As linhas da liberdade
Até que se pudesse gritar "Vitória!" no Largo do Carmo, em Lisboa, as voltas e os caminhos que a Revolução tomou foram muitos. Uns previsíveis (e planeados), outros nem tanto. Quando se comemoraram os 25 anos do 25 de Abril, em 1999, o ex-jornalista do PÚBLICO Adelino Gomes (um dos repórteres de Abril) trabalhou num suplemento, onde para além de uma notável reconstituição dos factos dos dias quentes da Revolução se revelaram os soldados da coluna de Salgueiro Maia que derrubaram a ditadura.
Nessa altura, o PÚBLICO proporcionou o reencontro em Lisboa da maioria desses 240 militares, que fizeram parte da coluna que rumou a Lisboa para derrubar o regime. Fomos ao arquivo rever esse trabalho e demos-lhe outra vida em 2014, actualizando dados recentemente vindos a lume, outra vez pela mão de Adelino Gomes e agora também pela objectiva de Alfredo Cunha, um dos fotógrafos de Abril. É o caso da descoberta do cabo apontador que recusou "dar fogo" contra os tanques dos revoltosos na Rua do Arsenal. Chama-se José Alves Costa e foi um dos muitos protagonistas destas linhas da liberdade. Agora, em Abril de 2020, voltamos a rever e a actualizar esta página, para manter vivo este dia tão importante na história do país.
Dia 23
Dia 24
Dia 25
Dia 26
Dia 27
11h00
Chegada do mensageiro
Chegada a Santarém do capitão Candeias Valente, oficial do Movimento dos Capitães, portador da ordem de operações para a EPC. Candeias liga para casa do tenente Ribeiro Sardinha, a informar que já estava na cidade, na Pastelaria Bijou. Sardinha contacta, como combinado, Salgueiro Maia.
11h30
Na Pastelaria Bijou
O capitão Salgueiro Maia desloca-se à Pastelaria Bijou, no Largo do Seminário, em Santarém, para se encontrar com Candeias Valente para receber a ordem de operações.
11h45
PIDE vigia
Na viatura de Salgueiro Maia, estacionada no exterior da EPC, junto ao Jardim da República, é entregue a ordem de operações e são acertados alguns pormenores. Uma viatura da PIDE/DGS ronda a zona e segue o capitão à distância.
08h30
Contactos
Os oficiais da EPC iniciam nas paradas, no maior sigilo, os contactos com a cerca de meia centena de graduados, dando-lhes conta de que se a senha E Depois do Adeus, e a contra-senha Grândola, Vila Morena, fossem para o ar, a operação decorreria na madrugada do dia 25 de Abril - Dia D. Apenas seis oficiais milicianos e três furriéis milicianos estavam, até essa altura, ao corrente da preparação do golpe.
11h30
Consulta
Saída para Lisboa do comandante da EPC, coronel Augusto Laje, para ir a uma consulta médica.
13h30
Render da parada
Render da parada na EPC. Entra de oficial de dia à unidade, o tenente miliciano Sousa e Silva.
14h00
Sem missão
O tenente Ribeiro Sardinha, que tinha por missão "vigiar" o comandante da EPC, constata não poder vir a cumprir a missão, por ausência do vigiado.
17h00
Comando
Toca à ordem na EPC. Os tenentes Balula Cid, Ramos Cadete e Silva Aparício saem da EPC e dirigem-se ao RC7 e PM, em Lisboa, com a missão de "controlar" - "aliciar" alguns oficiais e tentar "inoperacionalizar" algumas viaturas blindadas destes regimentos.
17h30
Material
Os graduados milicianos da EPC ultimam os preparativos para a operação, designadamente quanto a material e equipamentos.
21h30
Desfardados
Fecho da porta de armas na EPC. Os militares contactados fazem a sua entrada trajando à civil, para não aguçar ainda mais a curiosidade dos elementos da PIDE/DGS.
