Os debates ainda são úteis?

Foto

Os debates televisivos entre os políticos ainda servem para alguma coisa? Meio século depois, continuamos a perguntar se John Kennedy ganhou as eleições contra Nixon por causa do que disse ou por causa de três coisas superficiais: estar bronzeado; vestir um fato claro que contrastava com o fundo cinzento do estúdio e ter aceitado ser maquilhado nos bastidores. Nixon não quis pó-de-arroz e tinha um fato da cor da parede. Parecia cansado e abatido. Poderosa na rádio, a sua voz ficou apagada na televisão. Favorito no início da campanha, acabou derrotado.

Por mais debates que vejamos, vamos sempre recuar a este momento singular em que a televisão ajudou a mudar o curso da história da América.
Nos debates entre António José Seguro e António Costa, as premissas são outras. Hoje as gravatas e os fatos são todos mais ou menos iguais; e a televisão é tudo menos uma novidade, há muita escolha e quase nenhum monopólio.

Se não estamos nos EUA em 1960, também não estamos em Portugal em 1970, quando Marcelo Caetano “falava” aos portugueses nos seus monólogos doutrinais com gestos de amador de teatro, fazendo a sua peculiar “observação e meditação dos factos” num canal de televisão que era o único no país.

Agora há sites de jornais, redes sociais, blogues, cabo, canais de notícias com horários de 24 horas, caixas de comentários para os leitores digitais. Todos sabemos tudo a toda a hora. Será mesmo assim?

O primeiro debate entre Seguro e Costa foi visto por 1,5 milhões de pessoas. O segundo, no dia seguinte, foi visto por 1,2 milhões. Podemos dizer: copo meio cheio. Com tantas alternativas, muitas pessoas quiseram mesmo ver o debate. Mas tanto no primeiro como no segundo dia, quatro telenovelas tiveram mais audiência do que os debates. O Beijo do Escorpião está a dar cartas. Na quarta-feira, enquanto Costa decidia contra-atacar, a novela da TVI mobilizava 1,5 milhões de pessoas. Copo meio vazio. Em que ficamos?

A resposta é que os debates televisivos entre os políticos ainda servem para alguma coisa. Apesar — ou sobretudo por causa — de todo o ruído à  nossa volta. Nem que seja para confirmarmos as nossas convicções. Foi no entanto curioso verificar que nas sondagens que a Aximage fez para o Correio da Manhã, Costa foi dado como vencedor nos dois debates, tanto naquele que se disse ter sido ganho por Seguro como no que se disse ter sido ganho por Costa. As pessoas gostaram mais de Costa mesmo no debate no qual Costa foi fraco. E é por isso que continua a ser interessante ver o velho debate a preto e branco entre Kennedy e Nixon. Está lá tudo. 

Foto
Debates foram vistos por mais de um milhão de pessoas Nuno Ferreira Santos

Sugerir correcção
Comentar