Inquérito da FNE: maioria dos professores ouvidos regista excesso de trabalho no último ano lectivo

Entre os 1295 inquiridos, 60,3% revelaram que o excesso de trabalho foi um dos aspectos que mais os preocuparam, seguido da sua saúde mental e bem-estar.

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Nelson Garrido

A maioria dos professores consultados num inquérito da Federação Nacional da Educação (FNE) referiu o excesso de trabalho como uma das maiores preocupações ao longo do último ano lectivo, em que a saúde mental também foi afectada.

O ano lectivo passado, que terminou no início de Julho, voltou a ser marcado pela pandemia da covid-19. Depois de, em Março de 2020, famílias e professores terem sido apanhados de surpresa pelo encerramento das escolas, em Setembro todos antecipavam outro ano lectivo atípico.

Quase 11 meses depois, a FNE quis ouvir os profissionais das escolas sobre o decorrer desse ano, com novos desafios impostos pela pandemia, e os resultados que foram nesta quinta-feira divulgados apontam para professores cansados e que se sentiram pouco apoiados.

Entre os 1295 inquiridos, 60,3% revelaram que o excesso de trabalho foi um dos aspectos que mais os preocuparam, seguido da sua saúde mental e bem-estar.

“Se há sector em que nós devemos assumir que é absolutamente imprescindível respeitar o direito a desligar, a área da Educação é uma delas”, afirmou o secretário-geral da estrutura sindical numa conferência de imprensa em que apresentou estes resultados, aproveitando também para fazer um balanço do ano lectivo.

Segundo João Dias da Silva, esse direito foi frequentemente esquecido, um problema que também foi apontado no inquérito, em que os professores referiram o excesso de trabalho burocrático, por vezes solicitado fora do horário de trabalho, como um factor perturbador.

Por outro lado, os resultados também revelam um sentimento de falta de apoio por parte de alguns profissionais, designadamente no que respeita às condições necessárias para o trabalho com os alunos e a promoção do sucesso educativo.

A este nível, a maioria dos inquiridos (70,9%) afirmou que as suas escolas desenvolveram planos de intervenção pedagógica com esse objectivo em vista, mas 24,8% admitiram que não havia condições para concretizar esses planos e outros 36,6% referiram que não tiveram acesso aos apoios de que precisaram para o trabalho que quiseram desenvolver com os seus alunos.

Outro aspecto em que os profissionais apontaram dificuldades foi nas condições para o ensino digital e 33,2% dos docentes revelaram que não tiveram sequer acesso aos recursos digitais necessários.

Segundo o secretário-geral da FNE, houve até casos de professores que só receberam um computador já no final do ano lectivo e as falhas não se esgotaram na falta de equipamentos, mas também de formação.

A maioria dos professores ouvidos pela FNE (61,3%) não frequentou formações de capacitação digital, como estaria previsto, e entre aqueles que o conseguiram fazer, 27,9% tiveram de assegurar os custos dessa formação.

“Em função destas circunstâncias, houve todas as razões para que se chegasse ao final deste ano lectivo numa grande exaustão, com um cansaço enorme, que resulta de todo o esforço que foi necessário desenvolver”, resumiu João Dias da Silva, reconhecendo que as principais dificuldades se verificaram durante o período em que vigorou o ensino à distância, mas não só.

Durante o período em que alunos e professores puderam estar nas escolas, e em períodos em que a situação epidemiológica nunca deixou de preocupar, as condições de segurança sanitária também não foram as ideais. A este nível, os docentes referem, como já tinham feito em inquéritos anteriores aquando a retoma das aulas presenciais, o incumprimento por parte dos alunos de algumas regras.

Em concreto, 58,2% dos profissionais reconheceram que as normas de segurança nem sempre eram cumpridas, referindo-se nomeadamente ao distanciamento físico e ao uso de máscara dentro das escolas.

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