Lego não quer que Ai Weiwei use as suas peças em obras de arte

Estúdio do artista encomendou uma grande quantidade de legos e a empresa recusou porque “não podem aprovar o uso de Legos para obras políticas”.

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Ai Weiwei David Gray/REUTERS

O artista chinês Ai Weiwei denunciou na sexta-feira que a dinamarquesa Lego recusou a sua encomenda de peças, que se destinavam à criação de obras, por motivos políticos.

Num post da rede social Instagram, o dissidente chinês escreveu que em Setembro a Lego recusou uma encomenda do seu estúdio “para criar obras para mostrar na National Gallery de Victoria” na Austrália porque “não podem aprovar o uso de Legos para obras políticas”, cita Ai Weiwei. O artista prossegue o seu post acrescentando que “no dia 21 de Outubro, uma empresa britânica anunciou formalmente que vai abrir uma nova Legoland em Xangai como um dos muitos negócios da ‘Era de Ouro’ entre o Reino Unido e a China” – Legoland são os parques temáticos da Lego.

No comentários ao post, vários utilizadores da rede social oferecem-se para enviar peças de Lego ao artista, criticam a Lego ou questionam o artista sobre qual é o objectivo das suas palavras.

O diário britânico Guardian esclarece que Ai Weiwei se refere à empresa Merlin Entertainments que, com uma parceira chinesa, vai então trabalhar na empreitada do parque, e situa o anúncio no tempo: aconteceu durante a visita de Estado do Presidente chinês Xi Jinping ao Reino Unido.  Este sábado, o artista publicou mais duas imagens de peças de Lego na sua versão de registo de patente na sua conta de Instagram.

No passado, o artista já usou peças Lego nas suas obras – a sua peça Trace representava mais de 175 prisioneiros políticos ou por objecção de consciência (Nelson Mandela, Edward Snowden ou Liu Xiaobo).

A exposição para a qual Ai Weiwei está a trabalhar inaugura-se em Melbourne a 11 de Dezembro e será a maior mostra de arte contemporânea de sempre da National Gallery. Ai Weiwei, que partilha a mostra com Andy Warhol, só este ano recuperou o seu passaporte depois de estar impedido de sair da China desde 2011, quando foi detido com outros activistas. Passou 81 dias em isolamento na prisão por alegada fraude fiscal e bigamia, mas acabou por ser libertado sem nunca ter chegado a ser acusado de nenhum crime. Mais tarde, foi multado por fuga aos impostos, mas sempre disse que as acusações eram motivadas pelas suas críticas ao Governo chinês.

Viajou para a Europa pouco depois e reuniu-se com os filhos em Berlim. O Reino Unido forneceu-lhe um visto especial de seis meses na iminência da exposição que lhe é dedicada desde Setembro e até meados de Dezembro na Royal Academy of Arts, mas não sem polémica – o Governo britânico inicialmente acusou-o de não ter declarado a sua condenação pelas autoridades chinesas nos formulários de candidatura ao visto, apesar de não ter sido formalmente condenado pelo regime de Beijing. 

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