50 anos a destruir Portugal
Primeiro, construímos aldeamentos em cima do mar e acabámos com as dunas. A seguir, rebentámos as escarpas e bloqueámos os caminhos naturais das areias dos rios até ao mar. Como a natureza é mais forte e não se impressiona com tão pouco, fizemos esporões para proteger as casas em cima das dunas. Mas o mar veio outra vez e destruiu os esporões. Fizemos novos esporões e, a seguir, enchimentos artificiais de areia aos oito milhões de euros de cada vez. Entretanto, fomos tirando areia dos rios para vender à construção civil. E, para complicar o cenário, a Terra começou a aquecer, o gelo a derreter e o mar a subir. Nos últimos 130 anos, subiu 20cm; nos próximos 80, deverá subir entre 60cm e dois metros. Não satisfeitos, voltámos a fazer campos de esporões, que o mar voltou a comer. Insistimos e construímos calçadões sobre paredões erguidos onde antes havia praia...
Mais tecnologia, menos tecnologia, o ciclo repete-se há 50 anos. Não fazemos outra coisa senão destruir a costa.
Esta semana, um respeitado professor disse numa conferência sobre o litoral português no ICS, em Lisboa, que ter uma empresa de esporões é mais lucrativo do que ser-se proprietário na Avenida da Liberdade. Outra professora disse que o Estado tem de ser firme e coerente nas decisões, mas que os cidadãos também têm de saber que não devem pedir licenciamentos para construir em zonas que sabem que são um risco. Uma terceira apelou a que as câmaras municipais resistissem às pressões sociais e chumbassem projectos mesmo quando reconhecessem que seriam bons para a economia local. Os especialistas falam sobretudo em “desordenamento do território”. Nós, cidadãos, sabemos que eles têm razão. Basta irmos passear.
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