Quatro dias depois, Costa e Marcelo jantaram juntos por Guterres

Primeiro-ministro e Presidente da República estão em Espanha a convite do rei Felipe VI, para a entrega do Prémio Carlos V a António Guterres, na terça-feira.

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Rei de Espanha com o secretário-geral da ONU e o primeiro-ministro e Presidente portugueses EPA/J. J. Guillen
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Quatro dias depois do “puxão de orelhas” público do Presidente da República ao primeiro-ministro por causa de João Galamba, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa partilharam esta segunda-feira à noite a mesma mesa de jantar. Foi no Mosteiro de São Jerónimo de Yuste, em Cuacos de Yuste, na província espanhola de Cáceres, a convite do rei Felipe VI, por ocasião da entrega do Prémio Carlos V ao secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, que também partilhou a mesma mesa.

É a primeira vez que Marcelo e Costa se encontram depois da reunião de quinta-feira passada e da declaração ao país em que o Presidente criticou a manutenção de Galamba no Governo, mas também dos recados que entretanto trocaram nos dias que se seguiram.

No mosteiro, que será palco na terça-feira de manhã da cerimónia de entrega do prémio a António Guterres, Marcelo e Costa apareceram com os restantes convidados numa das varandas do claustro e estiveram sempre de sorriso no rosto, mas não se viu que tenham trocado muitas palavras entre si.

O grupo de comensais era bastante reduzido: além do rei, do Presidente e do primeiro-ministro portugueses, estavam presentes António Guterres e a mulher, Catarina Vaz Pinto; o alto-representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell; o ministro dos Negócios Estrangeiros, UE e Cooperação espanhol, José Manuel Albares; e o presidente da Junta da Extremadura, Guillermo Fernández Vara.

António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa chegaram em separado ao mosteiro – como é do protocolo, o primeiro-ministro chegou primeiro. Mas o Presidente da República só chegou depois de o rei Felipe VI já se encontrar no edifício. O rei chegou a Cuacos de Yuste de helicóptero quase em cima da hora marcada para o jantar (20h30) e depois percorreu de carro os cinco minutos de estrada até ao mosteiro. Não é habitual o monarca oferecer um jantar de honra prévio por ocasião do Prémio Europeu Carlos V, assinalou a imprensa espanhola, mas a opção da Casa Real prender-se-á com as relações diplomáticas dos dois países e também pela proximidade entre os dois chefes de Estado. Além disso, António Guterres teve também um encontro com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

Na pequena vila de Cuacos de Yuste está montado um enorme aparato de segurança, com dezenas de elementos da Guardia Civil pelas ruas e cruzamentos, jipes estacionados em várias entradas da floresta que a rodeia e dezenas de seguranças à paisana. Habituados à azáfama por alturas da entrega do prémio no mosteiro onde Carlos V passou os últimos dois anos de vida, alguns moradores juntaram-se no cruzamento da única estrada de acesso ao mosteiro para saudar o rei.

Na passada sexta-feira, o primeiro-ministro procurou desdramatizar as críticas do Presidente e insistiu nos elogios a João Galamba; no sábado, o Presidente da República voltou a reclamar a necessidade de fazer o crescimento económico de que tanto se gaba o Governo chegar à vida quotidiana dos portugueses e, já nesta segunda-feira, promulgou um decreto do Governo sobre os concursos de professores mas não se coibiu de dizer, de forma inédita, que até propôs ao executivo que alterasse o texto (que não o aceitou), nem de criticar o resultado final.

Apesar de os dois (especialmente António Costa) tentarem passar a ideia de que os ânimos estão serenados, esta parece ser uma paz artificial e a prazo. No sábado, quando se encontrava na embaixada de Portugal em Londres, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou não tencionar pronunciar-se sobre o assunto “nas próximas semanas”. “Tudo o que quis abordar, abordei, não quero acrescentar mais nada. Penso que fui muitíssimo claro no que queria dizer. Fui curto – admito – mas foi claro. Está dito, está dito em palavras acessíveis. Não vou hoje, nem daqui a uma semana, duas semanas, três semanas pronunciar-me."

Este calendário poderá querer dizer que o seu discurso do 10 de Junho será a oportunidade para o Presidente da República, no Dia de Portugal, voltar a falar da “responsabilidade, confiabilidade, credibilidade e autoridade” que devem fazer por merecer os governantes.

Aos jornalistas, as assessorias do Presidente da República e do primeiro-ministro comunicaram que não haveria lugar a declarações nem na noite desta segunda-feira, nem na manhã de terça-feira. Mas, pelo menos por agora, António Guterres contribuiu para a paz entre as duas principais figuras da governação do país.

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