Estudo ajuda a escolher antibióticos para combater abcessos ou infecções no sangue

A estrutura da bactéria Staphylococcus aureus pode determinar a melhor forma de responder clinicamente. Esta bactéria é a principal causa de morte em Portugal, associada à resistência microbiana.

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A equipa de cientistas da Universidade de Coimbra, composta por Ana Eulálio, Laura Alcântara, Inês Rodrigues Lopes e Miguel Mano Universidade de Coimbra

Um estudo coordenado pela Universidade de Coimbra (UC) revelou uma descoberta sobre a Staphylococcus aureus, que poderá ajudar a escolher o melhor antibiótico contra aquela bactéria.

O novo estudo, liderado por cientistas do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC, agora publicado na revista científica Nature Communications, mostrou que a bactéria Staphylococcus aureus “tem um estilo de vida intracelular (no interior da célula hospedeira) predominante, o que pode justificar a mudança dos critérios clínicos para escolha de antibióticos contra esta bactéria”.

A Staphylococcus aureus é uma bactéria frequentemente encontrada na pele e nas fossas nasais de pessoas saudáveis, explica a UC em comunicado, que pode provocar doenças que vão desde simples infecções na pele (abcessos, celulite) até a infecções mais graves, como pneumonia, endocardite ou bacteremia (infecção no sangue).

O estudo apresenta uma análise em larga escala de 191 isolados clínicos de Staphylococcus aureus, provenientes de doentes com osteomielite (infecção óssea), artrite infecciosa, bacteremia e endocardite, e a sua interacção com vários tipos de células hospedeiras (células alvo da bactéria) ao longo do tempo.

“Apesar de a Staphylococcus aureus ser normalmente descrita como um patógeno extracelular, a quase totalidade dos isolados clínicos de Staphylococcus aureus testados neste estudo (mais de 98%) foram internalizados por vários tipos de células hospedeiras, em contexto laboratorial”, adianta Miguel Mano, um dos líderes do estudo.

“Foi ainda provado que uma grande parte destes isolados tem capacidade de se replicar e persistir no interior das células hospedeiras”, acrescenta o investigador. Com estes resultados é evidenciada a necessidade de uma mudança no paradigma no tratamento de infecções por Staphylococcus aureus.

“A escolha da terapia para eliminar efectivamente este patógeno deverá considerar não só o perfil de susceptibilidade da bactéria a antibióticos, como é feito actualmente, mas também os diversos estilos de vida intracelular da Staphylococcus aureus”, constata outra responsável por este estudo, Ana Eulálio.

“A terapia escolhida deverá assegurar a sua eliminação no interior das células, pois a falta de efeito intracelular dos antibióticos pode levar à falha do tratamento, traduzindo-se em infecções recorrentes ou crónicas”, refere ainda Ana Eulálio, investigadora no CNC e no Instituto de Biomedicina (iBiMED) da Universidade de Aveiro.

As bactérias multirresistentes a antibióticos são cada vez mais comuns, o que dificulta seriamente o tratamento de infecções bacterianas, referiu a Universidade de Coimbra, explicando que a Staphylococcus aureus é uma bactéria que apresenta resistência a diversos antibióticos e constitui actualmente a segunda causa mais comum de morte associada à resistência antimicrobiana a nível mundial e a primeira em Portugal.

Este trabalho foi realizado em colaboração com cientistas do Centro Internacional de Investigação em Infecciologia (Lyon, França), do Centro Nacional de Referência para Estafilococos do Instituto de Agentes Infecciosos (também em Lyon) e do Centro de Biotecnologia do Conselho Nacional de Investigação de Espanha. A investigação contou com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, do Consórcio ERA-NET Infect-ERA e do European Horizon 2020 Marie Sklodowska-Curie.

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