Vamos ao CCB?

Centro Comercial Bombarda, Porto

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Quando, para os lados do Porto, alguém pergunta “Vamos ao CCB?”, não está a sugerir uma viagem a Lisboa. O CCB do Porto é o Centro Comercial Bombarda e fica no coração da Rua de Miguel Bombarda, tornada famosa pela quantidade de galerias de arte e lojas alternativas que viu nascer nos últimos (quase) 20 anos. É um edifício incaracterístico por fora mas óptimo para nos perdermos lá dentro, com lojas diferentes, galerias de arte, eventos culturais e até feiras de velharias. Um CCB à moda do Porto, muito longe do homónimo de Lisboa.

O quarteirão das artes do Porto tem o seu epicentro na Rua de Miguel Bombarda e é no coração desta artéria que o CCB se instalou, há sete anos. As galerias de arte já tinham chegado àquela zona central da cidade há algum tempo — a primeira, de Fernando Santos, instalou-se em 1995. Atrás delas, o Artes em Partes — que Marina Costa abrira com uma sócia — cativava os públicos mais alternativos, cansados dos mesmos espaços de venda e convívio. Afinal, em que outra parte da cidade era possível encontrar um antigo prédio residencial em que cada um dos pisos, acessíveis através de uma grande escadaria de madeira, fora transformado em lojas de autor?

Em 2007, Marina Costa abria, com um novo sócio, o CCB. Um ano depois, contava-me Marina (para um trabalho sobre o quarteirão das artes) como tudo nascera de uma brincadeira. A brincadeira de sonhar que aquele edifício vazio, no número 285 de Miguel Bombarda, podia transformar-se num centro de comércio alternativo. “Em 15 dias, estavam os espaços praticamente todos alugados e nós alucinados, porque não tínhamos dinheiro.”

Hoje, o CCB é um sítio onde gosto de ir quando não quero comprar os mesmos produtos de sempre. Ou, simplesmente, para ver montras diferentes daquelas com que me deparo se estiver na Rua de Santa Catarina, no Porto, ou na Rua Augusta, em Lisboa. Há algo de sorridente em sermos conduzidos ao interior da galeria comercial por um arco-íris, e até o coração grafitado no exterior tem cara de boas-vindas.

Lá dentro há sempre uma nova exposição para espreitar, um produto curioso que nunca tinha visto, uma peça que gostava mesmo de comprar, não tivesse tantas despesas para pagar, e uma boa desculpa, não importa qual, para nos sentarmos na esplanada do café-bar e admirar o jardim dos bonsais. E, depois, há as coisas que vão acontecendo e que, no fundo, no fundo, são só mais uma desculpa para dar lá um salto — seja um mercado de produtos rurais ou uma feira de velharias.

Gosto do CCB porque sempre que lá vou ele recorda-me que o Porto é muito mais do que o postal de casario antigo que se colou à imagem da cidade. É um Porto que se deixa mudar por gente que faz, sem pedir licenças nem esperar por grandes apoios institucionais. Um Porto em que se fecham negócios todos os dias, mas em que também abrem novos conceitos em cada esquina, que podem ou não resultar. 

Em 2008, os responsáveis do CCB temiam que o sucesso do quarteirão das artes pudesse ditar a sua própria morte. Que o local se tornasse tão in que as grandes marcas se sentissem tentadas a instalar-se ali, tomando conta do espaço e alterando o rosto da zona mais uma vez. 

Para a Rua de Miguel Bombarda, seria apenas mais uma mudança. De terreno das quintas que ocupavam grande parte da zona de  Cedofeita até ao século XIX, passou a uma rua urbana, um pouco incaracterística, com prédios de habitação e nada de marcante que a distinguisse. As galerias deram-lhe fama (o que não impede que, de vez em quando, continuem ali a desabar edifícios abandonados) e as lojas chamaram o público. As inaugurações simultâneas, que acontecem aos sábados, de dois em dois meses, passaram a ser desculpa para muitos fãs irem ao Porto. Se, no futuro, chegarem as marcas de luxo e a rua voltar a mudar, talvez o CCB mude também ou permaneça, resistente, fiel ao seu conceito. Para a rua, será só mais uma mudança. E, em qualquer outro canto do Porto, há-de haver quem queira começar tudo outra vez.

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