25 palavras que não existiam (ou que não usávamos) em 1990

Falamos mais em inglês, é verdade. A tecnologia e a economia são as áreas que mais contribuem para isso, mas a nossa inércia também. Algumas palavras em português sofreram extensão semântica mesmo antes de 1990 (via utilização de computadores). Ainda somos do tempo… em que, quando se falava em “abrir uma janela”, era para deixar entrar o ar; “rede” remetia para pesca e “rato” era um bicho repelente. Ninguém imaginaria passar tantas horas com a mão sobre um.

Seguem-se 25 palavras trazidas pelo tempo e escolhidas com a ajuda da redacção do PÚBLICO. Umas não existiam para nós, outras não existiam de todo.

Adoçante
“Substância que adoça, usada como um substituto do açúcar.” Aspartame é o mais conhecido entre os substitutos artificiais. Há muita polémica à volta dos benefícios/malefícios do seu uso. E os açucareiros nunca mais foram os mesmos. Em 2007, a notícia foi esta.
Muitas outras se lhe seguiram.

Bullying
 “O bullying é uma acção consciente, premeditada, deliberada e persistente por parte de um estudante ou grupo de estudantes, designado agressor(es), para um aluno (vítima), causando medo, pressão e terror sobre o mesmo.” Esta é uma das definições do médico psiquiatra Daniel Sampaio para o anglicismo “bullying”. Prática infeliz que já existe há muito tempo, mas que agora tem um nome. Aqui está uma notícia de 2007.

Carregador
Se antes era um “homem que, em estações ferroviárias ou rodoviárias, aeroportos ou hotéis” se encarregava de “transportar malas ou outros volumes”; agora, usamos a palavra vulgarmente, mas para nos referirmos ao “aparelho que se liga à corrente eléctrica e permite recarregar baterias ou pilhas”. Passamos a vida a pedi-los (provisoriamente) emprestados para recarregar telemóveis (palavra que encontrará mais adiante).

Clonagem
“Processo de obter várias células vivas com o mesmo património genético, ou seja, um clone, a partir de uma única célula, bactéria ou organismo.” Lembram-se da ovelha Dolly? Não foi assim há tanto tempo. Duas notícias para recordar: os dez anos do seu nascimento e a morte da Dolly.

CR7
Sigla que corresponde a Cristiano Ronaldo e ao número da camisola que usa, o sete. Quando começou a jogar no Manchester United, aos 18 anos (em 2003), o rapaz queria a camisola 28, que usara no Sporting, mas Ferguson deu-lhe a 7. Esta tinha ficado sem dono com a saída de David Beckham para o Real Madrid. CR7 é agora nome de museu no Funchal, na Madeira, e uma marca reconhecida internacionalmente. Falamos de futebol, claro. Aqui fica uma notícia que até pode já soar antiquada, mas tem graça por isso mesmo.

Drone
“Pequeno avião não tripulado, telecomandado ou programado, geralmente usado em missões de reconhecimento”, associado a prática militar. Por extensão, diz o dicionário: “Veículo ou dispositivo que se movimenta em determinado meio, geralmente no ar, através de controlo remoto e frequentemente dotado de aparelho para registo ou transmissão de imagens.” Eles andam aí… Notícia sobre drones em Portugal.

Email
Mais uma palavrinha inglesa e que corresponde à redução de electronic mail. Temos o equivalente “correio electrónico”, mas raramente o dizemos ou escrevemos. Definição no dicionário Priberam: “[Informática] Correio electrónico” e “mensagem enviada ou recebida por correio electrónico”. Desde que apareceram, nunca mais tivemos sossego. Aqui está uma notícia vintage

Exoplaneta
Falemos de Astronomia e vamos ao encontro de “planetas extra-solares”. Quando se escreve “exoplaneta”, estamos a referir-nos a um planeta que não pertence ao sistema solar, uma vez que orbita uma estrela diferente do Sol”. Há 25 anos nenhum tinha sido ainda descoberto. A partir de 1995, os cientistas não pararam de detectar planetas em redor de estrelas. Recorde a notícia (de 2002) em que foi descoberto o centésimo planeta extra-solar.

Facebook
Facebook (FB) é uma rede social que apareceu em 2004 pela mão de Mark Zuckerberg, para alunos da Universidade de Harvard. No ano passado (décimo aniversário), o Observatório da Comunicação e do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE divulgou estes dados: 757 milhões de pessoas em todo o mundo usam o FB. Em Portugal, 77% de todos os utilizadores de Internet têm uma conta no site. Quase dois terços dos utilizadores têm pelo menos 200 amigos. Associada a esta rede, apareceram palavras e práticas, como “partilha”/“share”, “gosto”/“like” ou “selfie” (quase ninguém diz “auto-retrato”, mas é uma palavra bonita).

GPS
Global Positioning System é a descodificação da sigla (GPS), ou seja, “sistema de posicionamento global”. Traduzindo: “Sistema que, através de um conjunto de satélites, fornece a um aparelho móvel a sua posição em relação às coordenadas terrestres.” Também se chama GPS ao “aparelho receptor dessa informação”. Agora, só se perde quem quer (ou gosta). Pode consultar-se aqui a tentativa europeia Galileu.

