez, que o homem é suspeito de ter pago à jovem marroquina para que conseguisse que Abou não fosse detectado e chegasse a Ceuta.

Desconhece-se ainda os contornos da ligação entre a mulher marroquina e o pai de Abou e durante quanto tempo a criança esteve no interior da mala.

Este é um dos casos mais recentes da tentativa desesperada de milhares de pessoas em entrar em território europeu. Os casos mais dramáticos passam-se no mar, durante as tentativas de chegar a terra em barcos sobrelotados e sem quaisquer condições de segurança a troco de milhares de euros. Estima-se que só em Abril tenham morrido 1200 pessoas no Mediterrâneo.

À procura de melhores condições de vida que não têm no seu país natal ou em fuga de zonas de conflito onde sobreviver é um desafio diário, são muitas as pessoas vindas de países africanos que tentam chegar a Espanha a partir de Ceuta ou Melilla. Ao El Mundo, elementos da Guarda Civil das duas cidades relatam casos de pessoas que chegam à fronteira escondidas debaixo de carros e camiões, debaixo de bancos ou junto aos motores. Também já foram encontradas escondidas entre blocos de cartão ou papel destinados a reciclagem ou em depósitos de material incinerado ou de cimento.
 
Notícia actualizada às 15h30: Acrescenta informação de que o pai da criança e a mulher marroquina ficaram em prisão preventiva.

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