Fotonovela: uma manhã na lavoura e a paixão por uma debulhadora

Pedro Passos Coelho e Paulo andaram pela lezíria ribatejana. Foi uma festa.

Passos e Portas têm tentado não se atropelar ou exacerbar protagonismos quando andam juntos em campanha. Mas neste sábado, Passos estava destinado a ser politicamente goleado pelo seu parceiro de coligação. Com uma manhã dedicada à lavoura, Portas jogou em casa.

O líder do CDS até deve ter dormido mal com a ansiedade de ver chegar uma manhã nos campos do Ribatejo. As diferenças entre os parceiros de coligação começaram logo nos detalhes. Passos vestiu umas calças de fato, uma camisa azul clara muito formal abotoada até à penúltima casa. Portas foi de calças de ganga, camisa igualmente clara mas às riscas, deixando abertas as duas primeiras casas. Na lavoura dá-se a peitaça ao Sol. Portas sabe-o, Passos não.

O vice brilhava, o primeiro não.

Nos pés de Portas uns sapatos já a darem para o entradote; nos de Passos um calçado impecavelmente engraxado. Ó senhor primeiro-ministro, ninguém vai de sapatos novos para a lavoura.

Mais importante ainda: o social-democrata deixou a cabeça descoberta. O centrista não. Foi ao seu armário dos chapéus de campanha e sacou um impecável panamá claro de abas largas adornado por uma discreta fita verde que lhe assentava como uma luva.

Nas conversas com os seus interolocutores lavradores, Passos revelava uma atitude formal, mostrando atenção ao que vai sendo dito com ligeiros acenos de cabeça e deixando as mãos nos bolsos. Portas não. Qual forcado à espera do toiro, joga as mãos à cintura, ficando quieto, desperto, colado à terra como se nela tivesse raízes.

Como conta a jornalista Sofia Rodrigues no PÚBLICO, de repente, no campo de milho a perder de vista, ouvia-se em crescendo o barulho de uma gigante debulhadora que avançava terra adentro. “Lá vem o bicho”, comentou Passos Coelho.

“É um bicho, é… isto dá é um grande boneco para as televisões”, deverá ter pensado Portas, já que, logo a seguir, desafiou o primeiro-ministro para subir à cabine da imponente debulhadora.

Foi como se tivessem dado um saco de bolas a Ronaldo. Portas fez-se à debulhadora como gato ao bofe.

Deixou o primeiro-ministro ir à frente e, não fosse a sua preocupação em não apagar por completo o parceiro de coligação, estou convencido que Portas era homem para se colocar ao comando do “bicho” e debulhar tudo o que houvesse para debulhar na lezíria ribatejana.

Ainda assim, Portas conseguiu um momento só para si com a debulhadora, posando para os fotógrafos, qual debulhador implacável. Há paixões assim.

Até na forma como se relacionam com os frutos da terra o primeiro-ministro é arrasado pelo vice.


Portas eleva a maçaroca ao alto, ri, festeja o que a terra lhe fez chegar às mãos como se fosse o mais precioso dos bens. O que faz Passos? Cheira a maçaroca. Mas a que cheirará uma maçaroca?

No final brindaram com uma pinga branca fresquinha. Pouca, que ainda pouco passava 11h. Passos preparava-se para levar o copo aos lábios quando foi interrompido pelo seu vice. “É preciso fazer um brinde”, disse. E fizeram.


Fotos de Miguel Manso

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