Rui Rio emocionou-se ao deixar esta terça-feira o edifício da Câmara do Porto, à qual presidiu durante 12 anos. Mal acabou a cerimónia da tomada de posse do novo presidente, Rui Moreira, o autarca cessante desceu a escadaria do edifício, ladeada por um corpo de bombeiros e, à porta, olhando para algumas dezenas de pessoas que o aguardavam no exterior, emocionou-se.

O até agora presidente da segunda autarquia do país parou, olhou as pessoas que o aplaudiram com uma sonora salva de palmas, e com as lágrimas nos olhos despediu-se, entrando no carro para deixar de vez a câmara.

Durante a cerimónia, Rui Rio já tinha feito algum esforço para conter as emoções. Na altura em que Rui Moreira usava da palavra e lhe dedicava as primeiras linhas do seu discurso, Rio comoveu-se, não conseguindo disfarçar os sentimentos.

“Não duvidem, tenho a noção rigorosa e exigente sobre o que esperam de mim e sobre o movimento de esperança que, por toda a cidade, representou a minha eleição. A mim, cabe-me cumprir, nunca desiludir e enobrecer a função de presidente da Câmara Municipal do Porto”, declarou o novo presidente da autarquia.

"Devo destacar, como imperativo de gratidão, o legado cívico e político que a cidade do Porto, e eu próprio, recebemos do dr. Rui Rio, que hoje cessa estas funções públicas que exerceu ao longo de 12 anos”, disse Rui Moreira. Os autarcas e convidados levantaram-se e aplaudiram. Rui Rio agradeceu com o olhar às pessoas, virando-se para a esquerda e para a direita, contendo as lágrimas.

No final do discurso, Rui Moreira deu um abraço apertado ao presidente cessante em sinal de agradecimento pelo “modelo de pedagogia democrática e cívica que deixa à cidade do Porto e ao país”.

Elogios a Pizarro
Rui Moreira elogiou esta terça-feira o vereador socialista, Manuel Pizarro, por ter “colocado os interesses da cidade e dos portuenses em primeiro lugar e deu conta da “grande satisfação” por ter conseguido fechar com o PS um acordo programático para assegurar a governabilidade da autarquia.

“O acordo, digo-o de forma inequívoca, traduz o reconhecimento de programas eleitorais que não eram incompatíveis e muito menos antagónicos. Naturalmente, sei que o meu programa foi aquele que mereceu a maioria dos sufrágios. Mas também sei, e aqui o exprimo, que há contributos que, vindo do programa com que se apresentou a votos o Partido Socialista, serão integrados na nossa governação”, declarou Rui Moreira.

“Sr. Dr. Manuel Pizarro: o Porto fez história a 29 de Setembro, fez de novo história a 19 de Outubro, quando selamos este acordo ao serviço da nossa cidade e dos portuenses,” acrescentou o sucessor de Rui Rio na Câmara do Porto, arrancando mais uma enorme salva de palmas.

O novo presidente deu grande destaque à importância do poder local, sublinhando que “é mais eficiente, é mais económico, é mais racional na utilização dos recursos públicos do que outros poderes, e esta cidade é disso demonstração como, certamente, o será também a cidade de Lisboa.”

Costa elogia coligação para o Porto
António Costa, que esta semana toma posse como presidente da Câmara de Lisboa, estava na sala e Rui Moreira não se esqueceu de agradecer a sua presença. Mas fez mais do que agradecer. “Entendo esta presença como sinal inequívoco de que ambos partilhamos firmemente a convicção sobre a importância decisiva do poder local no desejado desenvolvimento do país”. E disse: "Dr. António Costa, permita-me que exprima esta minha convicção profunda: tal como o Porto, é isso que Lisboa deseja”.

“Acredito na importância nodal da descentralização e do poder autárquico, numa perspectiva que, afinal, é de modernidade e de adaptação necessária à evolução das nossas sociedades", salientou.

No final da cerimónia, quando já decorria a sessão de cumprimentos ao novo executivo, António Costa elogiou, em declarações aos jornalistas, a coligação feita pelo PS na Câmara do Porto, considerando que os “partidos não se afirmam na mesquinhez e mediocridade do aparelho, mas na forma como sabem assumir responsavelmente o seu papel na sociedade portuguesa".

Salvaguardando não se querer imiscuir nas questões internas do PS-Porto, Costa disse ainda que "o dr. Pizarro e a concelhia do Porto demonstraram que estão à altura daquilo que o país precisa do PS”.

As declarações de Costa referiam-se às vozes do PS-Porto que discordam da aceitação de atribuição de pelouros aos autarcas do PS. Para Costa, o acordo a que chegaram o presidente da Câmara do Porto e o primeiro vereador socialista “foi um sinal de grande responsabilidade do dr. Manuel Pizarro, que mostra que é um grande político e sabe estar à altura daquilo que é hoje a exigência de todos”.