Notícias em Agosto

1. O Verão é cada vez menos a silly season. Embora persistam os inquéritos típicos desta época do ano, género qual o seu destino de férias e qual o prato favorito, não há dúvida que, neste mês, não faltam notícias de sensação.

Percorro os títulos dos jornais e revistas no momento em que escrevo, manhã de 10 de Agosto. O vírus ébola transformou-se numa ameaça grave. Os países africanos encerram fronteiras tentando conter a propagação da doença. Medidas de restrição à circulação já foram tomadas, para evitar que aumente o impressionante número de 900 mortos já atingido. Na Europa, permanecemos tranquilos, pelo menos por agora.

Três anos depois de ter terminado com a guerra do Iraque, Obama vê-se confrontado com a decisão de uma nova intervenção militar na região. A acção actual será humanitária, com o objectivo de impedir que os jihadistas do “Estado Islâmico” cheguem a Erbil, capital do Curdistão iraquiano. Embora tenha garantido que não enviará mais soldados para o Iraque, fica-se na dúvida de como irão os EUA resolver o problema. A prioridade dada por Barack Obama à via diplomática parece comprometida perante o radicalismo islâmico e face às questões da Ucrânia e da Rússia.

Entre nós, o caso do Banco Espírito Santo decorreu com muita gente na praia. As informações chegaram tarde e não foram claras. Acredito que muitos portugueses tiveram a sensação de que algo estava a ser preparado sem o seu conhecimento, ou que alguém se aprontava para os enganar. Passados alguns dias, verifica-se que a operação não foi perfeita (como tinha sido propagandeado), pecou por tardia e não está livre de consequências negativas. O compromisso de que serão conservados os postos de trabalho, perante tantas reestruturações necessárias, não parece poder ser cumprido.

As consequências negativas da realização da famigerada prova dos professores crescem todos os dias. Não se percebe a intenção da divulgação dos erros ortográficos, facto já conhecido por quem tem contacto frequente com as escolas. Os docentes tiveram, em muitos casos, uma preparação deficiente, muitos não têm hábitos de leitura e provêm de famílias onde a escrita não é o forte. Estas notícias de Verão só podem ser explicadas pela persistente campanha de desvalorização do papel dos professores, iniciada com governos anteriores mas amplificada pela actual equipa do Ministério da Educação (ME). A experiência já demonstrou, no entanto, que nada se fará nas escolas sem o seu apoio. A classe docente do ensino básico e secundário merece todo o respeito, porque são os professores que tomam conta dos nossos filhos e netos durante grande parte do dia. Ao ME compete avaliar seriamente o ensino, mas sobretudo exige-se que melhore a preparação dos docentes, com formação e supervisão do seu trabalho.

2. A campanha para a liderança do PS deixou de ser notícia. Os dois candidatos desdobram-se em declarações e programas vagos, enquanto o partido desce nas sondagens. O interesse que a candidatura de António Costa despertou de início diminuiu, porque é muito difícil manter sempre momentos altos numa acção tão prolongada. Seguro recuperou um pouco, porque a sua campanha moralista de vitimização (eu que tanto fiz pelo PS fui atraiçoado por alguém que circula nos circuitos do poder) impressionou alguns espíritos menos arrojados. No entanto, nota-se que Seguro sabe que a derrota está à sua espera.     

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