Mafalda Veiga em solo absoluto por causa de uma guitarra azul

Em solo absoluto, mas rodeada de guitarras, Mafalda Veiga começa esta sexta-feira uma digressão por salas municipais. É a primeira vez, e por causa de uma guitarra azul.

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Mafalda Veiga ®JOANA LIMA ROCHA
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Mafalda Veiga ®JOANA LIMA ROCHA

No ano em que se completam 35 anos da sua primeira composição (Velho, de 1983) e três décadas depois de lançar o primeiro disco, Pássaros do Sul (1987), Mafalda Veiga vai começar uma digressão em solo absoluto, coisa que até agora sempre recusou fazer.

“Há anos que me desafiam a fazer um espectáculo sozinha. E eu nunca quis fazer”, diz ela ao PÚBLICO. “Quando comecei a tocar, tinha mesmo pânico de palco, assustava-me imenso; então a companhia dos músicos era muito confortável. Depois também não sou uma instrumentista muito virtuosa, há muitas canções que eu escrevia e depois sentia um prazer enorme em ouvi-las tocadas por outros músicos.” Mas algo se alterou com o tempo, diz Mafalda. “O que eu senti que mudou mais foi a minha relação com o palco e com as salas. Hoje acho que o palco pode ser um lugar de maior intimidade, mesmo com plateias muito grandes. Pensando bem, é dos sítios onde me expus mais até hoje, onde fui capaz de dizer coisas minhas, emoções, de maneira mais exposta. E essa relação que eu passei a ter com o palco e a plateia, que deixaram de me assustar, deve-se a coisas muito pequenas. Por exemplo: eu não consigo olhar para uma plateia completamente às escuras, preciso de vez em quando ter um vislumbre do público.”

O espectáculo chama-se Crónicas da Intimidade de Uma Guitarra Azul, e não foi por diletantismo que escolheu um nome tão comprido. Ela tem uma justificação plausível: “Sou viciada em guitarras, estou sempre apaixonada por uma. Não só guitarras, gosto de comprar instrumentos mais antigos, como um Wurlitzer ou um Fender Rhodes, tudo isso fui comprando e tenho. Mas há imenso tempo que andava com vontade de ter uma guitarra azul, só que não podia ser um azul qualquer. Queria que fosse eléctrica, mas também podia ser semi-acústica.” Até que a encontrou: uma Telecaster Nashville, com três pick-ups em vez de dois. Foi o que bastou para voltarem a desafiá-la a tocar a solo. Só que, desta vez, ela aceitou. “Peguei na guitarra, fui descobrindo sons, construindo canções de outra maneira (também comprei pedais, que nunca usei ao vivo e vou começar a usar agora), e concordei: embora lá pensar num espectáculo sozinha.”

Cantar Luka em português

Entre guitarras eléctricas e acústicas, tocará nesta digressão essa Telecaster (“tem uma cor linda e o som é muito bom também”) mas também outras da sua colecção, como uma Guild comprada num leilão, datada de 1966, um ano depois de Mafalda nascer (“foi por isso que a comprei, e tem um som incrível”). As canções escolhidas, nem sempre as mais conhecidas, virão de várias épocas, embora o seu mais recente disco, Praia, ainda tenda a sobressair no repertório. “Os discos são sempre um reflexo do que nós somos na altura”, diz Mafalda. “E eu tenho sentido isso agora, quando pego em canções antigas e sinto que algumas palavras já não me pertencem, ou pelo menos já não me identifico com elas. Sinto que ao longo dos anos tendemos a simplificar, a ir deixando as nossas ‘cascas’ para ficarmos mais perto daquilo que somos, da nossa identidade. Praia vem nesse sentido, é um disco mais despojado e mais emocional.”

Em palco, a par das guitarras, ela vai também construir “loops”, em camadas, e talvez use alguma sequenciação pré-gravada. “Há muitas canções onde eu vou tocar guitarra, mas há outras onde vou construir algum ambiente e algum arranjo ao vivo, sem rede.” Não só em repertório próprio. Vai também introduzir temas de outros autores, com adaptação para português de Rui Reininho. “Sou super-fã do Rui a escrever e também a fazer adaptações de outras letras.” Dois exemplos, de entre as canções que ela cantará agora: Luka, de Suzanne Vega (“Foi ideia dele”) e Love me tender, de Elvis Presley.

A digressão de Mafalda Veiga começa esta sexta-feira, 26 de Janeiro, em Aljustrel (no Cine-Teatro Oriental, às 21h30) e prossegue dia 27, em Sesimbra (no Cine-teatro João Mota, às 21h30) e a 10 de Fevereiro em Beja (Pax Julia Teatro Municipal, 21h30). Outras salas e cidades, diz a cantora, serão anunciadas oportunamente.

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