Mudar por obrigação, decidir sob pressão

Para que o projecto europeu prossiga e caminhe em direcção a um futuro melhor é necessário, além da vontade política, uma ligação forte e sólida dos cidadãos à UE.

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Faltam menos de dois meses para as eleições para o Parlamento Europeu, um acto eleitoral que serve também de barómetro sobre a ligação dos europeus à União Europeia. Em Portugal, por exemplo, a abstenção nas eleições europeias supera habitualmente a ausência de participação nos restantes actos eleitorais. O que é lido como um afastamento face à Europa e uma deficiente percepção pública sobre a influência que as decisões tomadas em Bruxelas e Estrasburgo têm no dia-a-dia em Lisboa, Bragança ou Vila Real de Santo António.

Lendo a entrevista de Teresa de Sousa a António Vitorino, antigo comissário europeu, percebe-se que o desafio que a União Europeia tem pela frente é enorme. Mas simples de resumir, ao mesmo tempo. “A única opção é mudar, porque mais do mesmo não serve”, diz Vitorino, que elenca “quatro coisas fundamentais” que precisamos — nós como um todo de fazer. O que impressiona é que a primeira das tais quatro coisas que Vitorino refere é um regresso às origens. “Construir uma potência geopolítica, o que significa garantir a segurança e o bem-estar dos cidadãos europeus, que foi precisamente aquilo que os pais fundadores quiseram, nos anos 1950, quando criaram as Comunidades Europeias.”

Para o antigo comissário, a Europa tem ainda de alcançar a liderança tecnológica, garantir a coesão das várias comunidades e assegurar os valores da democracia.

Se, por um lado, este pode ser o projecto futuro de uma Europa que está a ficar para trás, o presente mostra-nos sinais de protelamento que vêm de dentro das instituições e das regras que as regem, bem como da vontade política. Ou antes, da falta dela. Na semana passada, os eurodeputados confirmaram o apoio ao acordo político firmado em Dezembro entre os Estados-membros para regular o funcionamento dos fluxos migratórios. Um pacto que serve de resposta a um problema de ontem e que se arrisca a entrar em vigor sem garantias de que sirva as necessidades da altura, já que as suas regras só começam a ser aplicadas em 2026. Uma reforma que precisou de três anos para estar fechada e que só viu a luz do dia porque a UE vai a eleições.

Para que o projecto europeu prossiga e caminhe em direcção a um futuro melhor é necessário, além da vontade política, uma ligação forte e sólida dos cidadãos à UE. No dia 9 de Junho veremos como está essa relação.

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