Doenças podem matar mais do que os bombardeamentos em Gaza, alerta a OMS

Organização Mundial de Saúde preocupada com o aumento de doenças infecciosas no enclave, particularmente entre bebés e crianças. Libertados mais 12 reféns e 30 palestinianos no quinto dia de trégua.

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Uma das reféns libertada esta terça-feira pelo Hamas Reuters/AL-QASSAM BRIGADES, MILITARY WIN
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No dia em que o Hamas libertou mais 12 reféns e Israel retribuiu com a saída da prisão de mais 30 palestinianos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou um alerta: poderão morrer mais pessoas em Gaza de doença do que em resultado dos bombardeamentos israelitas se o sistema de saúde do território não for reconstruído.

“Acabaremos por ver mais pessoas a morrer de doença do que devido aos bombardeamentos, se não formos capazes de reconstruir este sistema de saúde”, disse Margaret Harris, porta-voz da OMS, durante uma reunião da organização em Genebra.

Harris reiterou a sua preocupação com o aumento das doenças infecciosas, particularmente dos casos de diarreia em bebés e crianças, em que se registou um aumento de mais de 100 vezes em relação aos números normais registados no início de Novembro.

“Toda a gente, em todo o lado, tem agora necessidades de saúde urgentes, porque estão a passar fome, porque não têm água potável e porque estão amontoados num espaço muito reduzido”, disse, acrescentando: “Não há medicamentos, não há vacinação, não há acesso a água potável e higiene e não há alimentos”.

De acordo com os termos da pausa nos combates, que na segunda-feira foi estendida por mais dois dias, Israel tem permitido a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza, incluindo alimentos, água e medicamentos, embora as agências de auxílio alertem que não é suficiente para satisfazer as imensas necessidades das pessoas que vivem no enclave.

James Elder, porta-voz da Agência das Nações Unidas para a Infância em Gaza, disse que os hospitais do território estavam cheios de crianças com queimaduras e feridas de estilhaços e com gastroenterite provocada pela ingestão de água suja.

“Encontrei-me com muitos pais... Eles sabem exactamente do que os seus filhos precisam. Não têm acesso a água potável e isso está a prejudicá-los”, referiu Elder, descrevendo a seguir ter visto uma criança a quem faltava parte da perna deitada no chão do hospital durante várias horas, sem receber tratamento por falta de pessoal médico. Outras crianças feridas estavam deitadas em colchões improvisados em parques de estacionamento e jardins exteriores. “Em todo o lado, os médicos têm de tomar decisões horríveis sobre a quem dão prioridade”, acrescentou.

Reféns libertados

Ao quinto dia de trégua nos combates, o penúltimo se o acordo não for novamente prolongado, o Hamas libertou mais 12 reféns, informou o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV). As Forças Armadas israelitas confirmaram que os 12 reféns - 10 cidadãos israelitas e dois estrangeiros - já estavam em território israelita, acompanhados por soldados das forças especiais das IDF.

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, nação que está a mediar a troca de reféns do Hamas por palestinianos encarcerados nas prisões israelitas, adiantou que os reféns libertados incluíam nove mulheres e um menor. Alguns dos reféns foram entregues pelas Brigadas Al-Quds, o braço armado do movimento palestiniano Jihad Islâmica.

Em contrapartida, Israel libertou 30 detidos palestinianos - 15 mulheres e 15 adolescentes do sexo masculino, segundo o Clube dos Prisioneiros Palestinianos, uma organização semi-oficial. Em comunicado, os serviços prisionais israelitas informaram que os 30 palestinianos foram libertados da prisão de Ofer, perto de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, e de um centro de detenção em Jerusalém.

O prolongamento da trégua para além de quarta-feira continuava a ser discutido em Doha, capital do Qatar, onde as autoridades do Estado do golfo receberam os chefes da Mossad e da CIA para uma reunião destinada a “aproveitar o progresso do acordo de pausa humanitária alargada e iniciar novas discussões sobre a próxima fase de um potencial acordo”, segundo um responsável citado pela Reuters.

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