Ler antes de partilhar

“Menina deficiente e órfã perde direito a transporte escolar para dar lugar aos refugiados”. O suposto título do Jornal de Notícias foi partilhado nos últimos dias por milhares de portugueses e o artigo continua a receber comentários. Há um problema: a notícia data de 2013 e nada tinha a ver com os refugiados. O título foi adulterado por um qualquer utilizador no Facebook. A maioria não terá sequer aberto o artigo antes de repartilhar.

O episódio tem dias mas a tendência não é de hoje. Tanto que o deputado do PSD Duarte Marques até apelidou  António Costa de “activista do Facebook” – aquele que “discursa o que lhe aparece no feed… mas não lê, não estuda” – a propósito do défice de 2014. E essa tendência explica, por exemplo, por que há notícias antigas que ressuscitam e se tornam virais.

Na campanha também há artigos zombies. Na quinta-feira, o deputado comunista Miguel Tiago recuperou o post “CDU e Bloco – Diferenças de Classe”, publicado em 2014 no blogue Manifesto 74. A ilustrar a partilha, uma fotografia de Marisa Matias, João Semedo e, entre estes, Mário Soares e Alexis Tsipras. Em baixo, a legenda: “É boa a fotografia. Dá para ver o sorriso oportunista da deputada Marisa Matias a olhar para o avô Marinho (também quis ficar na fotografia). Vejam também o ar comprometido do deputado João Semedo, de braço dado ao "avô". Estão lindos”. O autor da legenda não é o deputado. É um anónimo. Para um “activista do Facebook”, pouco importa. O que interessa é atear o fogo.

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