21h45
Mudança
O tenente miliciano Sousa e Silva, oficial de dia à unidade, é substituído pelo capitão tirocinante Pedro Aguiar, para poder tomar parte na operação.
22h00
Ponto da situação
O capitão Salgueiro Maia, que irá comandar a coluna militar da EPC, na operação Fim Regime, dá início a um ponto da situação para dar a conhecer a ordem de operações, distribuir missões e definir detalhes para o desencadear da operação.
22h30
Segurança
É montada segurança reforçada à EPC, incluindo rondas.
22h50
Ansiedade
Nos quartos, preparam-se os rádios para sintonizar os Emissores Associados de Lisboa (EAL), onde, se tudo estiver a "correr bem", João Paulo Diniz irá pôr a tocar o E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, senha da operação Fim Regime.
22h55
Frenesim
Os EAL transmitem a canção E Depois do Adeus. É o frenesim. A senha significava que, até àquele momento, nada obstava ao avanço da operação em todo o país.
23h00
Substituição
No destacamento militar da EPC, onde funcionavam três esquadrões de instrução do CSM, o oficial de dia ao destacamento, alferes miliciano Óscar David, é substituído pelo capitão tirocinante Tavares Martins, para ficar liberto para tomar parte da operação.
23h25
Segundo-comandante
O capitão Garcia Correia chega à porta de armas da EPC, acompanhado do segundo-comandante, tenente-coronel Henrique Sanches, que nessa noite havia convidado para jantar em sua casa, para o aliciar para o Movimento, tarefa que se veio a revelar infrutífera. O segundo-comandante da EPC, ao constatar que o oficial de dia à unidade já não é o mesmo, dá ordens ao capitão Aguiar para que tire imediatamente o braçal. Não é obedecido. O episódio decorre sob o olhar do capitão Correia Bernardo, oficial da EPC do Movimento, que tinha mandado fazer a troca de oficiais de dia.
23h30
Reunião
O segundo-comandante da EPC convoca para o seu gabinete o major Costa Ferreira, o capitão Garcia Correia, o capitão Correia Bernardo, o capitão Pedro Aguiar, e o tenente Ribeiro Sardinha. O segundo-comandante tenta demover os presentes da acção a empreender. Os oficiais presentes reafirmam a sua determinação e informam o segundo-comandante que todos os oficiais presentes nessa noite na EPC aderiram ao Movimento. O segundo-comandante pede para esses oficiais irem ao seu gabinete.
23h55
À espera
Aguarda-se ansiosamente que a Rádio Renascença ponha no ar a contra-senha da operação.
00h05
Corte
Um corte de energia interrompe a emissão da Rádio Renascença.
00h10
Recomeço
Retomada a emissão normal na Rádio Renascença, emissora que iria emitir o sinal de arranque.
00h20
Senha
Leite de Vasconcelos põe no ar o Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, no programa Limite. A contra-senha era o sinal para se avançar para a execução da operação Fim Regime. Pela primeira vez, os contactos vão deixar de ser feitos clandestinamente.
00h30
Surpresa
Reunião do segundo-comandante com os oficiais da EPC aderentes ao Movimento, que enchem por completo o gabinete. O seu elevado número apanha de surpresa o segundo-comandante, que insiste em não querer aderir.
00h45
Tempo urge
O capitão Salgueiro Maia propõe que se acabe a reunião, pois ainda há muita coisa a fazer e não se pode perder mais tempo.
01h00
Novo comando
O major Rui Costa Ferreira, como oficial de patente mais elevada, pertencente ao Movimento, assume o comando da unidade.
01h15
Instruções
Os comandantes dos esquadrões de Atiradores, capitão Tavares de Almeida, e Reconhecimento Blindado, tenente Santos Silva, reúnem-se com os seus graduados.
01h30
Despertar
O capitão Salgueiro Maia manda acordar todo o pessoal da EPC e formar na parada Môngua.