Hostel
Substantivo masculino que se traduz por “estabelecimento que fornece serviços de alojamento, em quartos privados ou colectivos (dormitórios) a preços inferiores aos de um hotel”. Provém do inglês, hostel, que também significa “albergue”. Portugal tem vindo a ficar bem cotado nesta tipologia de alojamento. (Na linha de palavras ligadas ao turismo em uso crescente desde 1990, também poderíamos ter escolhido “gourmet”, “brunch”, “lounge”, “vintage” ou “tuk-tuk”.)

Internet
“Rede informática internacional, de origem norte-americana, que permite a troca de mensagens e a obtenção ou difusão de informação.” Não fosse ela e o leitor não estaria aí desse lado do ecrã a ler o que escrevemos deste. Também se lhe referimos como Web (de World Wide Web), Net ou Rede. Resultado de pesquisas e procedimentos militares durante a Guerra Fria, a Internet começou a alcançar a população em geral a partir de… 1990. (A Internet trouxe com ela muitas palavras. Deixamos aqui alguns exemplos: “online”, “link”, “browser”, “download”, “site”, blogue, “wiki”, “wireless” ou “smiles”, mas também Google, Yahoo, Youtube, Twitter, Instagram, etc. etc.).

Light
Pouco de se falaria em produtos light em 1990. Menos ainda em literatura light. Diz o dicionário: “Que tem um valor calórico mais baixo do que outros alimentos do mesmo género” ou “que tem um teor alcoólico mais baixo do que outras bebidas do mesmo género”. Já em sentido figurado e pejorativo, “light” corresponde a algo “que evita ou ignora os aspectos mais complexos de determinada questão”, ou seja, “é uma abordagem suave, atenuada ou pouco profunda a determinado tema que geralmente não é tratado dessa forma”. Numa palavra, “leve”.

Low cost
Numa altura em que a maior parte de nós ficou mais pobre, tudo o que se pode arranjar a menor preço é bem-vindo. Alguém soube aproveitar-se bem disso e criou os “low cost”, que em termos gerais e práticos significa “que não exige gastos elevados”, isto é, “de baixo custo”. O conceito começou com as companhias aéreas mas foi-se estendendo a outras áreas comerciais. Nem sempre corre bem. Como o povo diz há muito tempo, “às vezes, o barato sai caro”. Um artigo do P3 explica o conceito.

Priões
No singular, “prião” já vem registado nos dicionários e corresponde, na biologia, a “partícula infectante, constituída por proteínas, que provoca encefalopatias como a doença das vacas loucas ou a doença de Creuzfeldt-Jakob”. Foi em 2004 que uma equipa de cientistas criou “priões” em laboratório. São proteínas anormais que “esburacam o cérebro, deixando-o parecido com uma esponja”. Mas nesta notícia ficará a perceber melhor este estranho mecanismo infeccioso, de que há muito não se ouve falar. Ainda bem (se for bom sinal e não omissão… propositada).

Probióticos
Na linha das preocupações com a saúde e o corpo, os “probióticos” entraram no léxico de alguns meios (urbanos, é certo). Um “probiótico” trata-se então de uma “substância que contém organismos vivos favoráveis à saúde, quando tomado em doses certas, e que integra sobretudo a composição de produtos lácteos ou de suplementos alimentares”. Apareceu com a tendência de olhar os alimentos como medicamentos. Pode saber mais aqui.

Reciclagem
Hoje, esta palavra já não tem novidade, digamos assim. É o “tratamento de resíduos ou matérias usadas de maneira a poderem ser reutilizados” ou ainda “actualização pedagógica, cultural, administrativa, científica, etc”. Também se pode falar em “reconversão”. Mas nem sempre foi assim. E finalmente temos uma palavra que não nos chegou pelo inglês, mas pelo francês, “recyclage”. Ça nous plaît… (Isso agrada-nos.) Palavras associadas: “ambiente”, “biodiversidade”, “ecopontos”, “co-incineração”, “créditos de carbono”, “fiscalidade verde”…

Sustentabilidade
“Qualidade ou condição do que é sustentável”, mas também “modelo de sistema que tem condições para se manter ou conservar”. De tão usada nos discursos políticos e empresariais, tornou-se quase irritante escutá-la ou adivinhá-la ante certos fóruns. Embora faça bastante sentido no mundo como o conhecemos hoje. O tempo trouxe-a, não saberemos se o vento a leva. (Ricardo Garcia é o jornalista do PÚBLICO que há mais tempo presta atenção ao tema). Palavras de alguma forma associadas a “sustentabilidade”: outsorcing, downsizing, rating ou mesmo (a muito feia) “alavancagem”.

