Activa ou passiva, rende sempre a alguém

O significado “de corrupção” que para aqui nos interessa vem em quinto (e último) lugar na explicação do Dicionário de Língua Portuguesa (Verbo, 2006). “Crime assente em formas de aliciamento ou suborno de alguém para a prática de actos ilícitos.”

Segue-se a descodificação de corrupção “activa” e “passiva”. A primeira é “a que alguém comete quando, para obter vantagem ou facilidade, alicia e suborna um funcionário público com bens ou outros benefícios indevidos”. A segunda, “a que um funcionário público comete quando se deixa subornar com bens ou outros benefícios, a troco de actos ou omissões contrários aos deveres do seu cargo”. O dicionário esqueceu-se dos “não funcionários públicos”.

Quem saberá bastante sobre estas práticas são os 51 detidos (construtores e políticos) na segunda-feira em Espanha, numa operação anticorrupção. Ficou a saber-se que “autarcas do PP e do PSOE terão adjudicado obras públicas de 250 milhões de euros em troca de uma comissão de 2% e 3%”. Entre os “corruptos”, está um antigo dirigente do PP em Madrid, Francisco Granado, que já antes estava sob suspeita por alegadamente ter depositado 1,5 milhões de euros numa conta na Suíça.

Mariano Rajoy, chefe do Governo, pediu desculpa a todos os espanhóis, lamentando “ter atribuído cargos a pessoas que não eram dignas para os mesmos e que, aparentemente, abusaram deles”. Acontece muito. Demasiado. E não é exclusivo de Espanha.

O dicionário escolhe uma frase que, até prova em contrário, se poderá adequar a Rajoy: “Se, como político, não é um corrupto, apenas se rodeou de corruptos.”

“Corrupção” também significa “putrefacção”. Cheira a milhas.

 

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