Marcelo lamenta falta de peso político da União Europeia, que não foi avisada por Israel
Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a falta de peso geopolítico na Europa, que não foi informada do ataque ao Irão. Presidente da República também foi questionado sobre actor agredido no dia 10 de Junho.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou esta sexta-feira que a Europa tem um peso geopolítico reduzido por falta de capacidade militar, e lamentou que os líderes europeus não tenham sido informados previamente da ofensiva israelita.
"O problema é que a Europa precisa de mais peso militar, para poder aumentar o seu peso geopolítico. O Sr. Netanyahu comunicou ao Presidente Trump que ia atacar. Não foi para nenhum dos líderes da Europa", referiu o chefe de estado à margem de uma visita à Feira Nacional da Agricultura, em Santarém.
Marcelo alertou para a necessidade de a União Europeia reforçar a sua capacidade de defesa e segurança, face a um contexto internacional marcado por instabilidade e "decisões unilaterais de potências globais".
"A Europa não pode manifestar muito mais do que preocupação se não tiver poder militar", afirmou, defendendo um aumento faseado do investimento na área da Defesa, de 2% para 5% do PIB, com o objectivo de garantir maior peso político e estratégico à União.
O chefe de Estado considerou prudente a decisão da Comissão Europeia de permitir uma derrogação orçamental temporária para acomodar este esforço, mas advertiu que será necessário garantir que os fundos tradicionais da União não sejam sacrificados.
Sobre o ataque de Israel contra o Irão com bombardeamentos a instalações militares e nucleares que mataram vários altos oficiais iranianos, bem como cientistas e outros civis, Marcelo Rebelo de Sousa classificou a acção militar israelita como uma "demonstração de poder" com vários objectivos estratégicos, entre eles travar o programa nuclear iraniano, enfraquecer a liderança militar do país e condicionar negociações internacionais.
"Israel, com esta actuação, consegue vários objectivos ao mesmo tempo", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, destacando ainda que a ofensiva serve para "desviar a atenção da questão palestiniana".
Confrontado com o aumento de episódios de violência em Portugal, incluindo um ataque recente a um actor de teatro por um grupo neonazi, o chefe de Estado alertou para a influência do clima internacional de guerra e instabilidade.
"Estamos a assistir, infelizmente, a uma normalização da violência, mesmo em países tradicionalmente pacíficos", afirmou, acrescentando que "Portugal ainda é, felizmente, muito diferente daquilo que vemos à nossa volta".
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que a paz e a democracia se constroem diariamente e apelou aos atores políticos para que promovam a estabilidade e evitem alimentar a conflitualidade.
"A democracia verdadeiramente estável é uma democracia pacífica", afirmou.
Depois de ter sido Homenageado pela Confederação de Agricultores de Portugal (CAP) no inicio da visita, o Presidente da República alertou também para os riscos na proposta de um "envelope único" para os fundos europeus destinados à agricultura.
O chefe de Estado sublinhou que a proposta de concentrar os apoios num único pacote pode ser "burocraticamente fácil, mas substancialmente injusta", por não reflectir as diferentes realidades dos Estados-membros.
"Meter tudo no mesmo envelope não é uma boa ideia", referiu.
Marcelo considerou esta uma "luta europeia" que Portugal deve travar com aliados, incluindo outros países e federações do setor.
O Presidente destacou ainda a presença de um comissário europeu na feira, o que não acontecia há uma década, como sinal de empenho e solidariedade da União Europeia com o sector agrícola português.
Marcelo Rebelo de Sousa classificou o próximo ano como "decisivo" para o futuro da política agrícola europeia, sublinhando que a discussão do novo quadro financeiro plurianual será "a questão" central para Portugal e para a Europa.
"Estamos a falar em questionar uma política que tem décadas. Mudou, mas continua a ser essencial", afirmou, apelando à mobilização do sector e à acção política para garantir uma solução equilibrada.
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