01h45
Explicações
Os comandantes de cada esquadrão falam aos seus homens e explicam-lhes o que se está a passar; o capitão Salgueiro Maia, que comanda o Esquadrão Instrução, reúne-se no Anfiteatro General Ribeiro de Carvalho com os cadetes do Curso de Oficiais Milicianos e os instruendos do Curso de Sargentos Milicianos.
02h00
Adesão
Todos os militares, particularmente os milicianos em instrução, aderem ao Movimento e querem seguir para Lisboa. A dificuldade é que entre os cerca de 800 homens da EPC só podem ir perto de 240 na coluna.
03h00
Tudo pronto
A coluna militar da EPC está pronta para partir e dar início à Operação Fim Regime.
03h15
Da janela
O tenente-coronel Henrique Sanches, até então segundo-comandante da EPC, assiste, da janela do seu gabinete, na companhia do capitão Garcia Correia (encarregue de o vigiar) ao ultimar da preparação e à saída das tropas para Lisboa.
03h20
Sobre rodas
A força militar da Escola Prática de Cavalaria – dez viaturas blindadas, 12 viaturas de transporte de tropas, duas ambulâncias, um jipe (do comando) e uma viatura civil, com três oficiais milicianos, a abrir o caminho – arranca em direcção a Lisboa.
03h59
RTP tomada
Coluna comandada pelo Capitão Teófilo Bento entra na RTP, no Lumiar, ocupa as instalações depois de desarmar os guardas da PSP, e monta o dispositivo de defesa. Teófilo Bento comunica para o PC: "Acabamos de ocupar MÓNACO sem incidentes".
04h00
Aviso
PSP e DGS são avisados que devem retirar em torno da RTP, como não obedecem, é dada a ordem para efectuar rajadas de G3 para ao ar. A PSP retira.
04h30
Rádio Clube Português
Primeiro comunicado do MFA com leitura de Joaquim Furtado.
05h00
Em Lisboa
Após uma viagem sem problemas, a coluna da EPC passa na portagem da auto-estrada em Sacavém.
05h15
Semáforos
A coluna chega ao Campo Grande e pára nos semáforos do cruzamento da Cidade Universitária. O capitão Salgueiro Maia, irritado com o ridículo da situação, manda avançar e dá ordem para não haver mais paragens até ao Terreiro do Paço.
05h30
Polícia de choque
No cruzamento da Av. Fontes Pereira de Melo com a Avenida António Augusto de Aguiar, os militares EPC deparam-se com uma força da polícia de choque que se afasta à passagem da coluna militar.
05h45
No Terreiro do Paço
A coluna ocupa o Terreiro do Paço, local onde se encontram tropas da Polícia Militar a guardar os vários ministérios ali instalados.
06h00
Em posição
Os militares da EPC cercam os ministérios, a Câmara Municipal de Lisboa o Governo Civil (acessos), o Banco de Portugal, a Rádio Marconi e outros pontos estratégicos da Baixa lisboeta, isolando a zona. Através da rede rádio, é comunicado por "maior de Charlie Oito [Salgueiro Maia]" ao Posto de Comando: "Ocupámos Toledo [Terreiro do Paço] e controlamos Bruxelas e Viena [Banco de Portugal e Rádio Marconi]."
06h20
Adversários
Chega ao Terreiro do Paço um pelotão reforçado AML/Chaimite, do Regimento de Cavalaria 7, comandado pelo alferes miliciano David e Silva.
06h30
Rendição
David e Silva, após breve conversa com o capitão Salgueiro Maia, coloca a sua força às ordens do Movimento.
06h45
Marcelo
Por volta desta hora sabe-se no Posto de Comando da Pontinha que Marcelo Caetano se encontra refugiado no Quartel do Carmo, onde funciona o Comando Geral da Guarda Nacional Republicana.
