Jorge Sampaio: timoneiro, resistente e espírito livre

Homem de partido, não levou o partido para Belém, tantas vezes com a incompreensão dos seus compagnons de route, que, aqui e ali, se desiludiram com o espírito de magistratura com que assumiu a chefia do Estado.

Foi um timoneiro, tendo como leme, em todo o quotidiano, a retidão e as virtudes cívicas da generosidade e da solidariedade. Mas não só. Fez do combate pela dignidade, no pão e na alma, de cada homem, uma regra de vida, o vademécum que cumpriu com todos e em todas as latitudes, nos mais pequenos detalhes. Foi isso que levou com a toga para os tribunais, quando eram perseguidos os que lutavam por uma sociedade livre e justa. E é por isso que, desde a juventude, se compromete nas lutas estudantis, na oposição militante à ditadura; e que quando o seu partido, o PS, vacila, em 89 e 95, se sagra general à frente das tropas, e avança, serena, mas determinadamente, para as chefias de Lisboa e da República, que eram lugares privilegiados para organizar a cidade e cuidar dos direitos humanos.

Homem de partido, não levou o partido para Belém, tantas vezes com a incompreensão dos seus compagnons de route, que, aqui e ali, se desiludiram com o espírito de magistratura com que assumiu a chefia do Estado, em tempos tão conturbados como os que viram os acontecimentos de Timor, o progressivo descrédito e ineficácia da justiça, a instabilidade política que acabou por exigir intervenção presidencial para dar voz ao povo e respeitar o veredito das urnas.

Nos anos do fim, com a determinação de sempre, não se reformou da generosidade e da solidariedade, e foi cuidar dos novos párias, os refugiados, restituindo-lhes a dignidade roubada por guerras e perseguições.

Foi um resistente e um espírito livre. Bem hajas, querido amigo.

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