Olha que lindo serviço

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Ninguém ia pedir a Osama Bin Laden o impossível e que desse 4-0 ao Gana esperando que os EUA perdessem com a Alemanha! O verdadeiro milagre está feito: Bin Laden seria hoje um alegre defensor da teoria do “dominó democrático” no Médio Oriente. O mártir islamista e ex-terrorista mais procurado do mundo conseguiu, depois de morto, os objectivos de uma vida. Já não tem de andar escondido, pode desfrutar em paz da sua quota de virgens no céu. 

O Iraque está a desfazer-se para formar um gigantesco estado islâmico cheio de petróleo. Com as refinarias e as cidades nas mãos dos soldados islâmicos radicais do ISIS (Estado Islâmico do Iraque e Levante), tão fanáticos que nem na Al-Qaeda foram aceites há anos... A lei do novo Estado será a sharia. A música foi proibida, as meninas que fujam imediatamente da escola, as mulheres que se calem e tapem a cara. E os infiéis, soldados e civis, apanhados na guerra serão (já estão a ser, aos milhares) fuzilados em massa.

O curioso é que, mais uma vez, a História acaba por dar razão a decisões catastróficas: o Iraque foi invadido em 2003 com o pretexto de que tinha armas de destruição maciça (acusação tão sólida como Passos Coelho dizer que respeita a Constituição); além disso, o ditador Saddam Hussein estaria ligado à Al-Qaeda e envolvido no ataque do 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque (treta sem tamanho nem explicação). Pois bem, neste momento, de facto, muitos dos generais sunitas que estiveram às ordens do sanguinário Saddam estão a acompanhar os rebeldes islamistas (antixiitas) e uma multidão de jovens fanáticos da Síria desfeita, da Tunísia, etc., na conquista do Iraque. E lutam com quê? Com tanques e Humvees americanos largados pelo exército em debandada.

Tudo bate certo, finalmente. Tombam na mesa as fichas do dominó. E tomba também o acesso ao petróleo e os curdos avançam para a independência. Depois de centenas de milhares de mortos, se calhar vai ter de se voltar à guerra total, mas isso agora não interessa nada, até porque o Irão não deixa (agora, os EUA são aliados do Irão, acabarão por lhe dar armas como em tempos a Bin Laden e a Saddam... bolas, não confundam as pessoas). O que importa são os ideais. Os valores democráticos que se implantaram à bomba e que depois se espalharam — doce remédio da nossa civilização — contra o “vírus terrorista” e chega de conversa.

Parabéns aos srs. drs. George W. Bush, Tony Blair, a José Maria Aznar... e a um tal Barroso das Lajes. Eles acertaram: o regime iraquiano não era laico, estava feito com a “guerra santa”. Foi boa ideia a extensão, desde o Afeganistão até Badgad, da “Guerra ao Terror”. Saibamos louvar, em sucinta biografia, a presciência política dos heróis da Cimeira das Lajes, nos Açores, que deu luz verde à invasão.

George W. Bush: nascido em 1946, ganhou em serviço o cognome de “pior Presidente da história dos EUA”. Vai ser difícil tirarem-lhe o título este milénio, mas tenhamos esperança na América. Gostou de entrar em “cruzadas” de guerra, mas não sabe fazer as palavras cruzadas dos tablóides (não vê diferença entre gregos e “grécios”, ou entre sunitas, xiitas e doritos com sabor a presunto). Frequentou Direito em Yale e Harvard, onde conheceu bares e tirou pós-graduação em Etilismo das Elites e Elitismo dos Etílicos. Antes de ser Presidente foi alcoólico e cocainómano. Em 2000, chegou ao poder porque fingiu que tinha ganho as eleições (o opositor Al Gore teve mais votos) e porque fingiu que tinha deixado de beber, renascido por obra de Jesus (que nunca desmentiu ou assumiu as culpas). Baixou os impostos aos mais ricos e quase foi pelo ar no furacão Katrina. Antes disso, a 11 de Setembro de 2001, estava numa escola a ler uma história de carneirinhos e ficou muito incomodado com as novidades. O resto já sabemos.

Tony Blair: político nascido em 1953, primeiro-ministro britânico entre 1997 e 2007. Em 1999, recebeu o prémio Carlos Magno pelo seu contributo para a “unidade europeia”. Em 2014, poderia receber o prémio Tony Parvo para o seu contributo para o “caos no Médio Oriente”. No entanto, Blair é um enviado, nessa mesma região, ao serviço da ONU, da União Europeia, dos Estados Unidos e da Rússia, provando-se que o descaramento, e não a virtude, é a coisa mais bem distribuída no mundo. Mandou há dias uma posta de pescada, continuando a defender as virtudes da invasão de 2003, e os ingleses estiveram quase a sair à rua para o calar. Em 2007, converteu-se ao catolicismo, mas teve azar porque se o Papa Francisco o apanha no Vaticano dá-lhe um calduço e vai haver molho.

José María Aznar. Nascido em 1953, ex-primeiro-ministro de Espanha. Filho e neto de políticos franquistas, teve duas grandes intervenções na política internacional. Uma foi apoiar sem limites a invasão do Iraque, a outra foi mentir a pés juntos que os atentados bombistas de Madrid, em 2004, eram obra da ETA, quando sabia tratar-se de retaliação de um grupo islâmico. Perdeu as eleições três dias depois, mas a vergonha, nunca, ele é muito obstinado.
Quanto a Durão Barroso, já pode voltar às Lajes, onde tratou do alojamento e comida do Grupo Bélico-Excursionista “Vamos ao Iraque”. Todos os momentos históricos têm um senhor hoteleiro.

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