06h45
Uma calma aparente
07h00
Rendições
Os oficiais da Polícia Militar que se encontram no Terreiro do Paço põem-se às ordens do capitão Salgueiro Maia. O comandante da 1.ª Divisão da PSP, o tristemente célebre capitão Maltez, também se colocou às ordens de Maia, recebendo instruções para orientar e desviar o trânsito para o Rossio e montar o dispositivo de alteração de tráfego em toda a Baixa lisboeta.
07h30
Mais adversários
Chega à Ribeira das Naus uma força de Reconhecimento Panhard, do Regimento de Cavalaria 7, comandada pelo tenente-coronel Ferrand de Almeida.
08h00
Mais rendições
Rendição do tenente-coronel Ferrand de Almeida, que não se consegue fazer obedecer pelos seus subordinados. Após breves conversações, é preso e desarmado por Salgueiro Maia.
08h15
GNR tenta
Uma força da GNR (do Quartel do Carmo) toma posição no Campo das Cebolas. A tentativa é envolver as forças da EPC a partir daquele ponto. Saíram do Carmo 12 Land Rover que desceram até à Praça da Figueira e atingiram o seu objectivo através da Rua da Madalena.
08h20
GNR desiste
Os GNR tentam uma penetração até ao Terreiro do Paço, pela Rua da Alfândega, mas, após um breve diálogo com Salgueiro Maia, o comandante da força é convencido a abandonar o local, pois a disparidade de meios não lhe dá qualquer hipótese.
08h30
PSP
Uma força da PSP chega ao Terreiro do Paço, vinda de Santa Apolónia. Também não tenta sequer entrar em confronto com as tropas de Salgueiro Maia.
09h00
Fragata ameaça
A fragata Gago Coutinho é deslocada para o local por ordem do Governo, e inicia manobras em frente ao Terreiro do Paço. O vaso de guerra terá chegado a receber ordem do vice-chefe do Estado-Maior da Armada "para se preparar para abrir fogo". A ordem de disparar nunca chegou.
09h15
Reforço
Uma força da EPC, com uma AML e uma ETI/Panhard, comandadas pelo alferes Sequeira Marcelino e pelo aspirante Pedro Ricciardi, vão reforçar o cerco ao Quartel-General da Região Militar de Lisboa, em São Sebastião da Pedreira.
09h35
Chegam M47
Chegam à zona do Terreiro do Paço quatro carros de combate M47, sob o comando do brigadeiro Junqueira dos Reis. A partir do Largo do Corpo Santo, dois M47 entram pela Ribeira das Naus e outros dois pela Rua do Arsenal.
09h40
Ministros fogem
Os ministros da Defesa, da Informação e Turismo, do Exército, da Marinha, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, o governador militar de Lisboa, o subsecretário de Estado do Exército e o almirante Henrique Tenreiro fogem pelas traseiras do Ministério do Exército, mandando abrir um buraco na parede, que dá para a biblioteca do ministério da Marinha. Entram numa viatura protegidos por um dos M47. A carrinha leva-os para o Regimento de Lanceiros 2, onde instalam o Posto de Comando das tropas leais ao Governo.
09h45
Precauções
Salgueiro Maia, com a chegada dos carros de combate de Cavalaria 7, ordena ao tenente miliciano Sousa Silva que mande colocar todas as viaturas de transporte da EPC viradas para Santa Apolónia, para precaver a hipótese de uma eventual retirada para Santarém.
10h00
Desobediência
Na Ribeira das Naus, o alferes miliciano Fernando Sottomayor desobedece às ordens do brigadeiro Junqueira dos Reis e não faz fogo contra as tropas da EPC, nem sobre Salgueiro Maia, que se encontrava entre a esquina do Ministério do Exército e o muro para o rio Tejo, pedindo que alguém viesse até meio caminho para falar. Sottomayor recebe ordem de prisão do brigadeiro.
