Passos Coelho: "Ficar seria oferecer a caricatura de que estamos agarrados ao poder"

Líder do PSD admite que resultado nas autárquicas foi "mau" e o deixa sem margem de manobra.

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Passos Coelho no Conselho Nacional desta noite Nuno Ferreira Santos
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Passos Coelho no Conselho Nacional desta noite,Passos Coelho no Conselho Nacional desta noite Nuno Ferreira Santos,Nuno Ferreira Santos

Palmas à entrada, sala cheia, silêncio. Passos Coelho, em tom de lamento e de desabafo, justificou a sua decisão de não se recandidatar à liderança do PSD com um resultado das autárquicas “pesado” e a intenção de mostrar que não está agarrado ao lugar. Depois de longos minutos a defender a afirmação de uma nova liderança será melhor para o partido, Passos Coelho também disse que não andará por aí a “rondar” nem a “assombrar” mas também não ser vai “calar para sempre”. O líder mantém-se em funções e “não deixa o partido em gestão”. Neste tempo de transição, lançou dois nomes como os seus herdeiros: Paulo Rangel, eurodeputado e vice-presidente do Partido Popular Europeu, e Hugo Soares, líder parlamentar.

Assumindo que foi surpreendido pelos resultados de domingo, Passos Coelho considerou que “também responsabilizam e penalizam a direcção nacional”. “O partido não ficará em gestão, mas como não saio ileso não deixo de tirar consequências para o futuro e essa consequência exprime-se na decisão de não me recandidatar”, disse, confirmando a decisão já anunciada esta tarde à comissão política nacional.

Passos Coelho empregou um tom sincero à declaração – “é o que sinto” – e justificou a sua decisão: “Na avaliação que faço das circunstâncias políticas, a afirmação de uma nova liderança do PSD e da estratégia associada terá melhores possibilidades de progressão e de progresso do que uma que eu pudesse encabeçar”. Mais à frente, o líder afastou a ideia de ter uma “obstinação com os lugares”. Só com as ideias. “Ficar seria oferecer com facilidade a caricatura de que estamos agarrados ao poder interno, e como já foi sugerido a gratidão com as lutas e resultados passados”, afirmou. 

Com o argumento da crítica que costuma fazer à geringonça – que só “pensa no presente” – Passos Coelho quis dar uma dimensão de nobreza e de futuro à sua decisão. “A nossa acção política precisa de ser ambiciosa, o país precisa dela e eu não estou em condições de oferecer essa perspectiva ao PSD”, afirmou, assumindo que não era esta a sua vontade nem que não foi por falta de apoios que sai do cargo: “Sinto esta decisão como lúcida, mas não como um desejo”. Apelando à mobilização dos militantes para a nova fase do partido, o líder mostrou-se disponível para, se o conselho nacional quiser, antecipar o calendário das directas para Dezembro. Foi entretanto apresentada uma proposta para um novo conselho nacional, já dia 9, para marcar as eleições e o congresso.

Já o discurso ia a mais de meio quando Passos Coelho arrancou uma salva de palmas. Foi quando garantiu que vai continuar a lutar pelas suas ideias. “O facto de não ser candidato à liderança não significa que me vá calar para sempre”, disse, acrescentando que não fará sombra à futura liderança: “Não ficarei cá a rondar, nem a assombrar coisa nenhuma. Não é a minha maneira de estar”. “Quaisquer que sejam os protagonistas poderão contar com a minha lealdade”, reforçou.

Assegurando que não se vai envolver na disputa eleitoral, Passos Coelho deu liberdade aos membros dos órgãos nacionais para apoiarem quem entenderem. Mas falou nos nomes de Rangel e de Hugo Soares, os únicos que referiu. “De um lado com o Hugo, do outro com Rangel aproveitaremos bem o tempo para dizer que o PSD é um pilar de estabilidade e de construção do futuro”, rematou.

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