Telemóvel
Toda a gente sabe agora o que é um “telemóvel”, mas o aparelho (e por conseguinte a palavra) não existe assim há tanto tempo. “Telefone portátil, alimentado por bateria, que estabelece comunicação com outros aparelhos sem necessitar de uma ligação física fixa (cabo) à rede de telecomunicações.” Com os avanços tecnológicos ocorridos entretanto, com iPhones, Androids e afins, fazer uma chamada telefónica por telemóvel é apenas uma das possibilidades do aparelho. Provavelmente, não a mais usada. (O telemóvel também arrastou consigo palavras como sms, short message service, e o vício de as enviar. Um belo negócio.) Tem graça ler esta notícia de 2001 sobre os primeiros telemóveis 3G.

Tiki-taka
Falemos de bola (outra vez). Os dicionários portugueses (mesmo os online) não conhecem a expressão “tiki-taka”. Os espanhóis grafam-na assim: “tiqui-taca”. O que significa esta palavra estranha para muitos e bem presente para outros? Um método de jogo no futebol que se caracteriza, em traços gerais, por passes curtos e muita movimentação, sem nunca deixar a bola fugir da equipa que a detém. Diz-se que é jogar à “Barça” (FC Barcelona). Atribui-se ao jornalista espanhol Andrés Montes a popularização do conceito, depois de um relato no Mundial de 2006.

Transgénicos
Alvos das maiores polémicas, os “transgénicos” dizem respeito a algo, na biologia, “a que foi acrescentado ou retirado um ou mais genes”. E também se diz “do ser, geralmente planta, a que foi alterado o código genético”. Já se sabe que quem se mete com a manipulação da vida, hoje ou há 25 anos, estará sempre sujeito a muitas interrogações e retaliações. Esta notícia de 2013 espelha isso mesmo.

Troika
A palavra é mais velha do que o PÚBLICO. Até bem mais velha. Mas caiu no colo dos portugueses (ou na sopa, como diziam os antigos) em 2011. É uma palavra russa que quer dizer “carruagem ou grande trenó russo, puxado por três cavalos”. Fomos recuperar o que escrevemos em Abril de 2011, na então revista Pública: “Alguns [dicionários] acrescentam que os cavalos ‘vão alinhados lado a lado’, outros dizem que vão ‘de frente’. Nos mais recentes, já se introduz um novo sentido (sem animais): ‘Conjunto de três pessoas ou entidades, geralmente com uma finalidade política.’”

Dá para perceber. Só mais uma ideia: a palavra tornou-se popular na era estalinista na União Soviética, “quando troikas substituíam o sistema legal para perseguir rapidamente dissidentes contrários ao regime ou qualquer cidadão acusado de crimes políticos”. A rapidez no julgamento desses cidadãos transformou-se “numa caça às bruxas, levando o medo ao país inteiro”. Pois…

Twittar
Verbo que nasceu a partir da rede social de microblogging Twitter. Há quem opte pelo aportuguesamento (mais profundo ainda) “tuítar”. Traduz-se no envio e recepção de mensagens pessoais até 140 caracteres, os “tweets”, entre uma rede de contactos. A dimensão da rede varia (como seria de esperar) com a relevância mediática ou profissional do assinante, mas a maior parte da vezes as mensagens não têm qualquer interesse para o mundo. Estados de espírito, como os que se multiplicam em muitos perfis de Facebook.

Viagra
Foi uma boa notícia para a felicidade humana (sobretudo para a conjugal). Em Portugal, o medicamento viu a sua comercialização aprovada a 14 de Setembro de 1998, depois de se terem percebido as características vasodilatadoras do óxido nítrico produzido pelas células humanas. “Os investigadores da Pfizer descobriram depois uma enzima que inibe a produção de óxido nítrico pelas células dos músculos do pénis. E descobriram também a principal arma para combater essa enzima: o citrato de sildenafil, que funciona como vasodilatador com funções primordiais na erecção do pénis”, escreveu-se no PÚBLICO quando a patente estava quase a expirar na Europa. Altura em que 37 milhões de homens já o tinham experimentado. Eh lá! (na mesma linha da aposta na alegria de viver, apareceu o Prozac).

Videoconferência
“Teleconferência que permite, além da transmissão da palavra e de documentos gráficos, a de imagens animadas dos participantes.” Parece óbvia e comum, para mais se pensarmos na actual facilidade em comunicar via Skype ou Hangout (Google). Mas também não foi assim há tanto tempo que as reuniões diárias do PÚBLICO, por exemplo, se puderam fazer “olhos nos olhos” entre a redacção do Porto e de Lisboa. Para o bem e para o mal. (Mais para o bem)

O que poderia igualmente ter entrado nesta listagem de palavras que passámos a utilizar com frequência: airbag, Amazon, Anonymous, apps, banda larga, botox, cavaquistão, células estaminais, clicar, deck, descontinuar, desmaterializar, e-factura, fairplay, glasnost, iTunes, iPad, Jihad, LGBT, lipoaspiração, memorando, mp3, multimédia, música pimba, Outlook, papamóvel, perestroika, piercing, playstation, podcast, PowerPoint, requalificação, resgate, slow food, smartphone, spoiler, swaps, tablet, tsunami, vistos gold, vuvuzela, Wikileaks, workshop, etc.…

Pedimos ao leitor que nos ajude a recordar o que esquecemos e obrigada. (Obrigada também por estar desse lado há tanto tempo. Connosco.)

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