10h05
Mais desobediência
Junqueira dos Reis ordena ao cabo apontador José Alves Costa que abra fogo. Este diz: "Vou ver se consigo, mas eu não sei..." O brigadeiro responde: "Ou dá fogo, ou meto-lhe um tiro na cabeça!" O cabo fecha-se dentro do carro de combate e não volta a sair. Junqueira dos Reis dirige-se para a Rua do Arsenal. Ordena aos cabos que abram fogo, mas estes também recusam fazê-lo.
10h10
Coordenador
Chega ao Terreiro do Paço o tenente-coronel Correia de Campos, enviado do Posto de Comando da Pontinha, com a missão de coordenar as operações.
10h15
Revista
Um grupo de comandos, que integrava Correia de Campos e o major Jaime Neves, passa revista ao Ministério do Exército e confirma a fuga dos ministros que tinha por missão prender. Dão voz de prisão ao chefe de gabinete do ministro do Exército e ao chefe de gabinete do subsecretário de Estado.
10h20
Negociação
O capitão Tavares de Almeida, o major Jaime Neves e os alferes milicianos Maia Loureiro e David e Silva negoceiam a rendição do major Pato Anselmo, na Ribeira das Naus.
10h30
Mais rendição
Rendição do major Pato Anselmo, do Regimento de Cavalaria 7. Os dois carros de combate ficam sob o controlo das forças de Salgueiro Maia, permanecendo no local.
10h30
Mais negociação
Na Rua do Arsenal, entretanto, os tenentes Alfredo Assunção e Santos Silva, da EPC, e o furriel J. Nunes, do RC7, tentam negociar com o brigadeiro Junqueira dos Reis e com o coronel Romeiras Júnior, comandante do Regimento de Cavalaria 7.
10h40
Ordem de fogo
O brigadeiro Junqueira dos Reis, como já havia feito na Ribeira das Naus, manda abrir fogo sobre o tenente Alfredo Assunção. Volta a não ser obedecido pelos militares, devido a interferência directa do coronel Romeiras Júnior.
10h50
Três murros
O brigadeiro Junqueira dos Reis, já em desespero, dá três murros no tenente Alfredo Assunção, que se perfila, faz continência e regressa para junto das suas tropas.
11h00
Desistência
O brigadeiro Junqueira dos Reis, incapaz de se fazer obedecer, mantém os carros de combate no local, não tomando, naquela altura, mais nenhuma iniciativa.
11h30
Para o Carmo
O capitão Salgueiro Maia recebe ordens do Posto de Comando da Pontinha para avançar para o Quartel do Carmo, onde se encontram o presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, o ministro dos Negócios Estrangeiros e o ministro da Informação e Turismo. Junqueira dos Reis e Romeiras Júnior ficam sozinhos na Rua do Arsenal.
11h45
No meio do povo
A coluna da Escola Prática de Cavalaria avança para o Largo do Carmo, pela Rua Augusta, Rossio e Rua do Carmo. Forças do Regimento de Cavalaria 7, Regimento de Lanceiros 2 e do Regimento de Infantaria 1, que, entretanto, tinham aderido ao Movimento, avançam para o Quartel-General da Legião Portuguesa, na Penha de França.
11h50
Prisioneiros
Os oficiais feitos prisioneiros no Terreiro do Paço (Ferrand d'Almeida, Pato Anselmo. Álvaro Fontoura. etc.) são conduzidos em viaturas civis para a Pontinha.
12h00
Mais desistências
No Rossio, uma companhia de atiradores do Regimento de Infantaria 1 da Amadora tenta barrar o caminho para o Quartel do Carmo à coluna da EPC. Salgueiro Maia dialoga com o comandante destas tropas, que se põem ao lado dos militares da EPC.
12h15
Festa
Envolvida por uma enorme multidão, a coluna militar da EPC sobe o Chiado, pela Rua do Carmo.
12h30
Cerco
O capitão Salgueiro Maia e os seus homens cercam o Quartel do Carmo.
12h30
Pressa
O Posto de Comando da Pontinha solicita a Salgueiro Maia que derrube a porta de armas com um dos seus blindados ou que abra fogo de metralhadora para o abrir. O objectivo era o de apressar a rendição de Marcelo Caetano.
