Encapuzados forçam entrada em casa de imigrantes no Porto e agridem-nos com paus

Numa só noite, PSP registou três ataques contra imigrantes. Desde Fevereiro, 20 estrangeiros foram detidos na zona do Bonfim, no Porto, onde aconteceu o ataque, maioritariamente por roubos e furtos.

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Um grupo de 15 indivíduos encapuzados forçou, na madrugada de sexta-feira, a entrada numa casa na zona do Bonfim, no centro do Porto, onde vive um grupo de imigrantes, a maior parte argelinos, tendo agredido os presentes com paus. Duas das vítimas tiveram de receber tratamento hospitalar, sendo que um deles, de 28 anos, permanece hospitalizado por ter sofrido uma fractura provocado por uma queda quando fugia dos agressores. Está há um ano e meio no Porto e trabalha na construção civil.

Na mesma noite, a PSP do Porto registou outros dois ataques na via pública contra imigrantes magrebinos, admitindo fonte oficial daquele comando metropolitano, que as situações possam estar interligadas. “Agora temos de esperar pelo desenrolar das investigações”, realça.

Os episódios são relatados este sábado pelo Jornal de Notícias e foram confirmados ao PÚBLICO por fonte oficial do Comando Metropolitano do Porto da PSP, que adiantou vários pormenores sobre as ocorrências. Fonte oficial daquele comando, contactada este sábado, considera, contudo, prematuro falar em “motivações racistas”. Confirma um clima de tensão na zona do Campo 24 de Agosto/Bonfim, onde se localiza a casa alvo do ataque, e onde desde Fevereiro e até há cerca de uma semana foram detidos 20 cidadãos estrangeiros, a maior parte magrebinos, que estarão envolvidos essencialmente em situações de roubo e furto.

O primeiro ataque contra imigrantes ocorreu na madrugada de sexta-feira e foi registado às 0h40 no Campo 24 de Agosto. Dois argelinos queixam-se que um grupo de cinco portugueses que seguiam num carro parou junto a eles e os agrediu com tacos de basebol. A polícia dirigiu-se ao local e registou a ocorrência, onde consta o encaminhamento das vítimas para o Hospital de São João.

Um pouco mais tarde, por volta da 1h da manhã, a apenas um quilómetro de distância, um grupo de 15 indivíduos terá forçado a entrada numa moradia da Rua do Bonfim, onde vive um grupo de imigrantes, maioritariamente argelinos, e agredido os presentes com paus. Os agressores terão fugido de seguida a pé.

Um terceiro caso ocorreu pelas 3h15 da manhã, na zona da Batalha, onde um cidadão marroquino foi agredido por um grupo de homens que também lhe roubaram o telemóvel.

Na sequência de informações sobre este episódio, agentes da Divisão de Investigação Criminal “desenvolveram diligências no sentido de interceptar os autores do referido ilícito”, referia a PSP num comunicado divulgado esta sexta-feira, onde se anuncia a detenção de um português de 26 anos, comercial e residente em Gondomar, a quem foi apreendido um bastão extensível e um gorro só aberto na zona dos olhos.

A nota explica que, perante a presença policial, o português assumiu um comportamento suspeito, pelo que foi abordado, verificando-se que trazia o bastão, que constitui uma arma proibida, e o telemóvel roubado pouco antes ao cidadão marroquino.

O detido foi transportado para instalações da Divisão de Investigação Criminal, onde apareceram cinco indivíduos à sua procura e que, devido às diversas ocorrências daquela noite, a PSP entendeu identificar. Fonte oficial da PSP dá conta que o homem de 26 anos está identificado pelo envolvimento noutras situações de agressão e coacção, também envolvendo cidadãos nacionais.

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Segundo a Agência Lusa, a PSP deu conhecimento da ocorrência ao Ministério Público e, dada a suspeita de existência de crime de ódio, o assunto transitou para a Polícia Judiciária.

Sobre as 20 detenções de estrangeiros que estão contabilizadas desde Fevereiro na mesma zona, fonte oficial do Comando Metropolitano do Porto explicou que também há situações de condução sem carta e duas ocupações ilegais de habitações. Tal levou a PSP a levar a cabo, na sexta-feira da semana passada, uma operação especial de prevenção criminal naquela zona. Fonte oficial da PSP do Porto sublinha que a polícia está atenta e com o dispositivo na rua para garantir a segurança de todos.

Governo e Presidente da República condenam ataques

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condenou entretanto os "ataques racistas" e salientou que a violência racial e a xenofobia não têm lugar na sociedade portuguesa.

"Ao tomar conhecimento dos ataques racistas perpetrados durante a última noite no Porto, o Presidente da República sublinha a veemente condenação da violência racial e da xenofobia, práticas sem lugar na sociedade portuguesa", lê-se numa nota no site da Presidência da República.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, também já condenou as agressões, que classificou como "ataques racistas", elogiou o trabalho das forças de segurança e exprimiu solidariedade para com as vítimas. Também Margarida Blasco, ministra da Administração Interna, afirmou esta tarde que "este ataque não representa o povo português". Em declarações aos jornalistas, a ministra lembrou que os imigrantes que foram alvo destes actos criminosos "são pessoas que procuram o nosso país por ser um país seguro". Margarida Blasco disse que ficou "muito incomodada quando soube o que se passou", uma situação que considerou "tão vil". "E penso que, em nome do Governo, posso dizer que a tolerância é zero" para com estes comportamentos, acrescentou, tal como já tinha escrito esta manhã o primeiro-ministro na rede social X.

Também o SOS Racismo fala em "milícias" e "ataques planeados e devidamente organizados", tendo convocado uma manifestação de solidariedade com as vítimas para este sábado à noite no Porto.

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