A borboleta voa na Europa e provoca uma tempestade em Portugal?

A frase tem variações, consoante a zona do mundo onde nos encontrarmos. Serve para descrever o efeito borboleta, da teoria do caos, de acordo com o qual um minúsculo movimento num sítio do planeta pode provocar uma tempestade nos seus antípodas. Neste caso, não vamos tão longe.

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A passagem de ano em França, que vai a votos no próximo 23 de Abril, encheu os Campos Elísios JACKY NAEGELEN/REUTERS

A Europa no centro das preocupações. À esquerda, à direita e até na cabeça dos que não respondem nem por um lado nem por outro. O PÚBLICO lançou as perguntas - Devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra? Porquê? Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção em 2017? Que prioridade tem para o ano novo? - e dez individualidades responderam ao desafio. Em conclusão: não há nada como uma boa dose de realismo para enfrentar o novo ano. Embarcar em optimismos excessivos não é para todos. Só mesmo o primeiro-ministro é que come as passas da meia-noite a pedir, como desejo para 2017, para “continuar a ser optimista” (fê-lo no último Governo Sombra de 2016, programa em que foi convidado a participar).

Pedro Passos Coelho, por exemplo, prefere fazer um bom balanço dos “riscos e oportunidades”, mantendo a atenção focada no que vem de fora, incluindo no Brexit, no relacionamento com a nova administração norte-americana e nos problemas da construção inacabada do edifício da união económica e monetária, sem esquecer as prioridades internas, como a necessidade de “os riscos excessivos” em que o Governo está “a fazer Portugal incorrer apenas para garantir a sua sobrevivência política”.

A líder do CDS, Assunção Cristas, faz a mesma leitura, avisando que é preciso dar atenção, em 2017, a “tudo o que se vai passar na europa do ponto de vista eleitoral”, mas também a “Trump e à nova administração americana”.

Também Catarina Martins está de olhos postos do lado de lá da fronteira: “2016 mostrou que nada é inevitável. Mas, na Europa e em Portugal, 2017 será ano de grandes perigos”. Mais do que optimismo ou pessimismo, a inquietação (nas palavras da própria) da líder do Bloco de Esquerda tem duas datas concretas e dois rostos: 23 de Abril e 7 de Maio (primeira e segunda volta das eleições presidenciais francesas), Donald Trump e Vladimir Putin.

Trump, a Itália e França são, aliás, preocupações comuns. O ex-autarca do Porto, Rui Rio junta-lhe as eleições na Alemanha e designa-os como “aspectos que condicionarão fortemente o nosso futuro, sem que tenhamos qualquer forma de os influenciar”. E, assume ainda, “há todos os habituais problemas que já vêm de trás, a começar pela Síria”.

Para Carlos Moedas há ainda a incógnita das eleições na Holanda. Ainda assim, o comissário europeu diz-se confiante no projecto europeu, no longo prazo, “e na capacidade dos europeus de transmitirem às novas gerações que é melhor estarmos juntos que separados”. No curto prazo, porém, mostra-se “pessimista porque os populistas têm conseguido vender”.

Confiante e inconformado é como Jerónimo de Sousa assume que o PCP enfrentará o novo ano, decidido a contribuir para que o país se mantenha no caminho de combater as injustiças e a precariedade e de recuperar a soberania. Sem esquecer as autárquicas. Mais palavrosa, Heloísa Apolónia fala em nome do PEV com um optimismo moderado. Diz que “importa, fundamentalmente, acreditar que é sempre possível dar passos para melhorar a situação do país e dos portugueses” porque “a vida já provou que as opções políticas que são tomadas determinam o nosso futuro colectivo”.

O homem que está à frente do Banco de Portugal, de seu nome Carlos Costa, filosofa sobre o optimismo ou o pessimismo, mas não deixa de dizer que é preciso defender o mercado único e o euro e adoptar políticas de investimento que promovam a criação sustentada de emprego. “No essencial”, recorda, “são necessárias instituições fortes e credíveis no plano nacional e, no plano europeu, é essencial um quadro institucional eficiente, legitimado e sem lacunas”. A Europa no centro.

Como diz Ferro Rodrigues, as incertezas em 2017 são muitas, mas “a grande cooperação institucional, manifestada nos níveis mais elevados do Estado, será condição essencial” para manter o optimismo.

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