12h45
Víveres
A população distribui comida, leite e cigarros pelos militares presentes no Largo do Carmo.
13h00
De novo ao ataque
O brigadeiro Junqueira dos Reis volta ao ataque. Agora, não só com um dos carros de combate da Rua do Arsenal, mas também com efectivos da GNR, Polícia de Choque e uma companhia do Regimento de Infantaria 1, tentando o envolvimento às forças do capitão Salgueiro Maia, no Carmo.
13h30
Ameaça
Um helicanhão sobrevoa o Largo do Carmo, causando grande ansiedade entre militares e civis.
13h45
Primeiro ultimato
É dado o primeiro ultimato aos ocupantes do Quartel do Carmo pelo capitão Salgueiro Maia através de megafone, que têm até às 14h00 para se renderem.
14h00
Mais desistências
Uma segunda companhia do Regimento de Infantaria 1, das forças do brigadeiro Junqueira dos Reis, passa para o lado de Salgueiro Maia, pondo as armas em bandoleira.
14h30
Mais cerco
Um esquadrão do Regimento de Cavalaria de Estremoz, comandado pelo capitão Andrade de Moura, coadjuvado pelo capitão Alberto Ferreira, cerca as tropas às ordens do brigadeiro Junqueira dos Reis.
15h00
Ordem
O capitão Rosado da Luz entrega a Salgueiro Maia uma ordem por escrito do PC do MFA, na Pontinha, assinada pelo major Otelo Saraiva de Carvalho: através de megafone, deveria fazer um ultimato aos ocupantes do Quartel do Carmo para se renderem e rebentar, a seguir, os portões com uma autometralhadora "para verem que é a sério!".
15h15
Dez minutos
O capitão Salgueiro Maia informa os ocupantes do Quartel do Carmo, através de megafone, que têm dez minutos para se renderem. Caso contrário mandará abrir fogo.
15h30
Rajada
Salgueiro Maia dá ordens ao tenente Santos Silva para ser feita uma rajada da torre da autometralhadora Chaimite "Bula".
15h45
Mais negociações
Abre-se o portão do Quartel do Carmo e sai lá dentro o major Belico Velasco para falar com o capitão Salgueiro Maia.
16h00
Diálogo
O coronel Abrantes da Silva, a pedido de Salgueiro Maia, entra no Quartel do Carmo para dialogar com os sitiados.
16h15
Mais rajadas
Salgueiro Maia dá ordens ao alferes miliciano Carlos Beato para instalar os seus homens no cimo das varandas do edifício da Companhia de Seguros Império e fazer fogo sobre a frontaria do Carmo. Agora com armas automáticas G-3.
16h25
PIDE mata
Elementos da PIDE/DGS abrem fogo sobre a multidão, de dentro da sua sede, na Rua António Maria Cardoso, fazendo quatro mortos e vários feridos. As vítimas seguem para o Hospital Militar da Estrela.
16h25
Voz de tiro
O comandante da força da EPC, na ausência de resposta por parte dos sitiados no Quartel do Carmo, ordena a colocação de um blindado em posição de tiro. "Um. Dois..." É interrompido pelo tenente Alfredo Assunção, que conduz dois civis até junto dele: Pedro Feytor Pinto, director dos Serviços de Informação da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, e Nuno Távora, secretário do secretário de Estado da Informação e Turismo, que se dizem portadores de uma mensagem do general Spínola para Marcelo Caetano.
16h30
Mensageiros
Salgueiro Maia autoriza a entrada no Quartel do Carmo de dois mensageiros do general António de Spinola, Nuno Távora e Feytor Pinto, para dialogarem com Marcelo Caetano.
16h45
Desencontro
Os dois mensageiros saem do Quartel do Carmo e, acompanhados do tenente Alfredo Assunção, deslocam-se no jipe do capitão Salgueiro Maia para casa do general António de Spinola. Nunca ali chegaram por, entretanto, Spínola já ir a caminho do Carmo.
