PS, PSD e CDS fazem pacto de não agressão verbal na campanha em Loulé
Os candidatos usam slogans como se estivessem a angariar clientes para uma excursão da terceira idade a um qualquer destino turístico.
Quem chega à rotunda central da Avenida José da Costa Mealha, em Loulé, depara-se com slogans de campanha eleitoral que poderiam, noutras circunstâncias, anunciar uma excursão da terceira idade a qualquer destino turístico.
“Venham Connosco”, apelam os candidatos do CDS/PP, num outdoor, em formado reduzido. Do outro lado da rua, na facha de um prédio, em tamanho“king size”, os candidatos do PSD afirmam: “Juntos avançamos”. Do lado do Partido Socialista, a mensagem estampada nos cartazes segue pelo mesmo caminho. “Ninguém ficará para trás”.
O director de campanha do PSD, Bruno Inácio, questionado pelo PÙBLICO, observa: “ Espero que nos próximos dias se comece a falar de politica”. Na verdade, os dois principais candidatos, do PS e do PSD, parecem ter assumido um pacto de não agressão, fugindo ao debate dos principais problemas do concelho.
“Percebo que se coloque ênfase nos assuntos sociais, mas é necessário, também, mostrar as diferenças politicas”, sublinha Bruno Inácio. Nesse sentido, ontem à noite, na apresentação do programa eleitoral, deu o pontapé de saída, acusando o Bloco de Esquerda (BE) de estar “colocado” ao Partido Socialista. Os bloquistas, disse, não apresentam candidato à presidência da câmara (só concorrem à assembleia municipal), porque "essa facção da esquerda está com o PS".
Alfredo Augusto, um velho amolador de facas e tesouras, ontem, no mercado municipal de Loulé, queixava-se da falta de clientes. Os candidatos das várias forças politicas que passaram diante dele, a distribuir propaganda, não se mostraram disponíveis para "cortar na casaca" do adversário. O mestre Alfredo, de 75 anos, ficou desiludido. "Gostava de os ver darem uns tesouradas", disse, a brincar com a situação politica.
Após passarem as comitivas, mostra os folhetos que lhe entregaram. “Não sei ler, mas fiz de conta que sabia, e assim eles ficam mais satisfeitos”. Situação semelhante passou-se com a vizinha do lado, vendedora de artesanato: “Panos da avó Mariana”, anuncia. Os panos, ao preço de três pares por cinco euros, têm pouca saída. “Aos portugueses falta o dinheiro, e os estrangeiros querem tudo barato”, conta.
Ao aproximar-se uma candidata do PSD, não resistiu à tradicional pergunta: “Então, não trazem nada para oferecer, bonés ou coisas assim?” Da política, Mariana comenta: “Não podem prometer muito porque já não há nada para dar”.
O candidato à presidência do município, pela CDU, Joaquim Nogueira, surge na mesma altura, mas no corredor do lado oposto por entre vendedoras de frutas e hortaliças, distribuindo folhetos a denunciar a ” falência técnica” da câmara gerida há 12 anos pelo PSD: “Dados recentes mostram a existência de mais de 100 milhões de divida”.
Antecipando criticas, na noite anterior, durante a apresentação do programa eleitoral, o cabeça de lista do sociais-democratas, Hélder Martins, já havia garantido que tinha por objectivo “manter o reequilíbrio financeiro” alcançado pelo actual executivo, continuando a pagar a fornecedores num prazo de 28 dias. O apoio social às famílias carenciadas é a promessa comum a todas as candidaturas.
Do lado do PS, o candidato à presidência, Vítor Aleixo, entregou a Lídia Jorge, presidente da Comissão de Honra da candidatura, o “compromisso” do programa eleitoral. De seguida, o documento foi entregue pela escritora ao ex-presidente do Conselho de Reitores, Adriano Pimpão, que encabeça a lista para a Assembleia Municipal, para que zele pela “fiscalização” do programa.
O candidato socialista, neto do poeta António Aleixo, coloca um particular apoio à cultura, mas sublinha que pretende atrair investimento e captar o apoio dos empresários, propondo uma redução do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). A freguesia do Ameixial, situada na serra do Caldeirão, na fronteira com o Alentejo, foi ontem o principal palco de intervenção da campanha dos socialistas.
