Em Oleiros um movimento independente quer pôr fim a 37 anos de liderança social-democrata

Depois de não concordarem com o candidato escolhido pelo PSD à Câmara de Oleiros, no distrito de Castelo Branco, um grupo de cidadãos criou um movimento para concorrer às eleições de 29 de Setembro.

António Jorge Dias, 43 anos, advogado, quer liderar o município de Oleiros, onde nasceu. É o número um do movimento Mais Oleiros, uma plataforma de cidadãos independentes criada em Abril de 2013, como reacção ao facto de o PSD - que não perde no município desde 1976 - ter escolhido para concorrer ao lugar de José Marques, à frente da autarquia há 28 anos, Fernando Jorge, médico e empresário, nascido no concelho.

“O presidente antigo decidiu trazer uma pessoa de fora. O Fernando Jorge não é de cá, nasceu cá ocasionalmente. Algumas pessoas sentiram que não era assim que se faziam as coisas”, explica ao PÚBLICO Fernando Dias, 57 anos, professor e cabeça-de-lista à Assembleia Municipal de Oleiros. 

A lista é constituída por 114 elementos. São médicos, enfermeiros, professores, padeiros, pirotécnicos. “Estão aqui cerca de 80% dos empresários do concelho”, afirma João Paulo Ribeiro, número três à Câmara e um dos donos da Pirotecnia Oleirense, empresa que tem conquistado vários prémios internacionais e que é motivo de orgulho na região. 

Entre eles há dois militantes do PS, dois militantes do PSD e simpatizantes dos dois partidos. António Jorge Dias garante que o movimento é inteiramente independente e não tem nenhum apoio partidário. O advogado foi militante do PSD até 2004, altura em que, diz, sentiu necessidade de deixar a política partidária. Considera que durante a campanha houve tentativas de o conotarem com o PS por ter sido o mandatário concelhio de Jorge Sampaio em 2001, mas mantém que não tem nenhuma ligação aos socialistas. Apesar de ninguém o querer assumir, o PÚBLICO sabe que o PS apoia, ainda que não declaradamente, esta lista anti-PSD – e não é por acaso que não tem um candidato próprio a este concelho da Beira Interior.

RBGuerraOleiros é um concelho profundamente envelhecido e perdeu, nos últimos anos, muitos habitantes. Segundo os resultados dos Censos de 2011, em 2001 havia 6667 habitantes. Dez anos depois eram 5721. O índice de envelhecimento do município é de 574,4 %. 

O Orvalho é a maior aldeia do concelho, mas muitas das casas estão vazias. “O mais assustador é o número de casas onde batemos e onde não vive ninguém durante o ano. Estão em Castelo Branco ou na Suíça”, lamenta Fernando Dias.

Em cada aldeia há um simpatizante ou membro da lista que conhece os habitantes e faz de interlocutor. “As pessoas sentem-se confortáveis quando é alguém que elas conhecem a apresentar o assunto”, conta o professor. António Romão, apoiante do movimento, aproxima-se do PÚBLICO para explicar aquilo que tem observado: “Algumas pessoas são funcionárias da Câmara. A alguns foi feito algum favor… Têm medo de represálias”.

Porta a porta, vão repetindo: “Votem nos de cá, não votem nos de fora” ou “Somos todos de cá, trabalhamos cá e na segunda-feira depois das eleições, aconteça o que acontecer, vamos estar todos cá”. 

No final do dia, Fernando Dias conta ao PÚBLICO estar satisfeito com o rumo que a campanha tem levado, mas continua hesitante: “Vamos lá ver o que é que acontece no domingo. Podemos estar todos a cantar vitória ou então percebemos que faltou a máquina…”. E acrescenta: “O medo é que vai determinar isto”.

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