17h00
Com Marcelo
O capitão Salgueiro Maia entra no Quartel do Carmo. Após uma curta conversa com o general Adriano Pires (comandante-general da GNR), é conduzido por Coutinho Lanhoso até Marcelo Caetano. Após algumas perguntas sobre quem está por detrás do golpe e qual o destino que os revolucionários pretendem dar às colónias, Marcelo informa-o de que aceita abandonar o poder e pede que a respectiva transmissão seja feita a um oficial-general – a Spínola.
17h15
Hino
A multidão presente no Largo do Carmo canta o hino nacional, enquanto o capitão Salgueiro Maia abandona o interior do Quartel do Carmo. Sensivelmente a essa hora, António de Spínola era mandatado pelo Movimento a ir ao Carmo receber o poder de Marcelo Caetano.
17h45
Spínola chega
O general António de Spínola chega ao Largo do Carmo, acompanhado pelo tenente-coronel Dias de Lima. Após longos minutos envolvido pela multidão, o Peugeot de Spínola consegue, finalmente, chegar junto da porta de armas do quartel.
18h00
Spínola dialoga
António Spínola, acompanhado por Salgueiro Maia (que o informa sobre o modo como os membros do Governo serão retirados das instalações), entra no Quartel do Carmo para dialogar com Marcelo Caetano.
18h15
Spínola informa
Spínola encontra-se a sós com Marcelo e informa-o dos procedimentos que serão adoptados para a sua retirada do local e da sua evacuação posterior para a Madeira. Salgueiro Maia pede, através de um megafone, que a população abandone o Largo do Carmo de forma a promover a saída em segurança do presidente do Conselho de Ministros e dos seus ministros. O apelo é completamente ignorado.
18h20
Apelos à calma
Salgueiro Maia solicita, de novo, a Francisco Sousa Tavares que apele ao povo para que deixe a praça. Sousa Tavares sobe para cima da guarita da GNR e usando o megafone de Maia, discursa à multidão.
18h25
Cordão
O comandante da força militar ordena que os seus soldados façam um cordão para que seja possível retirar Marcelo do interior do quartel.
18h30
"Bula" manobra
A autometralhadora Chaimite, de nome "Bula", entra, de marcha atrás, no Quartel do Carmo, para transportar os membros do Governo para o Posto de Comando do MFA, na Pontinha.
19h00
Marcelo na Chaimite
Marcelo Caetano e os outros membros do Governo (César Moreira Baptista e Rui Patrício) entram na Chaimite "Bula", que os transportará à Pontinha.
19h30
Cerco levantado
Salgueiro Maia levanta o cerco ao Quartel do Carmo e segue com o general Spínola para o Posto de Comando da Pontinha. No local ficam apenas as forças do Regimento de Infantaria 1, a que se junta depois um esquadrão de blindados.
20h00
Para a Pontinha
A coluna da EPC, transportando Marcelo Caetano, sobe a Avenida da Liberdade, no meio de uma enorme multidão, que dificulta o andamento.
20h30
A caminho
A coluna de Salgueiro Maia atinge o Campo Grande, sempre no meio de contínuas manifestações populares.
21h00
No PC
A Chaimite "Bula" e a coluna da Escola Prática de Cavalaria que transporta os membros do Governo chegam ao Regimento de Engenharia, na Pontinha, onde está instalado o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.
21h30
Jantar
A coluna militar da EPC instala-se no Colégio Militar, onde é servida uma refeição quente – almôndegas com massa.
22h30
Novo objectivo
O major Monge, o capitão Salgueiro Maia e os tenentes Alfredo Assunção e Santos Silva dirigem-se, com as viaturas blindadas, para a Calçada da Ajuda, para obterem a rendição dos regimentos de Cavalaria 7 e Lanceiros 2.
