Igreja do Brasil recua e nega excomunhão de médicos que fizeram aborto a criança de nove anos

A Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) voltou atrás e negou que a equipa médica que fez um aborto a uma criança de nove anos, grávida de gémeos depois de ter sido violada, tivesse sido excomungada. A medida, anunciada pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, abrangia também a menina, que pesava apenas 30 quilos, e suscitou críticas severas de vários políticos, incluindo o Presidente Lula da Silva – além de uma onda de protestos que percorreu as ruas das principais cidades do país.

Esta quinta-feira à noite, a CNBB tentou minimizar os impactes que as declarações do arcebispo de Olinda e Recife causaram e fez saber que “ninguém foi punido pela Igreja”. Para os bispos do Brasil, a polémica causada pelas declarações do religioso tiram o foco do cerne do problema: a violência que a criança sofreu durante três anos, período em que o padrasto abusou sexualmente dela (e confessou o crime).

“Na verdade, o bispo não excomungou ninguém. O bispo anunciou que esse tipo de acto traz consigo, pelas normas católicas, tal possibilidade. Tenho certeza de que D. José não teria, de forma alguma, a intenção de ferir quem já estava ferido, mas de chamar a atenção justamente para uma certa permissividade que faz com que a vida do nascituro não seja considerada”, afirmou Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB.

A excomunhão da equipa médica e da criança não se estendeu ao abusador sexual. Na altura, o arcebispo declarou que a violação é “um crime hediondo”, mas não tão grave “como o aborto, retirar a vida a uma ser humano inocente”. As declarações do D. José Cardoso Sobrinho foram corroboradas pelo chefe do departamento do Conselho Pontifício para a Família do vaticano, Gianfranco Grieco, que considerou a decisão do prelado “ a mais correcta”.

A gravidez de gémeos da criança de nove anos, que vivia numa pequena cidade a 200 quilómetros do Recife, capital de Pernambuco, foi descoberta em finais de Fevereiro. Depois de vários exames, gerou-se um consenso clínico: a criança, de 30 anos, não apresentava condições para sobreviver à gestação.

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