23h30
Rendição do RC7
Chegada aos regimentos de Cavalaria 7 e de Lanceiros 2. Os coronéis comandantes das duas unidades não oferecem qualquer resistência, rendendo-se aos seus adversários da manhã. Salgueiro Maia e os seus homens (esquadrão de Reconhecimento) ocupam a Cavalaria 7.
00h30
Escolta
Partida das forças da EPC para a RTP, escoltando a Junta de Salvação Nacional.
01h00
Mais prisões
Prisão dos comandantes do Regimento de Cavalaria 7, coronel Romeiras Júnior, e de Lanceiros 2, coronel Pinto Bessa.
01h20
Comunicado
Comunicado da proclamação da Junta de Salvação Nacional na RTP (Lumiar).
01h30
Instalação
As forças que acompanham o capitão Salgueiro Maia à Calçada da Ajuda instalam-se no Regimento de Cavalaria 7, para pernoitar.
02h00
Regresso da RTP
As forças da EPC que fizeram a escolta à RTP regressam ao Colégio Militar.
03h00
Segurança
O esquadrão de Atiradores da EPC, sob o comando do capitão Tavares de Almeida, monta segurança ao Posto de Comando do MFA, na Pontinha.
05h00
Cerco à PIDE
Viaturas blindadas do esquadrão de Reconhecimento da EPC, sob o comando do tenente Santos Silva, avançam para o cerco à PIDE/DGS.
07h00
Problema resolvido
As forças do tenente Santos Silva regressam do cerco à PIDE/DGS.
07h30
Ordem de regresso
O capitão Tavares de Almeida recebe ordens para regressar a Santarém, com o esquadrão de Atiradores.
08h00
Para casa
O capitão Tavares de Almeida, comandando o esquadrão de Atiradores de Cavalaria, inicia o regresso à Escola Prática de Cavalaria, em Santarém.
10h30
Apoteose
Chegada a Santarém do esquadrão de Tavares de Almeida, que é recebido apoteoticamente pela população.
11h30
De volta
Os homens do capitão Tavares de Almeida dão entrada na EPC.
12h00
Felicitações
O esquadrão do capitão Tavares de Almeida é recebido e felicitado pelo comando interino da EPC – major Costa Ferreira, capitão Garcia Correia e capitão Correia Bernardo.
13h00
Escolta
O tenente Santos Silva, ainda em Lisboa, recebe ordens para escoltar até Santarém o comandante da Região Militar de Tomar, coronel Francisco Morais, utilizando para o efeito duas viaturas blindadas.
14h00
Patrulha
Tropas da EPC, sob o comando do capitão Salgueiro Maia, patrulham as ruas de Lisboa.
15h00
Recolha dos arquivos
As forças de Salgueiro Maia fazem escolta à recolha dos arquivos da PIDE/DGS.
20h00
Maia regressa
O capitão Salgueiro Maia, comandando três EBR-Panhard e uma ETT-Panhard, inicia com os seus militares o regresso a Santarém.
22h00
Ruas desertas
Chegada das tropas a Santarém, onde as ruas estão desertas, por desconhecimento do regresso dos militares.
22h15
Operação acabada
O portão Chaimite volta a abrir-se, desta vez para o regresso do capitão Salgueiro Maia à Escola Prática de Cavalaria.
Ficha Técnica
- Jornalista
- Adelino Gomes
- Infografia
- Célia Rodrigues e José Alves (esquematização)
- Webdesign
- Dinis Correia
- Fotografia
- Alfredo Cunha
- Edição
- Sérgio B. Gomes e Vera Moutinho
- Coordenação
- Joaquim Guerreiro
- Digitalização
- Bruno Esteves
- Registos sonoros e vídeográficos
- Arquivo RTP, Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, Associação 25 de Abril. Excertos do disco "Diário da Revolução/1974": reportagem de Pedro Laranjeira e Adelino Gomes; Paulo Coelho (repórter de apoio); Barbara Skolimowska (logística no terreno); Sassetti (edição em disco, Maio 1974).